quarta-feira, 14 de junho de 2017

Tradução de entrevista do treinador Alexander Zhulin


O prestigiado treinador e coreógrafo Alexander Zhulin concedeu uma entrevista a um órgão de comunicação social da Rússia onde falou sobre os mais recentes desenvolvimentos no seu grupo de trabalho. O principal destaque vai para as palavras sobre o par Sinitsina & Katsalapov.

A publicação original da entrevista pode ser encontrada neste link: http://rsport.ru/interview/20170530/1121152014.HTML




Tradução de entrevista

Alexander Zhulin – A dança livre de Bobrova & Soloviev está pronta; temos de patiná-la para limar as arestas e depois Poklitaru (*coreógrafo russo) vai visitar-nos algumas vezes para dar os retoques finais. Nós tivemos uma colaboração criativa muito boa; eu gostei.

Entrevistador – Tu tens preocupações em trabalhar com um coreógrafo tão extraordinário na temporada olímpica, que esta experiência venha a ser demasiado difícil de compreender?

Alexander Zhulin – Nem por isso. Eu também trabalho nestes programas e tenho o controlo para garantir que não há desvios da patinagem artística, que o “trabalho de pés” continua difícil apesar da coreografia. Eu vejo que tudo vai ficar bem. Nós escolhemos um tipo de música que eu não quero começar a explicar antes de mostrarmos o programa.

Entrevistador – Mas isto vai ser a Bobrova & Soloviev que nós todos conhecemos e amamos, patinando com o coração?

Alexander Zhulin – Espero que a ideia seja compreendida. O estilo contemporâneo que o Radu (*referência a Poklitaru) apregoa assenta à Katia e ao Dima (*diminuitivos de Ekaterina e Dmitry). Nós trabalhamos neste caminho.

Entrevistador – Não haverá nenhuma auto - flagelação no gelo?

Alexander Zhulin – Não.

Entrevistador: Vai nos fazer recordar a dança dos passados Jogos Olímpicos?

Alexander Zhulin – Não, é uma dança completamente diferente.

Entrevistador – Em que condição se encontravam Sinitsina & Katsalapov quando os recebeste?

Alexander Zhulin – Boa. O mais importante é que o Nikita disse que todas as suas lesões estão curadas e que nada lhe dói. O ombro de Victoria está um pouco dorido mas isso é porque ela se lesionou enquanto praticava novas figuras de elevação. Felizmente não existem lesões. Os atletas estão esfomeados por trabalho e até agora eu estou satisfeito com tudo.

Entrevistador – Então podes dizer que eles não desperdiçaram a época passada que foi dura para eles?

Alexander Zhulin – Eu penso que o problema estava na sua luta com a natureza. Eu refiro-me à técnica diferente em muitos elementos. O meu objectivo reconciliar as diferenças na técnica deles o mais rapidamente possível. Depois eles já não terão dificuldades nos elementos, irão sentir-se mais confortáveis no gelo e terão mais tempo para a coreografia e emoções. Agora existem algumas pequenas dificuldades técnicas que aparecem no caminho deles. Eu estou certo de que eles ainda nem sequer realizaram 30% do seu potencial.

Entrevistador – Eu vejo que eles estão com bom espirito.

Alexander Zhulin – Sim e eu vejo que ter aqui tanto Bobrova & Soloviev como Sinitsina & Katsalapov, coisa que estava a preocupar muitas pessoas… Até agora, eu não quero agoirar mas eu não vejo quaisquer problemas.

Entrevistador – Falando dos problemas técnicos que tu mencionaste, isso significa que os treinadores anteriores – Marina Zoueva, Oleg Volkov, Elena Tchaikovskaya – foram incapazes de resolvê-los?

Alexander Zhulin – Eu nunca falo sobre os meus colegas.

Entrevistador – Ok, então esta incompatibilidade técnica continuou na mesma desde que eles formaram parceria?

Alexander Zhulin – Eu não posso dizer nada porque não trabalhei com eles nessa altura. Agora que os tenho, eu vejo as nuances e tento ajudar. Se eu tiver sucesso.

Entrevistador – Que imagens é que a Victoria e o Nikita nos vão mostrar nesta temporada?

Alexander Zhulin – A dança curta é latina, (*aqui não consegui perceber algumas palavras), mas eu penso que nós encontrámos música fora do vulgar que deverá resultar para eles. É uma dança latina muito fora do vulgar. E, inesperadamente, nós tivemos a mesma ideia para a dança livre. Eu vi-os a patinar em grande, com amplitude, e pensei que Rachmaninoff seria mesmo uma óptima escolha para eles. Eles vieram até mim e a primeira coisa que eles disseram foi “Sasha, o que é que tu pensas sobre Rachmaninoff?” Foi uma escolha mútua. Os meus favoritos são o “Concerto n.º 2” e “Vocalise”, então nós fizemos uma combinação dos dois para o livre.

Entrevistador – Vocês vão incluir a abertura do “Concerto n.º 2”?

Alexander Zhulin – Sem dúvida. Vamos começar a dança com essa parte.

Entrevistador – Este duo trabalha bem temas russos. O programa deve ser um sucesso?

