Elena
Vodorezova Buyanova é uma lenda viva da patinagem artística russa. Nos seus
tempos de atleta, Elena patinou na categoria de individuais femininos em
representação da União Soviética. Talento precoce, Elena participou nos Jogos
Olímpicos de Inverno em 1976, com apenas 12 anos de idade. Uma doença brutal
obrigou-a a terminar a carreira competitiva. No entanto, ela nunca se afastou
completamente da patinagem artística e construiu uma carreira de respeito como
treinadora. O seu maior feito terá sido o de levar Adelina Sotnikova ao título
olímpico em 2014. A relação com Adelina azedou depois disso e nesta entrevista
ela fala bastante sobre a sua antiga pupila que agora está integrada na
Academia de Evgeny Plushenko. Actualmente, Elena Buyanova é a treinadora
responsável por Elena Radionova e Maria Sotskova.
O link
original pode ser consultado aqui: http://www.sport-express.ru/se-velena/reviews/elena-buyanova-nam-s-sotnikovoy-nuzhno-bylo-perestat-sebya-obmanyvat-1297646/
Aviso: as marcações em itálico são notas feitas por mim para ajudar a contextualizar algumas coisas.
Tradução de entrevista
A entrevistadora não perdeu tempo e
começou logo por tocar na ferida: a quebra de confiança entre Adelina Sotnikova
e Elena Buyanova.
Pergunta:
Quando um atleta toma a decisão de mudar de treinador, há sempre um momento
anterior em que a relação que existia esfria, um afastamento. A mudança da tua
pupila para o Evgeny Plushenko foi algo inesperado para ti ou no fundo já
sabias que isso acabaria por acontecer?
Elena
Buyanova – Tudo acontece por uma razão. Eu penso que o primeiro momento em que
fui atingida, como treinadora, foi a lesão da Adelina em 2015. Anteriormente,
ela nunca tinha sido afectada por lesões graves. Nunca. A Sotnikova foi sempre
não apenas muito disciplinada e trabalhadora como também estava em boa forma –
não tinha um único ponto fraco no seu corpo. Os problemas começaram depois de
uma pausa nos treinos. A Adelina começou a ser convidada para vários eventos;
eu não me importei mas sempre disse: tu é que tens de decidir o que é que
queres. Ela sempre respondeu que queria patinar. Enquanto treinadora, eu vi
claramente o que queria fazer, e como, com a Adelina no futuro. Mas um ano mais
tarde eu percebi que existiam certas coisas que não me estavam exactamente a
aborrecer mas…
Pergunta:
Querias mais clareza?
Elena
Buyanova – Isso em primeiro lugar. Tu sabes que tipo de regime é que um atleta
tem de cumprir para permanecer competitivo. Nós, por outro lado, tínhamos uma
espécie de caos. Nós decidimos em conjunto que precisávamos de competir pelo
menos nas competições de categoria B e nós criámos grandes programas. Claro que
foi difícil para a Adelina. Ela ganhou peso. Não muito mas o suficiente para
lhe causar dores nas costas quando ela treinava. Mesmo assim, ela trabalhou
arduamente e queria competir. O assunto “Ice Age” não estava fora de questão.
Eu sei que a Sotnikova estava sempre a ser convidada para participar e
ofereceram-lhe muito dinheiro. Mais do que isso, nós discutimos esse assunto e
eu pensei que a decisão estava tomada. Lembraste de quando eu e tu falámos
sobre quão difícil é para um atleta campeão olímpico arranjar uma nova
motivação para continuar? Na altura eu estava sempre a pensar nisso. Eu estava
tão feliz quando nós apresentámos os planos para a nova temporada depois da
semana de testes em Setembro: não fui eu mas sim a Adelina que deu voz à sua
vontade de patinar e de competir. Então nós apresentámos os planos e
literalmente poucos dias depois, quando regressámos a Moscovo vindas de Sochi,
a Adelina disse que ia participar no “Ice Age”. Para mim isso foi… o ponto
final, acho eu. Tu sabes que há um limite na confiança porque… bem, tem os seus
limites.
