O jovem par russo composto por Evgenia Tarasova e Vladimir
Morozov tem demonstrado uma evolução sólida no circuito internacional. Na
temporada 2016/2017 sagraram-se campeões da Europa e venceram a final do grande
prémio. Nos mundiais seguraram a medalha de bronze apesar de terem sofrido
vários percalços nomeadamente um corte na perna de Evgenia que a impediu de
estar ao seu melhor nível. Nas vésperas de iniciarem a época 2017/2018, Evgenia
e Vladimir concederam uma entrevista à jornalista Ekaterina Chervniavskaya. O
link original pode ser consultado aqui: http://www.sport-express.ru/figure-skating/reviews/evgeniya-tarasova-i-vladimir-morozov-uprekat-partnera-za-oshibki-neprofessionalno-1297107/
Tradução de entrevista
Pergunta: Tiveram a oportunidade de celebrar a vossa
liderança na lista das pontuações da ISU?
Vladimir – Os fãs e os amigos enviaram-nos os “screenshots”; claro que foi agradável
mas não é nada de mais.
Pergunta: Como é que está a decorrer a preparação dos dois
novos programas?
Vladimir – Nós temos dois novos programas interessantes. Nós
gostamos deles e a federação também. Nós temos esperança que eles resultem. O
programa curto é clássico e digamos que o programa livre é feliz e alegre. Nós
ainda não vamos revelar as músicas e vamos esperar pelos testes em Setembro.
Pergunta: O coreógrafo foi o Peter Tchernyshev?
Vladimir – Sim. Este ano ele coreografou ambos os programas.
Na temporada passada, nós tentámos o programa curto com ele e resultou bem
portanto nós decidimos trabalhar com ele nos dois programas deste ano.
Pergunta: Os fatos estão prontos?
Evgenia – Não, nós ainda estamos a pensar e a ver os
desenhos. De momento, só temos uma vaga ideia de como eles vão ser.
Pergunta: Na temporada passada vocês tiveram de mudar os
fatos do programa livre.
Evgenia – Sim, a primeira versão não foi bem sucedida e
disseram-nos para mudar. Nós também não gostámos muito da segunda versão mas
não havia tempo ou oportunidade para fazer novos fatos.
Pergunta: Tu tens fatos favoritos?
Evgenia – O do programa curto da época passada. Eu também
amei o fato preto que usei no programa tango nos juniores e o fato cor de
pêssego no programa livre de juniores. Esses programas foram coreografados por
Maxim Trankov.
Vladimir – Os fatos do programa irlandês do ano passado eram
fixes mas, no geral, todos os fatos foram bons.
Pergunta: Vocês planeiam acrescentar mais elementos
complexos esta temporada?
Vladimir – Os saltos e os saltos lançados serão os mesmos;
nós estamos a trabalhar nos elementos mais fáceis como os peões.
Pergunta: Por exemplo, não vão tentar um quádruplo lançado?
Evgenia – Um quádruplo twist – sim; um lançado – não.
Pergunta: O que é que tens a dizer àqueles que afirmam que o
quádruplo twist é inútil: que um triplo twist bem realizado garante mais
pontos?
Evgenia – Um elemento desses diz algo sobre o nível do par.
É mais complicado e custa mais. O resto depende de como nós o vamos efectuar.
Nós vamos tentar o nosso melhor para fazê-lo de forma limpa.
Vladimir – Muitas vezes tudo depende da execução então, em
algumas ocasiões, nós não conseguimos pontos adicionais. Mas se apenas fizermos
o quádruplo twist nos treinos, irá demorar mais tempo a integrá-lo no programa.
Pergunta: Foi doloroso ouvir que o vosso programa livre era
muito pior que o dos vossos adversários?
Evgenia – É apenas uma critica que temos de levar em
consideração e não repetir esses erros no futuro.
Foram colocadas várias questões sobre este programa
Pergunta: Vocês não sentiram isso quando o programa estava a
ser coreografado?
Evgenia – Este programa tem cá uma história! Inicialmente,
nós tínhamos uma peça musical mas depois a federação viu-o e decidiu que a
música era errada. Em resultado, nós tivemos de mudá-la e tudo ficou muito
caótico.
Pergunta: Em que momento é que a federação avalia os
programas? E há tempo suficiente para fazer mudanças depois disso?
Evgenia – Os nossos programas foram avaliados em Julho no
estágio em Sochi, quando os representantes da federação foram ver-nos. Foi-nos
dito que não servia. No final nós mudámos a música.
Pergunta: Quanto tempo é que leva transformar o programa da
ideia inicial para algo competitivo?
Vladimir – Cerca de um mês…
Evgenia – Desta vez o coreógrafo Peter Tchernyshev levou
duas semanas. Depois nós vamos trabalhar nos programas até Setembro.
Pergunta: Digam-me como é trabalhar com o Robin Szolkowy. Em
que língua é que vocês comunicam?
Evgenia – Inglês.
Pergunta: Sabes inglês suficiente?
Evgenia – Bem, o meu inglês é um pouco básico, o do Vladimir
é melhor. Mas o Robin e eu entendemo-nos.
Pergunta: E russo?
