Olá a todos e bem-vindos ao blogue :)
A russa Ksenia Stolbova é uma das patinadoras mais populares e juntamente com Fedor Klimov conquistou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos 2014, na disciplina de pares, para além de alcançar outros feitos.
O ano de 2018 tem sido particularmente turbulento para ela. Inexplicavelmente, Ksenia não fez parte da lista de atletas convidados para competir nos Jogos Olímpicos de PeyongChang, no âmbito dos problemas ocorridos com o Comité Olímpico russo. Ksenia viu-se envolvida num processo kafkiano em que foi impedida de competir sem nunca ter sido formalmente acusada de nada. Depois ela lesionou-se e não pôde participar nos campeonatos do mundo que decorreram em Milão. Ksenia afastou-se por uns tempos mas os rumores sobre o estado da parceria dela com Fedor Klimov não pararam de crescer. No Verão confirmou-se a separação. Entretanto foi noticiado que Ksenia Stolbova vai continuar a carreira na competição ao lado de Andrei Novoselov.
O ano de 2018 tem sido particularmente turbulento para ela. Inexplicavelmente, Ksenia não fez parte da lista de atletas convidados para competir nos Jogos Olímpicos de PeyongChang, no âmbito dos problemas ocorridos com o Comité Olímpico russo. Ksenia viu-se envolvida num processo kafkiano em que foi impedida de competir sem nunca ter sido formalmente acusada de nada. Depois ela lesionou-se e não pôde participar nos campeonatos do mundo que decorreram em Milão. Ksenia afastou-se por uns tempos mas os rumores sobre o estado da parceria dela com Fedor Klimov não pararam de crescer. No Verão confirmou-se a separação. Entretanto foi noticiado que Ksenia Stolbova vai continuar a carreira na competição ao lado de Andrei Novoselov.
Por favor cliquem no link para o artigo para ver as fotos e ajudar a jornalista: https://rsport.ria.ru/figure_skating/20180911/1141664497.html
Ksenia Stolbova
Ksenia Stolbova
Fonte: Instagram
Tradução de entrevista
Jornalista - Em Dezembro do ano passado tu e o teu parceiro ficaram em segundo lugar nos campeonatos nacionais, foram escalados para a selecção nacional e venceram a prata nos Europeus. A partir de quando é que as coisas começaram a correr mal? Foi quando soubeste que não podias competir nos Jogos Olímpicos?
Ksenia Stolbova - Os Jogos Olímpicos são outro assunto. Mas mesmo antes de saber que eu não tinha sido convidada para PyeongChang, eu percebi que não estava feliz de todo - o ambiente esteve assim desde o início da temporada.
Jornalista - Contudo vocês eram esperados nos Mundiais em Milão. Tu falhaste esta competição porque estavas mesmo lesionada ou isso foi só uma desculpa?
Ksenia - Eu sofri mesmo uma lesão grave. Aconteceu no dia 18 ou 19 de Fevereiro; não me recordo com exactidão. Eu torci a perna duas vezes durante a execução do triplo flip - que é provavelmente o meu elemento favorito. Eu continuei a patinar por mais vinte minutos. Eu percebi que algo de errado se estava a passar com a minha perna mas decidi que iria aguentar, terminar o treino e depois ver o que era. No dia seguinte fizeram-me um exame e o diagnóstico não foi bom: o ligamento estava quase rasgado em três sítios. A perna inchou e parecia um elefante.
Jornalista - E tu foste para a América em busca de tratamento?
Ksenia - Não. Colocaram-me um suporte e eu fiquei sozinha durante três semanas - ninguém quis saber o que se estava a passar comigo.
Jornalista - Mas houve alguma reacção por parte do teu parceiro e da treinadora?
Ksenia - Assim que a Nina Mikhailovna Mozer regressou dos Jogos Olímpicos, nós conversámos sobre a necessidade de fazer uma longa pausa. Essa foi a única coisa que nós os quatro falámos sentados - eu, o Fedor, a Nina Mikhailovna e o Vladislav Zhovnirsky, que era, de facto, o nosso treinador.
Jornalista - Qual era o significado de "longa pausa"?
