O prestigiado treinador e coreógrafo
Alexander Zhulin concedeu uma entrevista a um órgão de comunicação social da
Rússia onde falou sobre os mais recentes desenvolvimentos no seu grupo de
trabalho. O principal destaque vai para as palavras sobre o par Sinitsina &
Katsalapov.
A publicação original da entrevista
pode ser encontrada neste link: http://rsport.ru/interview/20170530/1121152014.HTML
Tradução de entrevista
Alexander Zhulin – A dança livre de
Bobrova & Soloviev está pronta; temos de patiná-la para limar as arestas e
depois Poklitaru (*coreógrafo russo)
vai visitar-nos algumas vezes para dar os retoques finais. Nós tivemos uma
colaboração criativa muito boa; eu gostei.
Entrevistador – Tu tens preocupações
em trabalhar com um coreógrafo tão extraordinário na temporada olímpica, que
esta experiência venha a ser demasiado difícil de compreender?
Alexander Zhulin – Nem por isso. Eu
também trabalho nestes programas e tenho o controlo para garantir que não há
desvios da patinagem artística, que o “trabalho de pés” continua difícil apesar
da coreografia. Eu vejo que tudo vai ficar bem. Nós escolhemos um tipo de
música que eu não quero começar a explicar antes de mostrarmos o programa.
Entrevistador – Mas isto vai ser a
Bobrova & Soloviev que nós todos conhecemos e amamos, patinando com o
coração?
Alexander Zhulin – Espero que a ideia
seja compreendida. O estilo contemporâneo que o Radu (*referência a Poklitaru) apregoa assenta à Katia e ao Dima (*diminuitivos de Ekaterina e Dmitry). Nós
trabalhamos neste caminho.
Entrevistador – Não haverá nenhuma
auto - flagelação no gelo?
Alexander Zhulin – Não.
Entrevistador: Vai nos fazer recordar
a dança dos passados Jogos Olímpicos?
Alexander Zhulin – Não, é uma dança
completamente diferente.
Entrevistador – Em que condição se
encontravam Sinitsina & Katsalapov quando os recebeste?
Alexander Zhulin – Boa. O mais
importante é que o Nikita disse que todas as suas lesões estão curadas e que
nada lhe dói. O ombro de Victoria está um pouco dorido mas isso é porque ela se
lesionou enquanto praticava novas figuras de elevação. Felizmente não existem
lesões. Os atletas estão esfomeados por trabalho e até agora eu estou
satisfeito com tudo.
Entrevistador – Então podes dizer que
eles não desperdiçaram a época passada que foi dura para eles?
Alexander Zhulin – Eu penso que o
problema estava na sua luta com a natureza. Eu refiro-me à técnica diferente em
muitos elementos. O meu objectivo reconciliar as diferenças na técnica deles o
mais rapidamente possível. Depois eles já não terão dificuldades nos elementos,
irão sentir-se mais confortáveis no gelo e terão mais tempo para a coreografia
e emoções. Agora existem algumas pequenas dificuldades técnicas que aparecem no
caminho deles. Eu estou certo de que eles ainda nem sequer realizaram 30% do
seu potencial.
Entrevistador – Eu vejo que eles
estão com bom espirito.
Alexander Zhulin – Sim e eu vejo que
ter aqui tanto Bobrova & Soloviev como Sinitsina & Katsalapov, coisa
que estava a preocupar muitas pessoas… Até agora, eu não quero agoirar mas eu
não vejo quaisquer problemas.
Entrevistador – Falando dos problemas
técnicos que tu mencionaste, isso significa que os treinadores anteriores –
Marina Zoueva, Oleg Volkov, Elena Tchaikovskaya – foram incapazes de
resolvê-los?
Alexander Zhulin – Eu nunca falo
sobre os meus colegas.
Entrevistador – Ok, então esta
incompatibilidade técnica continuou na mesma desde que eles formaram parceria?
