Elena Radionova conquistou os
corações de muitos fãs de patinagem artística quando ainda estava no escalão
júnior. Depois de uma excelente transição para os seniores, onde venceu várias
medalhas, Elena ficou de fora da selecção nacional russa para os europeus e
mundiais da temporada passada. Elena está determinada em volta aos maiores
palcos internacionais em grande nível e quer segurar um lugar na equipa russa
para os próximos Jogos Olímpicos de Inverno. Entretanto, Elena concedeu uma
entrevista à conceituada jornalista Elena Vaytsekhovskaya. Podem ler a tradução
em baixo e consultar o link original aqui: http://www.sport-express.ru/se-velena/reviews/elena-radionova-menya-osuzhdayut-za-smenu-trenera-ya-gotova-k-etomu-1294133/
Tradução de
entrevista
Pergunta:
Como é que é ter subido tão alto em 2015 para depois seres descartada um ano
depois?
Elena –
Quase todos os patinadores passam por fases más. Então eu não fui descartada.
Acho que foi uma hipótese para pensar e reconsiderar algumas coisas. Para
perceber o que eu fiz de errado.
Pergunta: Tu
habituaste toda a gente a seres capaz de competir; tu estavas sempre por cima
das situações mesmo se tivesses patinado no limite. O que é que mudou? Quando é
que apareceu a sensação de que as coisas estavam a correr mal?
Elena – Acho
que desde o início da temporada. Eu tive lesões, depois fiquei doente e cheguei
aos testes* sem estar preparada. Eu tentei ficar em forma durante a época mas
não consegui. Eu compreendi que não tive a preparação que necessitava e estava
a faltar o contacto habitual com a treinadora. Cada uma destas coisas em
separado não foi nada de mais mas tudo junto levou a isso.
*referência à semana de testes na Rússia em
que os patinadores apresentam os seus programas e elementos novos aos
responsáveis da federação.
Pergunta: O
Sergei Voronov e posteriormente o Maxim Kovtun juntaram-se ao grupo e a tua
treinadora teve de dividir a atenção dela – quanto é que isso influenciou?
Elena – Eu
tive excelentes treinos com o Maxim e o Sergei. Eu estive sempre focada em mim
mesma então os rapazes apenas me motivavam.
Pergunta: Os
parceiros de treino têm outro lado; durante muitos anos tu foste a única
patinadora da tua treinadora e de repente passaste a ser apenas mais uma
atleta, provavelmente nem sequer a principal atleta. Penso que isso não foi
agradável de perceber?
Elena – Nessa
altura eu recebi muita ajuda da Tatiana Tarasova. Então eu não me senti
excluída.
Pergunta: Ela
aconselhou-te a mudar de treinadora?
Elena – Não.
A ideia foi minha.
Pergunta:
Durante os campeonatos nacionais russos em Dezembro, passou-te pela cabeça que
não conseguirias chegar à selecção?
Elena – Eu
nem sequer estava a pensar na classificação; Eu apenas pensei em patinar ambos
os meus programas de forma limpa. Mentalmente eu estava preparada. No geral eu
apenas cometi um erro – um toque no gelo na recepção no triplo loop. Não foi
uma falha terrível mas fiquei em quinto lugar. Talvez outra pessoa ficasse
muito chateada. Eu convenci-me que eu apenas tinha de continuar. Sim, eu perdi.
Acontece. É desporto.
Pergunta:
Foi difícil não desistir sabendo que irias aos europeus nem aos mundiais?
Elena –
Claro. Todos queremos vencer e cada derrota é dura. Eu obriguei-me a pensar nos
Jogos Universitários; que eu tinha de patinar bem aí para ter uma hipótese de
participar no WTT (World Team Trophy).
Eu ganhei essa hipótese. Então eu não posso dizer que perdi os campeonatos
nacionais e que a época acabou. Foi o oposto – aquela derrota fez-me ficar mais
concentrada. Essa foram as coisas positivas dessa situação. No tempo que eu
tive, eu pude analisar o que aconteceu e o que eu precisava fazer para melhorar
e trabalhar nos erros que eu cometi.
Pergunta:
Esses erros foram culpa tua? Ou foram as circunstâncias?
Elena –
Claro que foram culpa minha.
Pergunta: O
quê?
