sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Tradução de entrevista de Elizaveta Tuktamysheva

Elizaveta Tuktamysheva está na ribalta da patinagem feminina desde o escalão júnior. Na temporada 2014/2015, Elizaveta conquistou o título europeu e o título mundial e parecia imbatível, com o triplo axel à mistura. No entanto, na época passada, ela afundou-se nos campeonatos nacionais, onde a concorrência é muito forte, e foi deixada de fora da selecção nacional russa para as principais competições internacionais. Esta temporada é especial devido aos Jogos Olímpicos de 2018 e Elizaveta é uma das candidatas a representar a Rússia nessa importante competição. Nos testes organizados pela federação russa as coisas parecem ter corrido bem a Elizaveta e muita gente gostou especialmente do seu novo programa curto. 

Entretanto, ela concedeu uma entrevista a um órgão de comunicação social da Rússia cujo original pode ser consultado neste link: http://www.sport-express.ru/figure-skating/reviews/elizaveta-tuktamysheva-opyt-nepopadaniya-na-olimpiadu-moe-preimuschestvo-1307288/




Tradução de entrevista

Jornalista – Como está a decorrer a preparação para a temporada?

Elizaveta – Já há algum tempo que estamos a treinar os programas completos. Eu encontro-me numa forma decente. Certamente em melhor forma do que na mesma fase no ano passado.

Jornalista – O que é que foi mais importante nos testes em Sochi?

Elizaveta – Mostrar os programas completos. Claro que eles estavam a verificar a parte técnica mas o mais importante é o estado do programa: as transições, os peões, os passos. Essas coisas fazem realçar o programa. O ambiente estava algo nervoso apesar de compreenderes que não é um evento importante. Mesmo assim é o primeiro evento da época e, como diz o meu treinador, “só um idiota não ficaria preocupado”.

Jornalista – Tu e o teu treinador já compilaram o plano da temporada?

Elizaveta – De momento estamos a planear um início de temporada intenso. O Troféu Lombardia e depois talvez mais algumas competições. Eu penso que antes dos grandes prémios vamos fazer pelo menos 3 competições.

Jornalista – A triste experiência de não teres ido aos jogos olímpicos – esse é o teu ponto fraco ou uma vantagem?

Elizaveta – Eu vou tentar transformar isso numa vantagem. Especialmente porque tantas pessoas acreditam em mim. É motivador.

Jornalista – Qual é o estado da tua técnica?

Elizaveta – Eu recuperei todos os triplos, agora só tenho de fazê-los em competição. Só tenho feito o triplo axel nos treinos. Para já, nós pensamos colocá-lo só num programa. O programa livre.

Jornalista – Olhando para o conteúdo técnico das miúdas juniores, tu pensas em ti própria no início do teu caminho com “eu também conseguia saltar com essa facilidade”?

Elizaveta – Não de todos. Parabéns às garotas. É óptimo que a patinagem artística se desenvolva. Eu desejo que as garotas possam patinar aos 20 anos como elas patinam agora, quando as hormonas, etc, já fizeram estragos. Eu não penso nos “tempos antigos”. Pelo menos eu tento não pensar. Eu prefiro que os meus saltos sejam mais fáceis na actualidade.  

Jornalista – Os comentários do género “A Liza nunca regressará ao seu nível anterior” chateiam-te?

Elizaveta – É engraçado que as pessoas que me descartam são as que já nem estão no sistema. Quanto aos fãs, eles são pessoas emocionais e sentem pelo seu atleta. Então há aqueles que são a favor e os que são contra. Mas, francamente, eu não tenho tempo para ler os comentários. Se eu estive fora dos Europeus e Mundiais, isso significa que esse tempo me foi dado para outra coisa. Eu curei-me, tentei novas personagens no gelo, passei mais tempo com os meus entes queridos. Isso é uma coisa má?

Jornalista – Uma das últimas tendências são os saltos na segunda metade do programa ao modo ‘tano ou Rippon. Vais tentar aumentar o valor base dos teus programas com isso?

Elizaveta – Claro que posso. Levantar assim os braços não é nada de especial. Quanto a integrar os saltos na segunda metade do programa, bem, no meu programa curto dois elementos são na segunda metade. Mesmo assim, apesar da mudança para a segunda parte do programa dar mais pontos, eu não gosto de programas em que a garota patina às voltas durante dois minutos. O conjunto do programa é parcialmente conseguido pela boa distribuição dos saltos. Os programas têm de ser um mini-teatro no gelo.

Jornalista – No entanto, muitos especialistas consideram-te uma tecnicista pois os componentes não são o teu ponto forte.

Elizaveta – De facto, eu sou muitas vezes considerada uma saltadora. Eu espero que nesta temporada eu também brilhe nos meus programas.

Jornalista – O que é que podes dizer sobre os novos programas?

Elizaveta – Eu adoro os meus programas e penso que não vamos mudá-los. Eles saíram coloridos, emocionais e divertidos. Pelo menos no programa curto. Eu penso que será a minha personagem habitual mas um pouquinho diferente.

Jornalista – E como é que vais parecer?

Elizaveta – Alegre, divertida, brincalhona. Claro que haverá paixão e elegância. Claro que é sobre os dois programas e não tudo de uma vez.

Jornalista – Os fãs questionam-se sobre o porquê de nas exibições usares vestidos coloridos e sexys e, no entanto, nas competições habitualmente vestidos largos e escuros.

Elizaveta – Nós escolhemos os vestidos de acordo com as minhas preferências. Eu gosto dos vestidos flutuantes nas competições.