Alexander Zhulin – Eu não posso dizer
nada porque não trabalhei com eles nessa altura. Agora que os tenho, eu vejo as
nuances e tento ajudar. Se eu tiver sucesso.
Entrevistador – Que imagens é que a
Victoria e o Nikita nos vão mostrar nesta temporada?
Alexander Zhulin – A dança curta é
latina, (*aqui não consegui perceber algumas palavras), mas eu penso que nós
encontrámos música fora do vulgar que deverá resultar para eles. É uma dança
latina muito fora do vulgar. E, inesperadamente, nós tivemos a mesma ideia para
a dança livre. Eu vi-os a patinar em grande, com amplitude, e pensei que
Rachmaninoff seria mesmo uma óptima escolha para eles. Eles vieram até mim e a
primeira coisa que eles disseram foi “Sasha, o que é que tu pensas sobre
Rachmaninoff?” Foi uma escolha mútua. Os meus favoritos são o “Concerto n.º 2”
e “Vocalise”, então nós fizemos uma combinação dos dois para o livre.
Entrevistador – Vocês vão incluir a
abertura do “Concerto n.º 2”?
Alexander Zhulin – Sem dúvida. Vamos
começar a dança com essa parte.
Entrevistador – Este duo trabalha bem
temas russos. O programa deve ser um sucesso?
Alexander Zhulin – Eu penso que esta
é a equipa que pode mostrar todo o tipo de temas no gelo. Eles ouvem a música,
eles são musicais por natureza.
Entrevistador – Então a Vika (*diminuitivo deVictoria) não é apenas uma
clássica beleza russa, melódica e a patinar com amplitude?
Alexander Zhulin – Eu espero que ela
brilhe. Nos últimos três anos em que eu os tenho visto, ela melhorou
significativamente em termos de projecção. Ela começou a transformar-se de uma
beleza russa para uma patinadora com uma variedade de emoções. Mas isso
necessita de desenvolvimento para termos a certeza que existe um carisma
unificado, química, esta ligação mágica entre os patinadores. Que eles não
projectem só por si mas como um par.
Entrevistador – A nossa entrevista
passada foi intitulada “Ilinykh precisa de Katsalapov”.
Alexander Zhulin – Bem, como
treinador penso que sim mas o Nikita tomou uma decisão definitiva sobre a sua
parceira e ele não queria ouvir mais nada. Parece que ele se sente confortável
patinando e trabalhando com Viktoria. Está tudo bem, eles ainda são uma equipa
jovem apesar dele já ser campeão olímpico. Eu penso que eles ainda vão patinar
juntos pelo menos por mais cinco anos.
Entrevistador - Houve alguma pressão
no Nikita para que ele voltasse a patinar com a sua anterior parceira?
Alexander Zhulin – Não faço ideia.
Entrevistador – Houve um rumor de que
eles até chegaram a fazer um teste neste final de temporada.
Alexander Zhulin – Talvez. Eu não
sei. Ele e a Vika vieram ter comigo e pediram-me que reunisse com eles e no dia
seguinte eles estavam na pista de gelo.
Entrevistador – Tu conheces todos os
patinadores de que falamos. Há informação não oficial de que Ruslan Zhiganshin,
parceiro de Ilinykh, terminou a carreira competitiva. Tu tens alguns
pensamentos na tua mente de que teoricamente pode existir uma situação de
passar pelo mesmo rio duas vezes?
Alexander Zhulin – Eu penso que se um
casal passar por um divórcio as coisas dificilmente voltarão a ser as mesmas. A
patinagem artística é assim. Eles separaram-se e eu não penso que voltarão a
estar juntos novamente.
Entrevistador – É o mesmo de quando
tu deixaste a Maya Usova pela Oksana Grishuk que depois tentou voltar para o
seu anterior parceiro Evgeny Platov com quem venceu duas medalhas de ouro
olímpicas?
Alexander Zhulin – Sim, é parecido
com isso.