Alexander Zhulin – Eu penso que esta é a equipa que pode mostrar todo o tipo de temas no gelo. Eles ouvem a música, eles são musicais por natureza.

Entrevistador – Então a Vika (*diminuitivo deVictoria) não é apenas uma clássica beleza russa, melódica e a patinar com amplitude?

Alexander Zhulin – Eu espero que ela brilhe. Nos últimos três anos em que eu os tenho visto, ela melhorou significativamente em termos de projecção. Ela começou a transformar-se de uma beleza russa para uma patinadora com uma variedade de emoções. Mas isso necessita de desenvolvimento para termos a certeza que existe um carisma unificado, química, esta ligação mágica entre os patinadores. Que eles não projectem só por si mas como um par.

Entrevistador – A nossa entrevista passada foi intitulada “Ilinykh precisa de Katsalapov”.

Alexander Zhulin – Bem, como treinador penso que sim mas o Nikita tomou uma decisão definitiva sobre a sua parceira e ele não queria ouvir mais nada. Parece que ele se sente confortável patinando e trabalhando com Viktoria. Está tudo bem, eles ainda são uma equipa jovem apesar dele já ser campeão olímpico. Eu penso que eles ainda vão patinar juntos pelo menos por mais cinco anos.

Entrevistador - Houve alguma pressão no Nikita para que ele voltasse a patinar com a sua anterior parceira?

Alexander Zhulin – Não faço ideia.

Entrevistador – Houve um rumor de que eles até chegaram a fazer um teste neste final de temporada.

Alexander Zhulin – Talvez. Eu não sei. Ele e a Vika vieram ter comigo e pediram-me que reunisse com eles e no dia seguinte eles estavam na pista de gelo.

Entrevistador – Tu conheces todos os patinadores de que falamos. Há informação não oficial de que Ruslan Zhiganshin, parceiro de Ilinykh, terminou a carreira competitiva. Tu tens alguns pensamentos na tua mente de que teoricamente pode existir uma situação de passar pelo mesmo rio duas vezes?

Alexander Zhulin – Eu penso que se um casal passar por um divórcio as coisas dificilmente voltarão a ser as mesmas. A patinagem artística é assim. Eles separaram-se e eu não penso que voltarão a estar juntos novamente.

Entrevistador – É o mesmo de quando tu deixaste a Maya Usova pela Oksana Grishuk que depois tentou voltar para o seu anterior parceiro Evgeny Platov com quem venceu duas medalhas de ouro olímpicas?

Alexander Zhulin – Sim, é parecido com isso.

Entrevistador – Então realmente não há problemas com a competição dentro do teu grupo? Porque a nossa mentalidade é assim: há uma nova equipa forte; isto significa que o treinador mudou as suas prioridades?

Alexander Zhulin – O treinador principal tem de ter uma atitude muito simples: ele deve trabalhar honestamente com todas as equipas. Eu gosto de observar o Brian Orser, a Eteri Tutberidze, a Marie-France Dubreuil e o Patrice Lauzon. É um trabalho muito sincero e todos os patinadores têm tudo o que lhes permite patinar e manter o seu destino nas suas próprias mãos. Os mais fracos podem ser deixados para trás mas os fortes prevalecem. Se tu fores forte, tu vais beneficiar de ter competição. Se tu fores fraco, o que é que há para falar?

Entrevistador – Isso é possível aqui?

Alexander Zhulin – Porque não? Quando eu patinava, nós tínhamos um grupo forte: Marina Klimova & Sergei Ponomarenko, Usova & Zhulin, Grishuk & Platov. Resultado: ganhámos todos os lugares no pódio nos mundiais de 1992. Não existam discussões, não havia problemas, todos trabalhavam no duro. A Natalia Dubova (*grande treinadora nessa época) podia afastar-se da pista de gelo. Nós puxávamos uns pelos outros e isso fez-nos crescer.

Entrevistador – Mas provavelmente tu tiveste à mesma de pensar nas palavras certas para dizer à Katya e ao Dima sobre a Vika e o Nikita.

Alexander Zhulin – Nós discutimos esta situação no ano passado. Eu disse-lhes que seria muito bom para eles terem parceiros de treino fortes. A competição não é suficiente, patinadores de elite como Bobrova & Soloviev, precisam de um empurrão adicional em todos os treinos. Se eles forem para o gelo e verem quão bons são Sinitsina & Katsalapov, logicamente que no dia seguinte eles terão de ir patinar o seu melhor. Esta é a minha abordagem. Pessoalmente era o que eu faria. Quando eu via a Marina Klimova e o Sergei Ponomarenko, eu nem sequer podia imaginar que não patinaria o meu programa. Depois quando nós íamos a competições estávamos todos numa forma fantástica. Outro exemplo de grandes parceiros de treinos: Virtue & Moir e Davis & White. Olhando para eles, eu sinto que eles se respeitavam mutuamente, apesar de uma equipa ter relegado a outra para segundo lugar, e quatro anos depois, eles terem trocado de lugar. Existe respeito mas é difícil ganhá-lo. Tu tens de querer ganhar.

