Elizaveta Tuktamysheva está na ribalta da patinagem
feminina desde o escalão júnior. Na temporada 2014/2015, Elizaveta conquistou o
título europeu e o título mundial e parecia imbatível, com o triplo axel à
mistura. No entanto, na época passada, ela afundou-se nos campeonatos
nacionais, onde a concorrência é muito forte, e foi deixada de fora da selecção
nacional russa para as principais competições internacionais. Esta temporada é
especial devido aos Jogos Olímpicos de 2018 e Elizaveta é uma das candidatas a
representar a Rússia nessa importante competição. Nos testes organizados pela
federação russa as coisas parecem ter corrido bem a Elizaveta e muita gente
gostou especialmente do seu novo programa curto.
Entretanto, ela concedeu uma entrevista a um órgão de
comunicação social da Rússia cujo original pode ser consultado neste
link: http://www.sport-express.ru/figure-skating/reviews/elizaveta-tuktamysheva-opyt-nepopadaniya-na-olimpiadu-moe-preimuschestvo-1307288/
Tradução de entrevista
Jornalista – Como está a decorrer a
preparação para a temporada?
Elizaveta – Já há algum tempo que
estamos a treinar os programas completos. Eu encontro-me numa forma decente.
Certamente em melhor forma do que na mesma fase no ano passado.
Jornalista – O que é que foi mais
importante nos testes em Sochi?
Elizaveta – Mostrar os programas
completos. Claro que eles estavam a verificar a parte técnica mas o mais
importante é o estado do programa: as transições, os peões, os passos. Essas coisas
fazem realçar o programa. O ambiente estava algo nervoso apesar de
compreenderes que não é um evento importante. Mesmo assim é o primeiro evento
da época e, como diz o meu treinador, “só um idiota não ficaria preocupado”.
Jornalista – Tu e o teu treinador já
compilaram o plano da temporada?
Elizaveta – De momento estamos a
planear um início de temporada intenso. O Troféu Lombardia e depois talvez mais
algumas competições. Eu penso que antes dos grandes prémios vamos fazer pelo
menos 3 competições.
Jornalista – A triste experiência de
não teres ido aos jogos olímpicos – esse é o teu ponto fraco ou uma vantagem?
Elizaveta – Eu vou tentar transformar
isso numa vantagem. Especialmente porque tantas pessoas acreditam em mim. É
motivador.
Jornalista – Qual é o estado da tua
técnica?
Elizaveta – Eu recuperei todos os
triplos, agora só tenho de fazê-los em competição. Só tenho feito o triplo axel
nos treinos. Para já, nós pensamos colocá-lo só num programa. O programa livre.
Jornalista – Olhando para o conteúdo
técnico das miúdas juniores, tu pensas em ti própria no início do teu caminho
com “eu também conseguia saltar com essa facilidade”?
Elizaveta – Não de todos. Parabéns às
garotas. É óptimo que a patinagem artística se desenvolva. Eu desejo que as
garotas possam patinar aos 20 anos como elas patinam agora, quando as hormonas,
etc, já fizeram estragos. Eu não penso nos “tempos antigos”. Pelo menos eu
tento não pensar. Eu prefiro que os meus saltos sejam mais fáceis na
actualidade.
Jornalista – Os comentários do género
“A Liza nunca regressará ao seu nível anterior” chateiam-te?
Elizaveta – É engraçado que as
pessoas que me descartam são as que já nem estão no sistema. Quanto aos fãs,
eles são pessoas emocionais e sentem pelo seu atleta. Então há aqueles que são
a favor e os que são contra. Mas, francamente, eu não tenho tempo para ler os
comentários. Se eu estive fora dos Europeus e Mundiais, isso significa que esse
tempo me foi dado para outra coisa. Eu curei-me, tentei novas personagens no
gelo, passei mais tempo com os meus entes queridos. Isso é uma coisa má?
Jornalista – Uma das últimas
tendências são os saltos na segunda metade do programa ao modo ‘tano ou Rippon.
Vais tentar aumentar o valor base dos teus programas com isso?
Elizaveta – Claro que posso. Levantar
assim os braços não é nada de especial. Quanto a integrar os saltos na segunda
metade do programa, bem, no meu programa curto dois elementos são na segunda
metade. Mesmo assim, apesar da mudança para a segunda parte do programa dar
mais pontos, eu não gosto de programas em que a garota patina às voltas durante
dois minutos. O conjunto do programa é parcialmente conseguido pela boa
distribuição dos saltos. Os programas têm de ser um mini-teatro no gelo.
Jornalista – No entanto, muitos
especialistas consideram-te uma tecnicista pois os componentes não são o teu
ponto forte.
Elizaveta – De facto, eu sou muitas
vezes considerada uma saltadora. Eu espero que nesta temporada eu também brilhe
nos meus programas.
Jornalista – O que é que podes dizer
sobre os novos programas?
Elizaveta – Eu adoro os meus
programas e penso que não vamos mudá-los. Eles saíram coloridos, emocionais e
divertidos. Pelo menos no programa curto. Eu penso que será a minha personagem
habitual mas um pouquinho diferente.
Jornalista – E como é que vais
parecer?
Elizaveta – Alegre, divertida,
brincalhona. Claro que haverá paixão e elegância. Claro que é sobre os dois
programas e não tudo de uma vez.
Jornalista – Os fãs questionam-se
sobre o porquê de nas exibições usares vestidos coloridos e sexys e, no
entanto, nas competições habitualmente vestidos largos e escuros.
Elizaveta – Nós escolhemos os
vestidos de acordo com as minhas preferências. Eu gosto dos vestidos flutuantes
nas competições.