Entrevistador – Então realmente não
há problemas com a competição dentro do teu grupo? Porque a nossa mentalidade é
assim: há uma nova equipa forte; isto significa que o treinador mudou as suas
prioridades?
Alexander Zhulin – O treinador
principal tem de ter uma atitude muito simples: ele deve trabalhar honestamente
com todas as equipas. Eu gosto de observar o Brian Orser, a Eteri Tutberidze, a
Marie-France Dubreuil e o Patrice Lauzon. É um trabalho muito sincero e todos
os patinadores têm tudo o que lhes permite patinar e manter o seu destino nas
suas próprias mãos. Os mais fracos podem ser deixados para trás mas os fortes
prevalecem. Se tu fores forte, tu vais beneficiar de ter competição. Se tu
fores fraco, o que é que há para falar?
Entrevistador – Isso é possível aqui?
Alexander Zhulin – Porque não? Quando
eu patinava, nós tínhamos um grupo forte: Marina Klimova & Sergei Ponomarenko,
Usova & Zhulin, Grishuk & Platov. Resultado: ganhámos todos os lugares
no pódio nos mundiais de 1992. Não existam discussões, não havia problemas,
todos trabalhavam no duro. A Natalia Dubova (*grande treinadora nessa época) podia afastar-se da pista de gelo.
Nós puxávamos uns pelos outros e isso fez-nos crescer.
Entrevistador – Mas provavelmente tu
tiveste à mesma de pensar nas palavras certas para dizer à Katya e ao Dima
sobre a Vika e o Nikita.
Alexander Zhulin – Nós discutimos
esta situação no ano passado. Eu disse-lhes que seria muito bom para eles terem
parceiros de treino fortes. A competição não é suficiente, patinadores de elite
como Bobrova & Soloviev, precisam de um empurrão adicional em todos os
treinos. Se eles forem para o gelo e verem quão bons são Sinitsina &
Katsalapov, logicamente que no dia seguinte eles terão de ir patinar o seu
melhor. Esta é a minha abordagem. Pessoalmente era o que eu faria. Quando eu
via a Marina Klimova e o Sergei Ponomarenko, eu nem sequer podia imaginar que
não patinaria o meu programa. Depois quando nós íamos a competições estávamos
todos numa forma fantástica. Outro exemplo de grandes parceiros de treinos:
Virtue & Moir e Davis & White. Olhando para eles, eu sinto que eles se
respeitavam mutuamente, apesar de uma equipa ter relegado a outra para segundo
lugar, e quatro anos depois, eles terem trocado de lugar. Existe respeito mas é
difícil ganhá-lo. Tu tens de querer ganhar.
Entrevistador – Parece-me que
Sinitsina & Katsalapov e Bobrova & Soloviev se respeitam mutuamente.
Alexander Zhulin – Nós só começámos
agora. Tudo tem funcionado bem até agora, veremos como vai correr. Eu espero
que tudo vá correr bem.
Entrevistador – Na teoria tudo parece
bem mas quando tu contaste à Katya e ao Dima que a Vika e o Nikita vinham
treinar para o teu grupo, eles questionaram-te?
Alexander Zhulin – Não, eles não
fizeram isso. Mas eu vi os seus olhares de preocupação. Ainda ninguém sabia
como ia ser. Mas depois de algumas sessões de treinos tudo se acalmou.
Entrevistador – O Katsalapov é famoso
por ser emocional no processo de treinamento.
Alexander Zhulin – Há atletas
diferentes, alguns são super emocionais, outros são mais calmos. O objectivo do
Nikita é manter as suas emoções em ordem, o meu objectivo enquanto treinador é
o de controlar a situação. Talvez em algumas ocasiões deixá-lo sair mais cedo
do treino, noutras ocasiões encontrar as palavras certas. É difícil treinar um
campeão. Tu achas que era fácil com o Roman Kostomarov? Longe disso.
Nota: Roman Kostomarov
venceu o título olímpico em dança com Tatiana Navka em 2006.