Elena – Não
estou disposta a falar sobre isso agora. É suficiente que saiba as razões e que
trabalhe nelas.
Pergunta: A
(Shae-Lynn) Bourne coreografou o teu
programa curto da temporada passada e depois toda a gente começou a dizer que
ela 100% a tua coreógrafa. Esta é a razão pela qual foste trabalhar com ela
outra vez?
Elena – Eu
amei o programa e como foi recebido então eu decidi que na temporada seguinte
eu iria trabalhar com a Shae-Lynn em pelo menos mais um programa.
Pergunta: Não
estavas a planear manter esse programa curto por mais uma temporada?
Elena – Não
é que eu estivesse a planear isso mas realmente gostaria de mantê-lo. Quando eu
comecei a trabalhar com a Buyanova, de repente, ela disse que adoraria manter o
programa por mais uma época, então nós chegámos a um acordo. Daí surgiu a ideia
que a Shae-Lynn também coreografasse o programa livre. Eu adoro o estilo dela e
nós temos um bom entendimento quando trabalhamos no gelo.
Pergunta: O
que é que gostas mais quando trabalhas com a (Shae-Lynn) Bourne?
Elena – A
Shae-Lynn tem o seu próprio estilo de patinagem que é muito da América do
Norte. É diferente do nosso. Existem muitos pequenos detalhes que tu tens de
efectuar com as pernas e os canadianos certificam-se sempre que cada movimento
seja integrado na música.
Pergunta: É
difícil?
Elena –
Podes ter a certeza. O programa começa a brilhar quando acertas mesmo nos
acentos da música. Para isso é preciso ouvir a música, sentir o tempo e tudo
entra em piloto automático. Outra coisa que eu adoro no trabalho da Shae-Lynn é
que todos os programas dela são muito diferentes. Ela consegue sempre trazer
alguma coisa nova. Se seguires o trabalho de alguns coreógrafos, tu podes
encontrar os mesmos passos e figuras que são repetidos noutros programas. A
Shae-Lynn tem trazido coisas novas. Coisas diferentes dos outros.
Pergunta: A
Tarasova disse uma vez que não faz mal manter o mesmo plano de elementos nos
programas; quase todos os patinadores fazem isso.
Elena – Isso
não é interessante. Olha para a Ashley Wagner – os programas dela são tão
diferentes e, além disso, eu penso que a patinagem artística tem sobretudo a
ver com o deslizar e expressar emoções. Claro que os saltos são importantes mas
o público vem primeiramente ver-nos a patinar.
Pergunta: Tu
mudaste de treinadora e de sistema. O que é que sentes sobre isso?
Elena –
Francamente às vezes é difícil. O horário não é assim tão diferente mas há muito
mais trabalho no deslizar e nos programas. Eu aprendo a patinar focada em cada
movimento. Já não há apenas a passagem de um salto para o outro.
Pergunta:
Era o que acontecia anteriormente?
Elena – Era
como se eu estivesse mais focada apenas nos saltos. Agora as entradas exigem
mais tempo e esforço do que o salto. É muito trabalho em cada movimento, em
cada passo.
Pergunta:
Provavelmente seria mais fácil se ainda não tivesses títulos.
Elena – O
que é que queres dizer com isso?
Pergunta:
Que alguém com experiência e com títulos tem mais dificuldade em admitir que
não sabe alguma coisa ou demonstrar que não consegue fazer alguma coisa…
Elena – Pelo
contrário. Eu vim aqui para aprender então eu escuto cada palavra. Há muitos
especialistas que trabalham comigo e eu aprendo com cada um deles. É óptimo!
Pergunta: Os
teus parentes tentaram fazer-te mudar de ideias quanto à mudança de treinadora?
Elena – Não.
Pergunta:
Seguramente que discutiste o assunto com alguém.
Elena – Os
meus pais sabiam que eu tinha essa ideia em mente. Eu e a minha mãe somos muito
próximas; ela sempre teve uma grande presença na minha vida e ela sabia dos
meus problemas e hesitações. Então, quando eu disse em casa que tinha tomado
uma decisão, os meus parentes aceitaram-na. Isto ainda é um assunto difícil. Eu
sou grata à Nina Germanovna por tudo o que ela fez por mim mas às vezes
chega-se a um ponto sem retorno. Já não há o entendimento que costumava
existir, algo já não funciona, o trabalho já não é satisfatório, já não há
alegria e tudo o que parecia tão certo na tua vida se desvanece. Eu percebi o
quanto eu devo à minha treinadora, o tempo que ela investiu em mim com o seu
conhecimento, o seu amor e a sua alma. Mas o sentimento de ponto sem retorno
prevaleceu.