Entrevistador – Parece-me que Sinitsina & Katsalapov e Bobrova & Soloviev se respeitam mutuamente.

Alexander Zhulin – Nós só começámos agora. Tudo tem funcionado bem até agora, veremos como vai correr. Eu espero que tudo vá correr bem.

Entrevistador – Na teoria tudo parece bem mas quando tu contaste à Katya e ao Dima que a Vika e o Nikita vinham treinar para o teu grupo, eles questionaram-te?

Alexander Zhulin – Não, eles não fizeram isso. Mas eu vi os seus olhares de preocupação. Ainda ninguém sabia como ia ser. Mas depois de algumas sessões de treinos tudo se acalmou.

Entrevistador – O Katsalapov é famoso por ser emocional no processo de treinamento.

Alexander Zhulin – Há atletas diferentes, alguns são super emocionais, outros são mais calmos. O objectivo do Nikita é manter as suas emoções em ordem, o meu objectivo enquanto treinador é o de controlar a situação. Talvez em algumas ocasiões deixá-lo sair mais cedo do treino, noutras ocasiões encontrar as palavras certas. É difícil treinar um campeão. Tu achas que era fácil com o Roman Kostomarov? Longe disso.

Nota: Roman Kostomarov venceu o título olímpico em dança com Tatiana Navka em 2006.

Entrevistador – Mas, como tu disseste, ele e a Tatiana Navka conseguiam voltar a juntar-se ao fim de cinco minutos.

Alexander Zhulin – Eles eram capazes porque eles queriam vencer. Isso ultrapassa as dificuldades pessoais. Se Sinitsina & Katsalapov não sofrerem com variações emocionais, eles têm um grande potencial. Senão, teremos de conversar, tentar explicar e lidar com eles. Mas agora isso são tudo teorias. Nós estamos a trabalhar na coreografia; o processo de treino ainda não começou exactamente. E eu vou recordar-te que o Nikita e a Lena trabalharam comigo durante quatro anos.

Entrevistador – Eu lembro-me.

Alexander Zhulin – Não foi fácil mas houve resultados e eles foram bons.

Entrevistador – Por outro lado, o Nikita sem as suas emoções não será ele mesmo, não é?

Alexander Zhulin – Com certeza. Tu não podes mudar a pessoa, tu apenas podes mudar a direcção. A maior parte depende do Nikita pois ele já não tem 17 anos. Ele tem de começar a pensar e a compreender o que é que ele quer alcançar.

Entrevistador – Tu disseste que lhes faltava paixão. Disseste que era belo, melódico mas que faltava energia.

Alexander Zhulin – Eu concordo; eu disse isso. Vou tentar resolver essas questões.

Entrevistador – Tu sabes como descontrair a Victoria?

Alexander Zhulin – Eu observo-a e estou a pensar nisso.

Entrevistador – Ela é lacónica, reservada e aparentemente só se abre para o Nikita.

Alexander Zhulin – Para mim, o mais importante é que eles tenham novas cores nos seus programas. Não há o suficiente. Eu preciso adicionar cor à sua patinagem. Para isso eu tenho o Sergei Pethukov, um coreógrafo experiente, que passa muito tempo a explicar o que é que nós estamos a patinar. Se eles aprenderem com ele, ou melhor, se eles quiserem aprender com ele, eles terão um novo visual.

Nota: eu sei que esta última frase está horrível em termos de escrita mas foi o que ele disse.

Entrevistador – Tu tens uma excelente atitude mas parece que as nossas equipas não podem esperar por um lugar superior a quinto nos próximos Jogos Olímpicos.

Alexander Zhulin – Porquê? Bobrova & Soloviev terminaram em terceiro na dança livre deste ano (*referência aos mundiais). Se a nota técnica tivesse sido um pouco diferente na dança curta, nós podíamos ter vencido o bronze. Os Jogos Olímpicos são um assunto diferente pois existe o desporto e existe política mas ninguém pode ignorar a patinagem – o factor de ter um grande programa. Os nossos opositores são muito fortes mas nós vamos tentar lutar.

Entrevistador – Tiffany Zahorski e Jonathan Guerreiro deixaram o teu grupo e mudaram-se para a Elena Kustarova. Parece que eles eram como filhos para ti, que tu cuidavas deles e acreditavas neles.

Alexander Zhulin – Bem… como podes ver, são coisas que acontecem. Alguma coisa deve ter corrido mal.

Entrevistador – Foi ideia deles?

Alexander Zhulin – Sim, claro.

Entrevistador - Eles não queriam ser os n.º 3?

Alexander Zhulin – Essa foi provavelmente a razão principal.

Entrevistador – Tu achas que eles teriam sido capazes de progredir no teu grupo com os membros novos ou isso os teria destruído?

Alexander Zhulin – Eu penso que teria sido difícil para eles. Eles não são o tipo de patinadores que fossem trabalhar duas vezes mais do que as outras duas equipas (Bobrova & Soloviev e Sinitsina & Katsalapov) para provar ao treinador que eles devem ser o par n.º 1. Mesmo em teoria. Eles não estavam prontos para isso.

Sem comentários:

Enviar um comentário