“Ice Age” é um programa super popular
na Rússia e é transmitido no canal estatal. Nesse programa, patinadores famosos
formam parceria com personalidades artísticas de primeira linha e têm de
patinar diversos temas em conjunto. As audiências são enormes e depois também
existem digressões pelo país, normalmente sempre com lotação esgotada.
Vídeo de uma das actuações de Adelina Sotnikova no programa "Ice Age" com um famoso actor russo.
Adelina Sotnikova |
Pergunta: Tu
já pensaste que também podes ter culpa? Talvez não tenhas estado junto da tua
pupila no momento em que ela precisou de ti, não disseste as palavras certas, se
calhar não foste suficientemente dura?
Elena
Buyanova – Eu pensei. Provavelmente devia tê-la pressionado mais e ter sido
mais dura. No entanto, eu permiti que a atleta fizesse o que fez e claro que é
culpa minha. Mas eu não podia ter feito diferente – eu vi como a Adelina estava
a amar tudo aquilo. Durante muitos anos ela não pôde viver uma vida normal ou
fazer o que queria. Ela é uma boa menina, muito amável e compassiva. Como um
dos nossos treinadores disse uma vez: podias aplicar a Sotnikova nas feridas e
elas curavam-se. Para que saibas o que é que acontece: estabeleces um
objectivo, alcanças o objectivo e depois soltas-te um pouco. Parece fácil:
basta dar um passo atrás e regressas à tua vida antiga. Só que isso não é
verdade.
Pergunta: No
início da nossa conversa tu disseste que sabias para onde orientar a Adelina.
Quais eram os teus planos?
Elena
Buyanova – A Adelina tem um potencial técnico muito elevado. Ela podia realizar
um toeloop quádruplo mas o seu corpo tinha de estar preparado.
Pergunta: Porquê
um toeloop quádruplo e não um triplo axel?
Elena
Buyanova – Nós tentámos o triplo axel antes dos Jogos Olímpicos. A rotação da
Adelina não era má mas o seu toeloop era melhor. Então eu pensei que talvez
fosse mais fácil acrescentar uma volta ao toeloop. Além disso, pode-se dizer
que a Adelina tinha esse objectivo. Em todos os momentos, eu sempre quis que
ela se destacasse na sua patinagem – então eu mandei-a dançar quando a perna
dela estava a sarar depois da lesão. A Adelina mexe-se bem e ela frequenta
aulas de dança jazz desde a infância, ela sabe isso tudo. Ela tem participado
nos nossos espectáculos desde criança – ela sempre esteve no palco. Todos os
coreógrafos com quem ela trabalhou ficaram surpreendidos como ela aprende as
coisas tão depressa – eles nunca tiveram de fazer explicações longas. Então eu
sempre soube que a Adelina não se ia perder. Eu só queria que ela tivesse
escolhido outro caminho e não o que ela está a fazer agora. Por outro lado, eu
estou feliz por ter sido capaz de desenvolver uma atleta que, para além dos
seus resultados grandiosos, é requisitada e pode se desenvolver
profissionalmente. O resto é com a Adelina e quanto mais ela quererá. Esse é o
seu caminho agora.
Pergunta –
Não há muito tempo, eu estive a falar com um dos membros da equipa que venceu o
ouro nos Jogos Olímpicos de Sochi que disse que participar em espectáculos tem
dois lados. Por um lado estás a patinar e ganhar nova experiência mas o
sentimento de ter dinheiro fácil muda-te. O atleta começa a perceber rapidamente
que os treinos são duros e entediantes e nunca se sabe qual será o resultado. O
espectáculo é fácil – patinas e és pago.
Elena
Buyanova – Há espectáculos em que tu estás a prolongar o processo de treino e a
desenvolver-te. Olha para os japoneses – eles patinam os seus programas com
todos os saltos. Por que é que eu enviei a Sotnikova para um espectáculo de
dança depois da lesão? Para que ela não ficasse parada mas trabalhasse a todo o
gás. Ela recuperou mais depressa e a Adelina mudou no gelo; ela tornou-se
diferente. Mesmo mais tarde eu disse-lhe muitas vezes: se tu participares num
espectáculo torna os programas mais difíceis, ultrapassa-te, caso contrário vai
ser muito complicado regressar. Há patinadoras boas na nossa equipa.