Ksenia - Pelo menos meio ano. Eu fiquei confusa quando percebi que, dos quatro, três tinham tomado essa decisão: eu não compreendi, fiquei ressentida e isso somou-se à ausência recente nos Jogos Olímpicos - ainda por cima havia a minha lesão. Eu realmente não compreendi por que é que não podíamos passar os próximos meses a curar a minha perna para depois trabalharmos duramente para que o início da temporada fosse decente e não como a anterior. Eu comuniquei logo à equipa que não podia terminar a minha carreira desta maneira porque iria arrepender-me e iria sentir que desapontei a minha família, a federação de patinagem artística e os meus fãs. Portanto os meus objectivos foram recuperar o mais rápido possível e continuar a patinar. Mas disseram-me novamente que todos precisávamos de uma pausa.
Jornalista - Quais foram as razões apontadas para a pausa?
Ksenia - Cada um deu a sua justificação. Nina Mikhailovna quis tirar algum tempo para cuidar da sua saúde. Fedor tinha os seus próprios planos e assuntos tal como Zhovnirsky.
Jornalista - Naquele momento não sentiste que eras um empecilho para os teus próprios treinadores? Que Zhovnirsky e Mozer já tinham Zabiiako & Enbert a progredir e tu, com as tuas lesões recorrentes, já não eras necessária?
Ksenia - Não vou esconder que senti isso bem dentro de mim. Mas esses pensamentos apareceram muito antes dessa conversa.
Jornalista - Chegaste a perceber por que é que não foste convidada para os Jogos Olímpicos?
Ksenia - Eu ainda gostaria muito de saber. Eu, como sempre, fui a última a saber que não fui convidada para competir em PeyongChang. Nem os treinadores nem a minha mãe me disseram - todos sabiam mas estavam com medo de me dizer. Um dos meus colegas ligou-me. Claro que fiquei chocada - posso honestamente admitir isso agora. Eu não saí de casa o dia todo. Não houve histeria mas chorei. Durante muito tempo. Até que percebi que chorar não ia adiantar nada e que ainda tinha duas semanas, por isso eu tinha de fazer alguma coisa. Pelo menos para perceber a razão pela qual não me deixaram ir aos Jogos Olímpicos. Eu fui à federação, conversei com a Nina Mikhailovna. Rapidamente me explicaram que eu não podia ir para tribunal. Foi como uma festa em que só se entra por convite e eu não fui convidada. Como é que eu podia processá-los? Por não estar na lista de convidados?
Jornalista - Sentiste culpa naquele momento? Perante o teu parceiro e os treinadores?
Ksenia - Não, eu estava absolutamente limpa perante todos. Eu sabia, com certeza, que não havia um problema geral pelo qual eu tivesse de responder, simplesmente isso não existia. Eu só queria saber a verdade e não que o COI* mudasse a sua decisão. De qualquer forma eu já não conseguia ir à Coreia. Eu não seria capaz de continuar a humilhar-me - ter que usar aquele uniforme cinzento** como um rato. Eu estava determinada a lutar pela minha equipa mas não por mim própria.
*Comité Olímpico Internacional
**os atletas russos que competiram em PeyongChang não foram autorizados a usar as cores da Rússia. O uniforme oficial era neutro e em cor cinzenta.
Ksenia Stolbova
**os atletas russos que competiram em PeyongChang não foram autorizados a usar as cores da Rússia. O uniforme oficial era neutro e em cor cinzenta.
Ksenia Stolbova
Fonte: Instagram
Jornalista - Quanto tempo é que foi preciso para curar a tua perna?
Ksenia - Estive com gesso durante três semanas, fiz sessões de fisioterapia, como me foi receitado, e a perna ficou mais ou menos boa. Depois tive umas pequenas férias porque psicologicamente estava muito cansada. Em Abril, eu estava pronta para começar a trabalhar e escrevi ao Fedor. Achei que tinha passado tempo suficiente para serenar, esfriar os ânimos e conversar as coisas com mais calma. Encontrámo-nos no rinque e eu perguntei ao Fedor se ele tinha mudado de ideias sobre a pausa de meio ano. E se ele tinha a certeza de que iria querer voltar depois dessa pausa. Ele respondeu com indiferença que não tinha a certeza de nada mas que não mudaria a sua decisão.