Pergunta:
Ficaste preocupada com o que iria ser dito sobre a mudança?
Elena – Na
patinagem artística percebes muito cedo que existem pessoas que simplesmente
gostam de ti e outras pessoas a quem tu irritas. Claro que eu sabia que as
pessoas me iam julgar e estava preparada. Afinal de contas todos temos direito
a ter uma opinião.
Pergunta: Tu
já te tinhas ajustado com treinares apenas junto de patinadores homens. Quão
confortável é que estás com a garota? A Maria Sotskova treina contigo na mesma
pista.
Elena – Nós
raramente passamos tempo juntas no gelo. Até agora tem corrido tudo bem.
Pergunta: A
Maria irrita-te?
Elena – Não
de todo. Eu simplesmente não tenho tempo para olhar à volta. Tenho tanta
informação para digerir. Como se eu agora precisasse de lutar pela atenção da
treinadora… Eu tenho um plano sobre o que necessito fazer e isso é o mais
importante.
Pergunta:
Estás a planear tornar os programas mais complexos?
Elena –
Vamos apenas dizer que tenho coisas a discutir com a treinadora. Para já
estamos a tratar de pequenas correcções. O grau de dificuldade actual é
suficiente para mim.
Pergunta: As
palavras “temporada olímpica” têm um significado especial para ti?
Elena –
Francamente não. Eu não quero pensar sobre isso com muita antecedência. Eu
tenho de trabalhar. Depois logo se vê.
Pergunta: Se
tivesses a possibilidade de escolher as tuas provas do circuito do Grande
Prémio, quais é que escolherias?
Elena –
Russia e China – precisamente os que eu recebi. Eu patinei o grande prémio da
China nas duas últimas temporadas e sou amada lá; É o país onde eu venci a
minha primeira medalha num mundial e adoro patinar lá. E casa é casa. Eu adoro
patinar para o público russo. O timing também é excelente: a Taça Rostelecom (Rússia) é a primeira e a Taça da China é
a terceira, e, se tudo correr bem, eu terei tempo suficiente para me preparar
para as próximas competições.
Pergunta:
Quando olhei para as inscrições e vi que na primeira prova ias competir com a
campeã mundial Evgenia Medvedeva, eu recordei-me de 2015 quando competiste com
a Tuktamysheva. Tu não cometeste erros na final do Grande Prémio e nos Europeus
mas nessas duas vezes ficaste atrás dela, nos Europeus por uma margem de apenas
0.86. Como é que te sentiste nessa altura?
Elena –
Claro que eu fiquei muito chateada. Mas eu era uma criança que queria mesmo
ganhar só que perdi. Agora eu vejo as coisas de maneira diferente. Foi a minha
primeira temporada sénior, primeiros europeus e mundiais, e eu penso que estive
bem para uma estreante. Sim, podia ter vencido os Europeus e ficado com o
título mas do que é que vale estar a falar nisso agora? Se calhar as coisas
tinham de acontecer assim.
Pergunta:
Alguma vez te cansas da patinagem artística?
Elena – Não.
Eu amo patinar, é a minha vida e como é que te podes cansar da vida? Além disso
eu tenho outras coisas. Como por exemplo os estudos. Eu sou estudante externa.
Pergunta: É
muito exigente e requer auto-disciplina.
Elena – Não
tenho problemas com isso. Quando sei o que tenho de fazer, faço-o. Na escola
era a mesma coisa. Eu estudava entre os treinos, tinha professores privados à
noite e trabalhava nas matérias escolares e em inglês. Foi difícil mas fiz os
meus exames sem problemas. Eu sei que sou eu que preciso disto.
Pergunta:
Quando trabalhas com a Shae-Lynn, vocês falam em inglês?
Elena – Sim.
Inicialmente, eu estava tensa mas depois fiquei mais confortável e comecei a
falar. Eu percebi que tinha de praticar independentemente do que fizesse.
Depois as coisas vão provavelmente funcionar.
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