Nesta resposta Elena Buyanova
refere-se ao facto de Adelina ter participado na versão russa do programa
“Dança com as Estrelas” que tem um nível de exigência técnico muito elevado.
Adelina fez um enorme sucesso nesse programa e terminou na segunda posição.
Video de uma das prestações de Adelina no programa "Dança com as Estrelas"
Pergunta:
Quando é que tu achas que a Adelina atingiu o ponto de não retorno ao grande
nível?
Elena
Buyanova – Geralmente os atletas não entendem essas coisas. É sempre difícil
retirar-se e avançar para o desconhecido – é como cair de um penhasco. Tu nunca
vais conseguir fazer as coisas sozinho a menos que te empurrem. Eu vi muitos
atletas que estavam prontos para retirar-se mas que não tomavam o último passo
e regressavam. Não há muitos que se tenham mudado para uma nova vida assim de
repente. Tu tens razão: quando há muitos espectáculos tudo descarrila. Os
atletas param de ser exigentes. Eles deixam de entender que se entras na pista
como campeão olímpico tens de estar a esse nível.
Pergunta:
Estás a dizer que isso foi o que aconteceu com a Adelina?
Elena
Buyanova – Infelizmente…
Pergunta:
Quando o teu pupilo Maxim Kovtun se mudou para o grupo de Inna Goncharenko, tu
contaste como era doloroso ver o teu atleta todos os dias a ser treinado por
outra pessoa. Agora a situação é a inversa: tu concordaste em aceitar a Elena
Radionova compreendendo que a Inna Goncharenko também ia sentir o mesmo. Por
que é que fizeste isso?
Elena
Buyanova – Eu não aceitei a Radionova por vingança. Ela pediu-me para se juntar
à equipa e disse que estava pronta para trabalhar. Isto não foi sobre uma atleta
que veio de fora. A Lena cresceu na nossa escola e, em muitas coisas, perante
os meus olhos; eu sei que tipo de lutadora ela é e como ela pode patinar. Não
importa os termos em que coloques a questão – é a nossa escola e são as nossas
crianças.
Referência ao facto de tanto Elena
Buyanova como Inna Goncharenko fazerem parte do quadro principal de treinadores
do mesmo clube em Moscovo.
Pergunta: Quando o Kovtun te deixou, eu não me lembro
de teres falado na “nossa escola, as nossas crianças, não importa qual é o
treinador”.
Elena
Buyanova – Como líder do CSKA, eu podia ter impedido essa mudança de
treinadora. Sim, foi difícil para mim. Mas se o meu atleta fez a escolha por
que é que deveria impedi-lo?
Pergunta: Tu
aceitaste a Radionova imediatamente?
Elena
Buyanova – Não, eu pensei um pouco sobre isso. O que eu gostei foi que a Lena
não estava a tentar desculpabilizar-se do que se passou na temporada anterior.
O treinador não é um deus, nem sequer o mais genial. O atleta é igualmente
responsável.
Elena Radionova |
Pergunta: Tu
nunca tiveste dúvidas que a Maria Sotskova, que estava a trabalhar contigo há
cerca de um ano, ia reagir bem? Que, por assim dizer, ela podia ter levado isso
a peito e ter ido procurar uma equipa mais confortável?
Elena
Buyanova – Eu duvido que actualmente tenhamos atletas que possam ditar as
regras quanto aos treinadores. Pelo menos eu não consigo compreender uma
situação dessas. Obviamente que a Sotskova esteve um pouco desconfortável
especialmente porque, depois dos Europeus, houve conversas sobre ela ser
substituída pela Radionova. Isso foi falado a toda a hora. Mas eu penso que
isso tornou a Maria mais forte e eu não vejo nada de errado nisso. Além de que
o Javier Fernandez e o Yuzuru Hanyu treinam juntos – isso torna-os menos bons?