Evgenia – Bem, o Szolkowy sabe dizer coisas como “olá” e
“bom dia”. Afinal de contas ele estudou um pouco de russo.
Pergunta: E não foi por nada visto que patinava com a Aliona
Savchenko.
Vladimir – Foi mais a Aliona que aprendeu alemão.
Pergunta: Sentem-se confortáveis sendo os líderes dos pares
russos?
Vladimir – Nós sempre tivemos o objectivo de sermos os
primeiros mesmo quando ninguém nos levava a sério. Ser líder é confortável.
Além disso, nós nunca nos sentámos a pensar que “somos os n.ºs 2-3 e
que ninguém espera muito de nós e que é melhor assim”. Nós sempre quisemos
lutar e sempre quisemos mais.
Pergunta: Estão preparados para competir com Stolbova &
Klimov? Eles estiveram na sombra durante a temporada passada. Há alguma tensão
durante os treinos?
Evgenia – Nós não treinamos ao mesmo tempo. Eu penso que
tudo se tornará mais claro durante as competições.
Pergunta: Qual é o espirito no vosso grupo?
Evgenia – Nós todos temos uma relação amigável; nós sempre
nos encontramos depois e as competições são o único sítio onde somos rivais.
Mas é sempre interessantes seguir os rivais nos treinos e fazer comparações.
Faz-te ficar em forma.
Pergunta: Na disciplina de pares há sempre lugar a erros
individuais. Qual é a sensação quando tu patinaste perfeitamente mas o teu
parceiro falhou num elemento?
Evgenia – Quando patinas com um parceiro e um erro acontece,
a culpa é de ambos mesmo que tenha ocorrido num salto a solo. Não sentimentos
de mágoa. Mas tudo depende realmente da relação entre os parceiros. Nós nunca
sentimos que recebemos notas mais baixas do que as que merecemos. E nós nunca
nos culpamos um ao outro.
Vladimir – Acho isso pouco profissional.
Pergunta: Vocês têm oportunidade de falar um com o outro
enquanto patinam para mudar algo no programa caso seja necessário?
Vladimir – Apenas algumas pequenas coisas. Talvez para mudar
um passo e juntarmo-nos. Nós não podemos mudar algo global. O programa é
coreografado para o máximo das nossas possibilidades actuais. Nós apenas
podemos falar sobre mudanças nos vestiários cerca de 15 minutos antes de irmos
para a pista.
Pergunta: Ficaram com a sensação que o nível nos últimos
mundiais foi super alto?
Vladimir – É difícil partilhar as nossas impressões desses
campeonatos; por causa da lesão, o programa curto e o livre não foram
realizados no seu potencial pleno e nós estávamos na nossa melhor forma! Nós
patinámos bem mas houve competições onde patinámos melhor… Durante a época nós
percebemos que estávamos a crescer tecnicamente e que o nosso par estava a ser
recebido de maneira diferente. Como líder. A lesão arruinou essa impressão da
temporada mas apesar disso nós fizemos todos os elementos e não falhámos
nenhum.
Pergunta: Qual foi a competição mais enervante da época
passada?
Vladimir – Os mundiais. Quando chegas lá e nem fazes ideia
se vais conseguir patinar. A Evgenia levou pontos e tomou analgésicos então
inicialmente ela não sentiu nada. Mas, claro está, que o efeito dos analgésicos
desaparece e nós não fazíamos ideia o que iria resultar da lesão.
Pergunta: Deixou-vos um sabor amargo?
Evgenia – Tudo acabou bem.
Vladimir – Sim e não. Eu penso que nós poderíamos ter
conseguido notas mais altas em ambos os programas, patinado com mais liberdade.
Mas também podíamos ter desistido da competição.
Pergunta: Vocês estão contentes com as provas do grande
prémio da próxima época?
Vladimir – Sim mas foi duro antes de termos as inscrições.
Os patinadores chineses foram os primeiros a escolher as suas provas, depois
foram os alemães e nós ficámos com o que sobrou. Este ano a ordem das provas
foi alterada – anteriormente eram as provas na América do Norte, as provas
europeias e depois as provas asiáticas. Agora é uma prova na América do Norte e
outra na Ásia. Acho que vai ser mais difícil para os atletas se conseguirem
adaptar. Nós tivemos sorte com as inscrições.
Pergunta: Vai ser difícil patinar perante o público caseiro?
Vladimir – É possível. Mas vai depender da nossa preparação.
Quando estás bem preparado e todos os elementos saem de forma automática, não
interessa onde estás a patinar.
Pergunta: Falem um pouco sobre a participação no WTT.
Evgenia – Foi algo de novo.
Vladimir – Foi o nosso primeiro WTT e a nossa primeira vez
no Japão. O país é fora do vulgar e não há realmente uma atmosfera muito
competitiva quando as férias se aproximam e os patinadores convivem
alegremente. Certamente que nenhum dos patinadores estrangeiros levou aquilo a
sério.
Pergunta: O que é que foi mais memorável?
Evgenia e Vladimir – A “Kiss n’ Cry” (Nota: nome dado ao local onde os patinadores esperam pelas pontuações)
Pergunta: Vocês receberam um prémio especial por causa
disso.