Jornalista - Foi doloroso ouvir isso?
Ksenia - Na verdade não. Para mim, muito claramente, o meu cérebro começou a funcionar e as emoções foram deixadas para segundo plano. Eu sei que não sou mais uma garota, que já sofri muitas lesões e que precisava de perceber claramente se eu seria capaz de patinar ou não. Esta foi a minha única dúvida. Quando um homem de 27 anos não sabe claramente o que quer ou o que deseja, o que é que eu posso fazer? Sim, posso dizer que eu era a força motriz, como alguns me chamavam. Mas nesse momento eu percebi perfeitamente que não queria carregar tudo sozinha. Especialmente por alguém que, desde Fevereiro, nem sequer perguntou como estava a minha perna. Se eu precisava de ajuda, de apoio.
Jornalista - Quando é que começaste a procurar um novo parceiro?
Ksenia - Não foi imediatamente. No início do Verão, eu estava a fazer reabilitação em Nova Iorque com o nosso médico Jorge - ele trabalha há vários anos com patinadores do nosso grupo. Eu recebi muito apoio da Tatiana Tarasova, que também estava nos Estados Unidos, e que disse reiteradamente que a minha parceria com o Klimov não devia acabar. Que eu devia fazer o possível para manter a parceria. Depois a Tatiana Anatolyevna regressou a Moscovo e eu comecei a treinar lentamente no rinque de Nikolai Morozov - o Jorge e outros especialistas que eu consultei deram-me "luz verde" - eles disseram que a minha perna aguentaria. Eu tive um encontro fugaz com Fedor nos Estados Unidos, porque nos encontrámos acidentalmente na mesma companhia. Nós até nos cumprimentámos e tudo. Mais tarde eu soube que ele enviou um SMS ao Kolya*: ele tinha considerado tudo e não queria continuar a patinar.
*Kolya é o diminutivo de Nikolai. Por isso ela está a referir-se a Nikolai Morozov.
Jornalista - Recomeçar uma carreira a partir do zero com 26 anos de idade, com um novo parceiro, para uma patinadora com o teu palmarés, é uma decisão difícil.
Ksenia - Isto acontece-me desde que eu tinha 14 anos - desde a puberdade. Houve uma altura em que eu decidi que estava farta de competir individualmente e que queria patinar na categoria de pares. Eu disse isso à minha mãe e ao meu treinador com toda a certeza. Podes ficar surpreendida mas eu nunca duvidei que ia encontrar um parceiro, que ia ter uma boa equipa e que as coisas iam funcionar. Quando eu me separei do meu primeiro parceiro, eu estava confiante que ia encontrar outro e que nós iríamos aos Jogos Olímpicos. Não sei porquê mas tinha a certeza. E, passados dois meses, apareceu o Fedor. Seja como for, a nossa caminhada de nove anos acabou por ser boa.
Jornalista - Com a tua determinação, não tens pena de não ter procurado um novo parceiro mais cedo ou de ter mudado de treinadores quando começaram a aparecer os primeiros problemas no grupo?
Ksenia - Eu quis fazer isso.
Jornalista - O que é que te impediu?
Ksenia - Provavelmente a minha personalidade. Quando eu começo uma coisa é para ir até ao fim. Quando, em 2014, decidimos avançar para mais um ciclo olímpico, eu tinha de consegui-lo. Apesar das lesões, incompreensões, mentiras, intrigas e provocações - fosse o que fosse. Eu tinha de fazê-lo e isso era o mais importante. Mesmo apesar das dúvidas que eu tinha sobre a equipa e o parceiro.
Jornalista - O exemplo da Aljona Savchenko, que mudou de parceiro depois dos Jogos de Sochi e venceu os Jogos Olímpicos na Coreia com 34 anos, tem alguma coisa a ver com o que se está a passar agora contigo?
Ksenia - Nada a ver. Eu respeito muito a Aljona e felicito-a. Mas o seu exemplo não é o único - não apenas entre os atletas olímpicos e paralímpicos, mas também entre as pessoas comuns que recomeçam a vida do zero e atingem o sucesso. Se falarmos em motivação, a minha mãe motiva-me muito. E ela apoia-me nos momentos difíceis e estimula-me quando é preciso.