Olha a Eteri Tutberidze: ela tem a Zagitova que cresceu na sombra da Medvedeva,
que por sua vez estava a patinar na sombra da Lipnitskaya. Tu perguntaste-me
sobre a Sotskova – não é certo que ela esteja desconfortável com a Radionova. A
Elena não só entrou numa situação complicada mas numa das mais difíceis pois
sabe que ninguém lhe dará atenção exclusiva. Se eu tiver de comparar as duas
atletas, é mais difícil para a Lena porque ela praticamente perdeu um ano, ela
tem de recuperar e isso dá muito trabalho. Quando o atleta ainda é uma criança
e começa a vencer, é só trabalho, trabalho, trabalho. Por exemplo, o primeiro
toeloop, o primeiro axel, o primeiro lutz, depois as combinações – coisas que
são comuns a todos. No entanto, nós estamos num ponto em que nós podemos
decorar os programas. Como uma árvore de natal.
Pergunta:
Nos últimos dois anos, o mundo da patinagem artística só fala sobre a Rússia
ter a Evgenia Medvedeva e que ela é imbatível. Eu penso que muitos atletas se
sentem desencorajados pensando se é possível bater a Medvedeva. E os
treinadores? Tu às vezes pensas que é impossível bater a Medvedeva?
Elena
Buyanova – Tu sugeres que nos sentemos à espera que a Evgenia se retire? Bem,
mais alguém há-de aparecer. Se um atleta tem a reputação de ser imbatível, enquanto
treinadora eu sempre respeito isso. Mais do que ninguém, eu sei o quanto isso
requer muito trabalho. O meu objectivo é ter a certeza que os meus patinadores
competem com o líder e não que apenas partilhem o gelo na mesma competição. Eu
adorei a entrevista recente do Shoma Uno onde ele diz que gosta de ser o
perseguidor. É óptimo quando a pessoa não se sente apenas a chegar ao mesmo
nível, mas sim a perseguir. Claro que aqueles que se tornam líderes marcam a
fasquia. Mas isso não significa que não podes ultrapassá-los. O líder é aquele
que quer mais, trabalha mais e ultrapassa mais. Essas pessoas tornam-se as
primeiras. Quando os atletas se contentam com o que têm tornam-se
medíocres. Francamente, eu não entendo
por que é que se trabalha tanto para depois ser medíocre. Eu nem sequer estou a
falar de mim própria. Afinal treinar é a minha profissão e eu fiz essa escolha
já adulta. Mas eu sempre tento explicar a todos aqueles que eu treino: quando
tu és medíocre, tu não és ninguém. Talvez seja por isso que eu sou tão exigente
– eu andei nesse caminho muitas vezes e eu sei como pode ser assustador
retirar-se quando há um vazio por dentro e um sentimento de falhanço. Agora a
Medvedeva tem um objectivo – garantir que ninguém a apanha. Ela tem de
tornar-se melhor, ainda mais interessante. No entanto, eu sei que há pessoas
que pensam “Ainda melhor? Para quê?”.
Pergunta:
Quão sério é o desafio das canadianas Osmond e Dalleman?
Elena
Buyanova – Eu gosto das duas: fortes, saltadoras, muito femininas e isso é uma
grande vantagem. É um tipo de patinagem que eu sempre gostei: eu sempre gostei
que os saltos não sejam grandes mas enormes. Então as duas podem ser perigosas
nos Jogos Olímpicos. Nós não devemos subestima-las.
Pergunta:
Falando nos Jogos Olímpicos: tu não vês que não importa o quanto Sotskova e
Radionova trabalhem pois, no actual estado competitivo das senhoras, as duas
podem ficar de fora da equipa?
Elena
Buyanova – É algo para que todo o treinador tem de estar preparado. Eu só quero
que os meus patinadores não percam as oportunidades que tiverem. É para isso
que nós trabalhamos – não perder as oportunidades. Há um ano muitos duvidavam
que a Sotskova conseguia qualificar-se para a final do circuito do grande
prémio – eu vi a dúvida nos seus olhos. Mas quando nós apresentámos os planos,
a própria Maria disse “Eu vou conseguir”. Quando ela começou a trabalhar eu
fiquei maravilhada com a sua determinação. E imediatamente acreditei que a
miúda ia conseguir. E depois aconteceram os campeonatos nacionais da Rússia e a
Maria trabalhou como uma louca para se preparar.