Entrevistador – Mas, como tu
disseste, ele e a Tatiana Navka conseguiam voltar a juntar-se ao fim de cinco
minutos.
Alexander Zhulin – Eles eram capazes
porque eles queriam vencer. Isso ultrapassa as dificuldades pessoais. Se
Sinitsina & Katsalapov não sofrerem com variações emocionais, eles têm um
grande potencial. Senão, teremos de conversar, tentar explicar e lidar com
eles. Mas agora isso são tudo teorias. Nós estamos a trabalhar na coreografia;
o processo de treino ainda não começou exactamente. E eu vou recordar-te que o
Nikita e a Lena trabalharam comigo durante quatro anos.
Entrevistador – Eu lembro-me.
Alexander Zhulin – Não foi fácil mas
houve resultados e eles foram bons.
Entrevistador – Por outro lado, o
Nikita sem as suas emoções não será ele mesmo, não é?
Alexander Zhulin – Com certeza. Tu
não podes mudar a pessoa, tu apenas podes mudar a direcção. A maior parte
depende do Nikita pois ele já não tem 17 anos. Ele tem de começar a pensar e a
compreender o que é que ele quer alcançar.
Entrevistador – Tu disseste que lhes
faltava paixão. Disseste que era belo, melódico mas que faltava energia.
Alexander Zhulin – Eu concordo; eu
disse isso. Vou tentar resolver essas questões.
Entrevistador – Tu sabes como
descontrair a Victoria?
Alexander Zhulin – Eu observo-a e
estou a pensar nisso.
Entrevistador – Ela é lacónica,
reservada e aparentemente só se abre para o Nikita.
Alexander Zhulin – Para mim, o mais
importante é que eles tenham novas cores nos seus programas. Não há o
suficiente. Eu preciso adicionar cor à sua patinagem. Para isso eu tenho o
Sergei Pethukov, um coreógrafo experiente, que passa muito tempo a explicar o
que é que nós estamos a patinar. Se eles aprenderem com ele, ou melhor, se eles
quiserem aprender com ele, eles terão um novo visual.
Nota: eu sei que esta
última frase está horrível em termos de escrita mas foi o que ele disse.
Entrevistador – Tu tens uma excelente
atitude mas parece que as nossas equipas não podem esperar por um lugar
superior a quinto nos próximos Jogos Olímpicos.
Alexander Zhulin – Porquê? Bobrova
& Soloviev terminaram em terceiro na dança livre deste ano (*referência aos mundiais). Se a nota
técnica tivesse sido um pouco diferente na dança curta, nós podíamos ter
vencido o bronze. Os Jogos Olímpicos são um assunto diferente pois existe o
desporto e existe política mas ninguém pode ignorar a patinagem – o factor de
ter um grande programa. Os nossos opositores são muito fortes mas nós vamos
tentar lutar.
Entrevistador – Tiffany Zahorski e
Jonathan Guerreiro deixaram o teu grupo e mudaram-se para a Elena Kustarova.
Parece que eles eram como filhos para ti, que tu cuidavas deles e acreditavas
neles.
Alexander Zhulin – Bem… como podes
ver, são coisas que acontecem. Alguma coisa deve ter corrido mal.
Entrevistador – Foi ideia deles?
Alexander Zhulin – Sim, claro.
Entrevistador - Eles não queriam ser
os n.º 3?
Alexander Zhulin – Essa foi
provavelmente a razão principal.
Entrevistador – Tu achas que eles
teriam sido capazes de progredir no teu grupo com os membros novos ou isso os
teria destruído?
Alexander Zhulin – Eu penso que teria
sido difícil para eles. Eles não são o tipo de patinadores que fossem trabalhar
duas vezes mais do que as outras duas equipas (Bobrova & Soloviev e
Sinitsina & Katsalapov) para provar ao treinador que eles devem ser o par
n.º 1. Mesmo em teoria. Eles não estavam prontos para isso.
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