Jornalista - Estou a ouvir-te agora e a pensar em como estavas totalmente satisfeita com a tua vida após Sochi. O que é que te fez pensar que afinal a vida não estava a correr como tu desejavas?
Ksenia - Se calhar… Se calhar não, de certeza - a faísca foi-se. A faísca nos olhos da nossa equipa. De repente tudo se tornou mais confortável: ele comprou o carro com que tinha sonhado a vida toda, outros compraram um apartamento, uma casa de férias. Por muitos anos eu tive o sonho de comprar um apartamento e um carro para dar à minha mãe. E de repente tudo isso foi possível. Ou seja, nós todos caímos numa enorme zona de conforto, em que todos os nossos sonhos se podiam tornar realidade e onde não havia mais fome. Fome pelos resultados. Percebi que as coisas estavam a correr mal quando eu e o Fedor não fomos aos mundiais de Xangai em 2015. Antes disso, o final do programa livre nos campeonatos da Europa, em Estocolmo, não foi bem sucedido pois o Fedor caiu e perdemos para a Yuko Kavaguti e o Alexander Smirnov. Mas isso pode ser encarado como um acidente. Mas o facto de não termos ido aos mundiais e começado a trabalhar nos saltos quádruplos lançados foi, na minha opinião, um erro colossal.
Jornalista - Que eu saiba, a ideia de aprender esse elemento partiu de ti.
Ksenia - Eu não escondo que sempre quis aprender esse elemento. Eu aprendi, eu fiz isso. Simultaneamente entendi que era inútil integrar o quádruplo lançado num programa de competição.
Jornalista - O que é que aconteceu depois, na temporada seguinte? Vocês venceram a Final do Grande Prémio, em Barcelona, com um programa brilhante mas a retirada dos campeonatos nacionais e dos Europeus parece que foi feita para vos tirar do caminho para que Volosozhar & Trankov pudessem vencer ambas as competições sem empecilhos.
Ksenia - Posso apenas dizer que algumas coisas não me caíram bem. Logo após a Final do Grande Prémio, os treinadores disseram-nos que, como as coisas estavam a correr bem, fazia sentido abdicar dos Campeonatos Nacionais da Rússia para trabalhar no quádruplo lançado. Ou seja, ficou claro que estava a ocorrer algum jogo. Eu tentei ficar fora disso - já estava a ser suficientemente difícil dessa forma.
Programa livre de Stolbova & Klimov na Final do Grande Prémio 2015
Jornalista - Tu e o Klimov sempre pareceram muito diferentes. Mas nessa temporada tornou-se óbvio que tinham problemas de comunicação.
Ksenia - Nós nunca a tivemos. Nós íamos aos treinos, fazíamos o nosso trabalho e sabíamos o que estávamos a fazer e porquê.
Jornalista - Vocês discutiam muito?
Ksenia - Acontecia. Eu sou muito temperamental, emocional e perfeccionista. Não importava o quanto nós trabalhávamos, eu sempre queria fazer mais e melhor. Eu estava sempre no limite e compreendi isso.
Jornalista - E a zona de conforto que mencionaste no início da nossa conversa?
Ksenia - Demorei algum tempo a perceber que tinha de sair rapidamente dessa zona de conforto. Eu tentei que o Fedor fizesse o mesmo mas falhei. Naquela altura eu estava constantemente a irritá-lo. Nesses casos, a pessoa simplesmente coloca uma armadura e pára de compreender o que tu estás a querer dizer. Além disso houve outras pessoas que atiraram achas para a fogueira.
Jornalista - Como é que encontraste o teu novo parceiro?