Pergunta: E
depois ela já não tinha mais energia?
Elena
Buyanova – Eu diria que ela “expirou” ligeiramente depois de se ter qualificado
para a equipa. Mas houve momentos específicos. No Inverno, a Maria esteve
doente durante duas semanas e, claro está, o pensamento de que ela poderia ser
substituída estava a pressioná-la. Apesar da sua técnica base ser muito boa,
ela tem de trabalhar mais duro que outras patinadoras porque é muito alta.
Pergunta: Há
alguma possibilidade da Sotnikova querer voltar a patinar e perguntar-te se
pode regressar ao teu grupo?
Elena
Buyanova – O que é que queres dizer com “querer patinar”? É o que ela diz. Ela
está a preparar-se para os testes.
Pergunta:
Apesar do facto de ela, assim que se mudou para o Plushenko, ter imediatamente
rompido um ligamento?
Elena
Buyanova – A lesão não tem nada a ver com isso apesar de ter sido séria. Quando
o atleta revela à imprensa coisas sobre os novos programas e os planos mas não
declina todos os outros eventos, é óbvio que os planos para regressar não devem
ser levados a sério. Nada acontece assim no desporto.
Pergunta:
Ainda estás chateada com a Adelina por ela te ter avisado da mudança para o
Plushenko por sms?
Elena
Buyanova – E não o escondo. Mas isso não é o ponto. Eu conheço a Adelina muito
bem, se calhar ainda mais que a mãe dela. Em algumas coisas elas ainda é uma
criancinha. É algo que todos os grandes atletas têm em comum: eles acreditam
piamente que eles conseguiram tudo sozinhos. Eles não compreendem nem querem
entender que o resultado é obtido parcialmente graças ao treinador que os puxou
durante anos, que os levou aonde eles não conseguiam chegar sozinhos. Quando a
Adelina e eu entrámos naquele período de falta de comunicação, ela uma vez
disse-me “vais ter dificuldades comigo”. Eu respondi “E tu achas que alguma vez
foi fácil contigo”. Houve uma altura em que eu pensei que não havia nada de
novo para mim na patinagem artística. Que eu nunca ia ter atletas mais difíceis
para trabalhar do que aqueles que eu já tinha tido. Que os próximos seriam mais
fáceis. E depois aparece mais alguém e tu percebes como eles são todos
diferentes. Que tu não podes aceitar alguém e simplesmente “copiar/colar” o
trabalho anterior. Pelo menos eu não consigo fazer isso. Todos são diferentes;
uma experiência diferente. E isso faz-te evoluir. Quando ao regresso – nós já
passámos por isso e vimos o que aconteceu. Como eu disse, os limites da
confiança foram quebrados. Eu não amo a Adelina menos do que antes; ela ainda é
preciosa para mim como uma atleta com quem eu fiz uma longa e complicada viagem
mas já não há volta a dar. Nós raramente nos vimos durante o ano passado por
causa de todos esses espectáculos e treinar alguém entre espectáculos é algo
que eu nunca faria. Eu não consigo acreditar que a Adelina realmente queira
regressar. Eu não acho certo continuar a enganar-se a mim e a ela própria.
Pergunta: Se
calhar é muito mais fácil? A Sotnikova, sabendo como tu és exigente, como tu
metes a fasquia muito alto, teve medo de não conseguir estar à altura das
expectativas? Tens de concordar que seria difícil regressar à equipa onde outra
patinadora está a alcançar o topo de forma e onde não te sentirias igualmente
boa. Ela tem alguma auto-estima.
Elena
Buyanova – Eu penso que no fundo ela não conseguia partilhar-me com a Maria.
Ela estava à espera que eu recusasse os outros todos por ela.
Pergunta: E?
Elena
Buyanova – E que a convencesse a patinar.
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