Jornalista – O teu treinador Alexey Mishin é conhecido por ser tão calmo durante as competições, enquanto outros preparam os seus patinadores para uma luta e habitualmente começam uma dissecação logo após a prestação…

Elizaveta – Isso simplesmente não resultaria comigo. Além disso, o Alexey Nikolaevich não é pessoa que te obrigue a fazer coisas. Ele sabe perfeitamente que se um atleta for inteligente, ele saberá atingir a atitude certa e saberá o que é que precisa. Não faz sentido gritar ou exigir.

Jornalista – Ele desdenha-te pelo menos em algumas ocasiões?

Elizaveta – Se alguma está errada, ele diz de uma vez. Ele nunca desdenha mas pode ser rígido nas suas opiniões. Eu gosto disso e penso que essa é a abordagem correcta.

Jornalista – Ele alguma vez colocou a Kostner como um exemplo ou a ti como um exemplo para ela?

Elizaveta – Isso raramente acontece. Além disso, nós trabalhamos com a coreógrafa Tatiana Prokofieva que me ajuda muito. Mesmo quando o Alexey Nikolaevich está focado na Carolina, eu fico sob a orientação da Tatiana Nikolaevna. Assim há atenção suficiente para todos.

Jornalista – Mas os treinos mudaram desde a chegada da Carolina?

Elizaveta – No geral não, é mais como se a competição passasse a fazer parte disso. Afinal nós fazemos habitualmente todos os elementos, todos os saltos. De certo modo, ter uma oponente tão forte é uma coisa positiva. Nós temos boas relações e tenho de me enquadrar.

Jornalista – Estás satisfeita com as inscrições nos grandes prémios – China e França?

Elizaveta – Na minha situação seria patético falar em preferências. Eu estou feliz por ter conseguido a França e sou sempre bem aceite na China.

Jornalista – De entre os patinadores, com quem é que mantiveste mais contacto durante o ano passado?

Elizaveta – Eu dou-me bem com a Kaitlyn Weaver. No geral gosto muito da equipa canadiana. Nós começámos a falar durante as competições e descobrimos que temos muitos interesses em comum. Além disso, a Kaitlyn é uma pessoa muito interessante e sã. Eu gosto.

Jornalista – Essa é a patinadora a quem os fãs russos chamam ‘Katusha’.

Elizaveta – Exactamente. Ela chama-me ‘Lizonchik’.

Jornalista – A língua é uma barreira?

Elizaveta – O meu inglês falado não é muito mau. Claro que, quando começamos a falar de temas que não estão relacionados com patinagem artística, há algumas dificuldades. Mas nós descobrimos sempre uma maneira. Para além dela, eu mantenho contacto com a Ekaterina Ryazanova. Ela retirou-se mas ainda se mantém no mundo da patinagem artística.

Jornalista – Há uma ideia de que os patinadores se tornam adultos no gelo mas que fora do rinque ainda são uns bebés.

Elizaveta – Disparate. Talvez seja verdade para alguns mas eu não conheço patinadores desses. Eu não sei como explicar mas eu não sinto diferença na vida dentro do desporto e fora dele. E não conheci muitos que façam essa diferença.

Jornalista – Duas temporadas de fora da selecção, com muito tempo livre, tu não encontraste algo que gostasses de fazer à margem da patinagem artística?

Elizaveta – Mesmo quando eu não estava a competir, eu continuei a treinar e a curar as minhas costas. Houve sempre algo para fazer e a minha vida continua a girar em torno da patinagem artística. Eu não quero dispersar-me e eu ainda não decidi o que quero fazer depois disto. Então, mesmo que não haja competições, os meus treinadores arranjam sempre em que trabalhar durante os treinos.

Jornalista – Não há muito tempo tu paraste de esconder a tua relação com o Andrey Lazukin. Se não fôr segredo, quem é que paquerou quem?

Elizaveta – Nós fomos amigos durante algum tempo – nós começámos a comunicar assim que ele se mudou para o nosso grupo. Penso que desde os treze anos. Nós conhecemo-nos há muito tempo. A iniciativa partiu dos dois – os nossos caminhos cruzavam-se frequentemente. É mais comum nos pares pois patinam juntos e veem-se o tempo todo. Nós sabemos de muitos exemplos de pares que, quando começaram a namorar, se esqueceram de trabalhar. Os atletas são pessoas muito disciplinadas e são espertas o suficiente para não deixarem as emoções atrapalhar os treinos. Pelo menos no nosso caso não atrapalham.

Jornalista – Os rapazes do grupo fazem piadas sobre vocês?

Elizaveta – O humor é uma grande parte do nosso grupo portanto há muitas piadas à nossa custa. Isso não perturba os treinos mas adiciona divertimento e cria um ambiente positivo.

Jornalista – O que é que dirias àqueles que pensam que se há amor na tua vida então a patinagem artística torna-se a segunda coisa mais importante?

Elizaveta – Para que se metam na sua própria vida e sejam felizes!

Jornalista – Mesmo apesar das duas últimas temporadas, tu és uma patinadora com títulos. No entanto, o teu namorado ainda não alcançou títulos. Isso influencia a vossa relação? Afinal de contas é importante para os homens serem os primeiros…


Elizaveta – Nós apenas nos apoiamos mutuamente, é só isso. A nossa relação não é construída no desporto mas sim dos nossos sentimentos. Assim sendo, o Andrey, como o jovem inteligente que é, compreende que os meus feitos não são motivo para ciúme ou inveja. São uma razão para patinar melhor.  

Sem comentários:

Enviar um comentário