Podem ver o original neste link: http://rsport.ru/interview/20150820/856053727.html
Adelina Sotnikova
Tradução
Pergunta (P) - Adelina, a minha primeira pergunta é se viste patinagem artística na televisão? Refiro-me aos mundiais.
Adelina - Sim. Estive a apoiar a nossa equipa. Como é que não poderia ver - é o meu desporto.
P - Pensei que quando tens de ficar de fora durante uma temporada queres esquecer que a patinagem artística existe para atenuar a dor.
Adelina - Nessa altura já estava normal (Nota: referindo-se à altura dos mundiais 2015). De início, sim, eu não conseguia assistir a patinagem artística. Doeu-me muito as coisas terem acontecido dessa maneira. Mesmo assim, eu ia para a pista de gelo, eu treinei miúdos e treinei o que podia apesar de estar com gesso. Eu não queria perder a forma. Eu até fui ver os campeonatos da Europa em Estocolmo. Nesse momento já estava ok. Até coloquei o objectivo de participar nos mundiais mas depois percebi que não era possível. A recuperação não foi fácil. Umas vezes o pé doía-me, outras vezes não e outras vezes sim. A minha forma também oscilou. Às vezes tentávamos passar por todos os elementos e "BAM" a dor aparecia novamente. Eu dizia "Elena Germanova eu não consigo". (Nota: refere-se à treinadora Elena Buyanova) Passávamos uma semana sem saltos e depois recomeçávamos a trabalha-lhos uma e outra vez mas com dor. Depois começou o "Dança com as estrelas" e outras coisas que me distraíram e penso que isso me ajudou a esquecer a dor no pé. Ainda estava com uma ligeira dor intermitente - (no programa de tv) tinha que fazer muitos movimentos com saltos altos. Mas falámos com os produtores antecipadamente sobre o que eu podia ou não fazer, eles sabiam que eu estava lesionada. Houve algumas semanas em que eu fui muito cautelosa. Depois foi ok.
P - Muitos tiveram medo da tua participação no programa de TV. Havia risco para o teu pé?
Adelina - Eu colocava uma ligadura no meu pé para evitar aleijar-me novamente. Muitos pensaram que eu estava com dores quando viram a ligadura - a ligadura era cor de carne e não era visível nas fotos mas o nome da marca era. Todos diziam que eu não devia dançar lesionada mas (a ligadura) era só uma prevenção.
P - Como é que foi a tua experiência como treinadora?
Adelina - Acho que eu não lhe chamaria isso. Deram-me uns quantos garotos e eu trabalhei com eles. Eu ficava sentada junto das barreiras com o meu pé engessado. Mas aprendi que treinar alguém é muito difícil. Quando eu era criança achava que me ia tornar treinadora quando crescesse. Agora já sou crescida. E era assim - estava lesionada e fiquei com uma rapariga e um rapaz do grupo de Artem Borodulin e comecei a trabalhar com eles. Depois de uma sessão de treinos parecia que tinham sido 10. É preciso muita energia... para explicar, demonstrar, exigir e depois quando as coisas começar a resultar para eles. Vais ao carro e limpas o suor mas ainda nem sequer fizeste o teu próprio treino - só treinaste os outros. Foi nessa altura que comecei a perceber o que significa treinar alguém. E como é difícil para o nosso treinador trabalhar connosco.
P - Já não queres ser treinadora no futuro?
Adelina - De início pensei que sim. Eu gosto do processo. Mas claro que não sei dizer agora se serei treinadora ou outra coisa no meu futuro.
P - Falando do futuro, como é que está a decorrer a preparação da nova temporada? Quando é que decidiste que ias competir e preparar-te a tempo inteiro?
Adelina - Nunca esteve excluído. Eu sempre quis regressar. Depois do programa de tv, claro, eu ainda não tinha pensado em nada, apenas fui de férias. Regressei e no dia 1 de Julho começámos a trabalhar. A partir dessa altura eu fiquei concentrada em competir novamente.
P - Na temporada passada, se me recordo, por esta altura do ano ainda não estavas lesionada. Mentalmente está a ser mais fácil agora do que no ano passado?
Adelina - Pergunta interessante. Não, não é. Queres saber porquê? Essa temporada em que estive ausente - eu podia ter ganho tanto. Não só tecnicamente como também mentalmente. Eu podia ter aprendido a apresentar-me, a competir, a patinar, onde colocar energia e onde salvá-la um pouco... Agora eu tenho de aprender isso tudo do início. Eu estou preparada para cometer erros. Eu penso que eles podem acontecer. Ou não. Estou a tentar estar mentalmente preparada para competir. Agora é mais uma questão de trabalho mental.