Vladimir – Sim! No final, durante o banquete onde as equipas
foram premiadas, nós recebemos o prémio para melhor espírito de equipa.
Pergunta: Vocês estavam à espera disso?
Evgenia – Foi-nos dito que todos os anos atribuem um prémio
à equipa com a melhor “Kiss n’ Cry”. Este ano, desde os primeiros dias que a
nossa equipa estava determinada em vencê-lo. Nós fizemos o nosso melhor para
ajudar.
Pergunta: Falem-nos do clima nas festas depois da
competição.
Evgenia – Primeiro há uma parte oficial com os juízes e os
atletas.
Vladimir – Os representantes da ISU discursam, depois é a
vez do país organizador e depois há comida, bebida e música.
Pergunta: Normalmente, quem é que se mistura com quem?
Evgenia – Normalmente é com os amigos e a equipa.
Habitualmente, nós ficamos com a nossa equipa e com os italianos e os franceses
que nós conhecemos dos estágios.
Vladimir – É isso mas por alguma razão misturamo-nos menos
com as equipas norte-americanas.
Pergunta: Como é que foram as vossas férias?
Evgenia – Nós tivemos duas semanas de férias. Nós passámos
12 dias no Bali com amigos do nosso grupo. Foi divertido.
Pergunta: Tiveram algum momento em que disseram: “Ok, já
chega, vamos voltar para o gelo”?
Evgenia – Quando nós regressámos fomos para um estágio em
Kislovdosk (?) onde não havia gelo
nenhum. Então chegou a sensação de “Eu quero estar no gelo e não apenas correr
no estádio”.
Pergunta: Houve coisas que tiveram de fazer durante as
férias para manterem a forma física?
Evgenia – Nem por isso… Só se fores idiota é que não
percebes que tens de te manter em forma.
Pergunta: Em que altura é que percebeste que patinar não era
só diversão mas que se podia tornar em algo maior?
Evgenia – Acho que foi quando me decidi mudar de Kazan para
Moscovo. Eu percebi que não podia voltar atrás e tinha de seguir em frente.
Vladimir – Quando terminei a escola e tive de decidir se ia
para a Universidade ou se continuava a patinar. Esse foi o ponto de viragem:
desporto ou profissão.
Pergunta: Ponderaste ir para a Universidade?
Vladimir – Nunca é tarde para estudar.
Pergunta: Isso é possível tendo em conta os vossos horários?
Evgenia – Estudar é exigente. Por outro lado, nós chegamos
dos treinos muito cansados e não queremos fazer nada. Só dormir…
Pergunta: Os vossos pais seguem a vossa patinagem?
Evgenia – Claro que sim. Eles apoiam-nos mas tentam não
incomodar. Eles leem coisas na internet durante as competições. Mas quando
estou ao telefone com a minha mãe, nós falamos de outras coisas.
Pergunta: O Vladimir disse numa entrevista que houve uma
altura na sua carreira que a sua antiga parceira e a mãe dela habitavam na casa
dele mas que ele sentiu que não ia dar certo. Afinal como é que vocês se
separaram? (Pergunta relativa à parceira
que Vladimir teve antes de se juntar a Evgenia)
Vladimir – Ó, deram-nos parceiros diferentes e a situação
resolveu-se a si própria. Mas o próprio treinador viu que nós não formávamos
uma boa parceria.
Pergunta: As separações com os vossos anteriores parceiros
foram amigáveis e não há ressentimentos?
Evgenia – Anteriormente eu só patinei com o Egor Chudin e
ele foi convidado para patinar em espectáculos e eu tive a possibilidade de me
juntar ao Vladimir. Então não houve drama.
Vladimir – Eu não tenho quaisquer ressentimentos.
Pergunta: Vladimir, tu quando começaste jogavas hóquei.
Alguma vez te arrependeste de teres optado por um desporto menos bem pago?
Vladimir – Quando se é criança a perspectiva é diferente. Eu
não patinava numa escola mas sim num programa de preparação. Então não havia
ambição para me tornar patinador profissional. Simplesmente tudo resultou muito
bem.
Pergunta: Não é nenhum segredo que vocês formam um casal
fora das pistas. Isso torna o trabalho mais fácil ou mais difícil?
Vladimir – Eu acho que é mais fácil porque eu posso dizer
coisas à Evgenia que não partilharia se ela fosse apenas minha parceira no gelo.
Nós podemos ser mais abertos. É como se estivesses com alguém muito próximo e,
quando dizes algo da boca para fora, é levado de forma completamente diferente.
Mas dizer algo da boca para fora é muito menos perigoso do que guardar as
coisas cá dentro. Quanto às dificuldades, elas sempre existirão.
Pergunta: Existe algum sentimento de especial
responsabilidade nos elementos perigosos em que estás numa posição de controlo?
Vladimir – Claro que sim. Para o parceiro masculino é muitas
vezes mais difícil do que para a patinadora. Quando ela está no salto lançado,
tu estressaste sobre se ela fará a recepção. Não é só atirá-la e relaxar. A
responsabilidade e o medo são repartidos de igual modo.
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