Jornalista – O teu treinador Alexey
Mishin é conhecido por ser tão calmo durante as competições, enquanto outros
preparam os seus patinadores para uma luta e habitualmente começam uma
dissecação logo após a prestação…
Elizaveta – Isso simplesmente não
resultaria comigo. Além disso, o Alexey Nikolaevich não é pessoa que te obrigue
a fazer coisas. Ele sabe perfeitamente que se um atleta for inteligente, ele
saberá atingir a atitude certa e saberá o que é que precisa. Não faz sentido
gritar ou exigir.
Jornalista – Ele desdenha-te pelo
menos em algumas ocasiões?
Elizaveta – Se alguma está errada,
ele diz de uma vez. Ele nunca desdenha mas pode ser rígido nas suas opiniões.
Eu gosto disso e penso que essa é a abordagem correcta.
Jornalista – Ele alguma vez colocou a
Kostner como um exemplo ou a ti como um exemplo para ela?
Elizaveta – Isso raramente acontece.
Além disso, nós trabalhamos com a coreógrafa Tatiana Prokofieva que me ajuda
muito. Mesmo quando o Alexey Nikolaevich está focado na Carolina, eu fico sob a
orientação da Tatiana Nikolaevna. Assim há atenção suficiente para todos.
Jornalista – Mas os treinos mudaram
desde a chegada da Carolina?
Elizaveta – No geral não, é mais como
se a competição passasse a fazer parte disso. Afinal nós fazemos habitualmente
todos os elementos, todos os saltos. De certo modo, ter uma oponente tão forte
é uma coisa positiva. Nós temos boas relações e tenho de me enquadrar.
Jornalista – Estás satisfeita com as
inscrições nos grandes prémios – China e França?
Elizaveta – Na minha situação seria
patético falar em preferências. Eu estou feliz por ter conseguido a França e
sou sempre bem aceite na China.
Jornalista – De entre os patinadores,
com quem é que mantiveste mais contacto durante o ano passado?
Elizaveta – Eu dou-me bem com a
Kaitlyn Weaver. No geral gosto muito da equipa canadiana. Nós começámos a falar
durante as competições e descobrimos que temos muitos interesses em comum. Além
disso, a Kaitlyn é uma pessoa muito interessante e sã. Eu gosto.
Jornalista – Essa é a patinadora a
quem os fãs russos chamam ‘Katusha’.
Elizaveta – Exactamente. Ela chama-me
‘Lizonchik’.
Jornalista – A língua é uma barreira?
Elizaveta – O meu inglês falado não é
muito mau. Claro que, quando começamos a falar de temas que não estão
relacionados com patinagem artística, há algumas dificuldades. Mas nós
descobrimos sempre uma maneira. Para além dela, eu mantenho contacto com a
Ekaterina Ryazanova. Ela retirou-se mas ainda se mantém no mundo da patinagem
artística.
Jornalista – Há uma ideia de que os
patinadores se tornam adultos no gelo mas que fora do rinque ainda são uns
bebés.
Elizaveta – Disparate. Talvez seja
verdade para alguns mas eu não conheço patinadores desses. Eu não sei como
explicar mas eu não sinto diferença na vida dentro do desporto e fora dele. E
não conheci muitos que façam essa diferença.
Jornalista – Duas temporadas de fora
da selecção, com muito tempo livre, tu não encontraste algo que gostasses de
fazer à margem da patinagem artística?
Elizaveta – Mesmo quando eu não
estava a competir, eu continuei a treinar e a curar as minhas costas. Houve
sempre algo para fazer e a minha vida continua a girar em torno da patinagem
artística. Eu não quero dispersar-me e eu ainda não decidi o que quero fazer
depois disto. Então, mesmo que não haja competições, os meus treinadores
arranjam sempre em que trabalhar durante os treinos.
Jornalista – Não há muito tempo tu
paraste de esconder a tua relação com o Andrey Lazukin. Se não fôr segredo,
quem é que paquerou quem?
Elizaveta – Nós fomos amigos durante
algum tempo – nós começámos a comunicar assim que ele se mudou para o nosso
grupo. Penso que desde os treze anos. Nós conhecemo-nos há muito tempo. A
iniciativa partiu dos dois – os nossos caminhos cruzavam-se frequentemente. É
mais comum nos pares pois patinam juntos e veem-se o tempo todo. Nós sabemos de
muitos exemplos de pares que, quando começaram a namorar, se esqueceram de
trabalhar. Os atletas são pessoas muito disciplinadas e são espertas o
suficiente para não deixarem as emoções atrapalhar os treinos. Pelo menos no
nosso caso não atrapalham.
Jornalista – Os rapazes do grupo
fazem piadas sobre vocês?
Elizaveta – O humor é uma grande
parte do nosso grupo portanto há muitas piadas à nossa custa. Isso não perturba
os treinos mas adiciona divertimento e cria um ambiente positivo.
Jornalista – O que é que dirias
àqueles que pensam que se há amor na tua vida então a patinagem artística
torna-se a segunda coisa mais importante?
Elizaveta – Para que se metam na sua
própria vida e sejam felizes!
Jornalista – Mesmo apesar das duas
últimas temporadas, tu és uma patinadora com títulos. No entanto, o teu
namorado ainda não alcançou títulos. Isso influencia a vossa relação? Afinal de
contas é importante para os homens serem os primeiros…
Elizaveta – Nós apenas nos apoiamos
mutuamente, é só isso. A nossa relação não é construída no desporto mas sim dos
nossos sentimentos. Assim sendo, o Andrey, como o jovem inteligente que é, compreende
que os meus feitos não são motivo para ciúme ou inveja. São uma razão para
patinar melhor.
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