P - Volosozhar & Trankov também ficaram de fora na temporada passada e vão regressar agora e eles dizem compreender que chegarão ao gelo para competir com pares que têm quadruplos lançados e que provavelmente irão perder. Eles estão preparados para isso.
Adelina - Certo.
P - Tu vais competir com patinadoras que fazem o triplo axel. Sentes-te como a Tatiana e o Maxim?
Adelina - Absolutamente.
P - O progresso da patinagem feminina - quando a Elizaveta Tuktamysheva começou a efectuar o triplo axel na temporada passada - ficaste surpreendida?
Adelina - Eu estava à espera que a Liza fizesse isso. Eu sabia que ela andava a treinar o triplo axel e que era óbvio que ela o faria algum dia. Ela fê-lo. Parabéns e fico muito feliz por ela. Olhem só para a Liza - ela estava a trabalhar para ir aos Jogos Olímpicos em Sochi mas a temporada não lhe correu bem - mas ela recuperou e ganhou tudo! É uma grande vitória.
P - Muitas patinadoras disseram que estão a trabalhar nos saltos. A Sakhanovich diz que vai aprender o quadruplo salchow e a Gracie Gold - quadruplo salchow e triplo axel.
Adelina - Podem dizer o que quiserem. "Ah tá", amanhã vou fazer um quadruplo flip. Falar é fácil. Elas que o façam.
P - Tens esses planos?
Adelina - Não. Eu quero recuperar o nível em que estava. Desfrutar da patinagem. A partir daí ... se a temporada decorrer suavemente - por que não? Não quero precipitar-me. Eu quero que as coisas aconteçam gradualmente.
P - Tu decidiste manter o programa livre "Malade", já falámos disso. Quero perguntar-te sobre o programa curto: de onde apareceu a ideia de fazeres uma dança latina?
Adelina - A ideia é do coreógrafo Peter Tchernyshev. Inicialmente eu tinha pensado também manter o programa curto anterior com o tema "O Lago dos Cisnes", que tal como o programa livre, eu não tive a hipótese de patinar ou fazer algo de novo com a experiência adquirida no projecto "Dança com as Estrelas". O Peter disse-me "porque não tentar algo com vivacidade e velocidade", algo que eu fizesse bem no chão normal. Então eu comecei a dançar samba ou rumba, a fazer alguns elementos, movimentos de dança. O Peter viu e disse que estavam bem. Eu hesitei e disse "Peter, imaginas todo o programa com esse estilo? Eu morro a meio" Então decidimos combinar temas rápidos com os mais lentos. Demorou algum tempo a descobrir a música - para a rumba descobrimos depressa - o Peter trouxe o tema, começámos a ouvi-lo e eu gostei imediatamente. Depois procurámos um tema mais rápido. Deveria ser semelhante ou diferente? Com ou sem vocalizações? No final, eu penso que conseguimos uns bons arranjos.
P - Usas muitos movimentos usuais do chão normal?
Adelina - Alguns. Todos esses ... não me lembro como se chamam. Mas estou a tentar transferi-los para o gelo. (Nota: refere-se a passos específicos de danças de salão).
P - Qual é o problema? O gelo é muito escorregadio?
Adelina - Tudo é mais exacto no gelo. Tu deslizas no gelo e também há movimentos corporais que tens de fazer - tudo se desconjuga. Os braços movem-se em direcções diferentes e tu perdeste-te. Eu quero passar sentimento e não fazer só a usual dança latina em que abanas um pouco os ombros e já está. Eu quero fazer algo novo e fora do vulgar.
P - Já alguma vez patinaste alguma coisa desse género?
Adelina - Não. Talvez quando era criança.
P - Os testes vão decorrer em Sochi em 12 e 13 de Setembro. Vais ter tempo para preparar os programas?
Adelina - A federação disse-me que eu tenho permissão para ir com calma. Todos irão patinar os seus programas completos. Ok. Vou fazer o meu melhor.
P - Depois dos Jogos Olímpicos a tua vida mudou completamente. Passaste a ter vida social. E ainda tens - o casamento de Volosozhar & Trankov por exemplo. Compreendes que vais ter de desistir de tudo isso para voltares?
Adelina - Claro que sim. E estou pronta. Às vezes é bom fazer coisas sociais - preciso dessa mudança mental e não estar sempre a bater com a cabeça na mesma parede. Ficaria doida se não pensasse em mais nada para além do desporto. Mas vendo que tenho que deixar isso tudo de lado, eu o farei. Estarei completamente dedicada ao desporto.
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