Ksenia - Na verdade foi muito simples. Eu continuei a recuperar da lesão, a patinar e, posso dizer, à espera. Eu não andei a ler os fóruns na internet, não pedi a ninguém para perguntar, não quis quebrar a parceria dos outros. Claro que eu li algumas notícias porque eu sabia que o período após os Jogos Olímpicos é sempre turbulento. Mas, no geral, as coisas aconteceram por acaso. De momento não acho apropriado falar sobre detalhes do nosso trabalho porque oficialmente o nosso par ainda não existe mas não há dúvida de que seremos capazes de patinar juntos - nem eu nem ele duvidamos disso. Provavelmente é como em qualquer relacionamento: uma pessoa simplesmente sente-se confortável com a outra ou não. Pelo olhar, pelo toque, pela maneira de falar, pelo cuidado. Eu percebi imediatamente que não tinha de procurar mais. É claro que será necessário ajustar algumas coisas, adquirir novos hábitos, mas é um prazer. Eu estou a começar a repensar e a reaprender algumas coisas. Eu gosto de sentir a química com o novo parceiro, com o meu cérebro a trabalhar novamente.
Jornalista - Não tens medo de não ter chama suficiente até ao fim? Que vais ficar cansada e aborrecida se os resultados não aparecerem tão depressa como tu queres?
Ksenia - Eu não tenho medo disso. Eu fiquei muito magoada. Eu amo patinar e sei o que quero. Mesmo agora, às 22h30, eu estava quase morta de cansaço e, apesar de tudo, eu gosto desta dor. Eu realmente voltei a gostar de patinagem artística. Estou por tudo. Absolutamente tudo.
O que é que acharam da entrevista? Se quiserem mandem-me os vossos comentários aqui no blogue ou no Facebook/Twitter.
Por hoje é tudo aqui no blogue mas brevemente vou publicar mais coisas.
Fiquem atentos e boa patinagem!
Ksenia - Não foi imediatamente. No início do Verão, eu estava a fazer reabilitação em Nova Iorque com o nosso médico Jorge - ele trabalha há vários anos com patinadores do nosso grupo. Eu recebi muito apoio da Tatiana Tarasova, que também estava nos Estados Unidos, e que disse reiteradamente que a minha parceria com o Klimov não devia acabar. Que eu devia fazer o possível para manter a parceria. Depois a Tatiana Anatolyevna regressou a Moscovo e eu comecei a treinar lentamente no rinque de Nikolai Morozov - o Jorge e outros especialistas que eu consultei deram-me "luz verde" - eles disseram que a minha perna aguentaria. Eu tive um encontro fugaz com Fedor nos Estados Unidos, porque nos encontrámos acidentalmente na mesma companhia. Nós até nos cumprimentámos e tudo. Mais tarde eu soube que ele enviou um SMS ao Kolya*: ele tinha considerado tudo e não queria continuar a patinar.
*Kolya é o diminutivo de Nikolai. Por isso ela está a referir-se a Nikolai Morozov.
Jornalista - Recomeçar uma carreira a partir do zero com 26 anos de idade, com um novo parceiro, para uma patinadora com o teu palmarés, é uma decisão difícil.
Ksenia - Isto acontece-me desde que eu tinha 14 anos - desde a puberdade. Houve uma altura em que eu decidi que estava farta de competir individualmente e que queria patinar na categoria de pares. Eu disse isso à minha mãe e ao meu treinador com toda a certeza. Podes ficar surpreendida mas eu nunca duvidei que ia encontrar um parceiro, que ia ter uma boa equipa e que as coisas iam funcionar. Quando eu me separei do meu primeiro parceiro, eu estava confiante que ia encontrar outro e que nós iríamos aos Jogos Olímpicos. Não sei porquê mas tinha a certeza. E, passados dois meses, apareceu o Fedor. Seja como for, a nossa caminhada de nove anos acabou por ser boa.
Jornalista - Com a tua determinação, não tens pena de não ter procurado um novo parceiro mais cedo ou de ter mudado de treinadores quando começaram a aparecer os primeiros problemas no grupo?
Ksenia - Eu quis fazer isso.
Jornalista - O que é que te impediu?
Ksenia - Provavelmente a minha personalidade. Quando eu começo uma coisa é para ir até ao fim. Quando, em 2014, decidimos avançar para mais um ciclo olímpico, eu tinha de consegui-lo. Apesar das lesões, incompreensões, mentiras, intrigas e provocações - fosse o que fosse. Eu tinha de fazê-lo e isso era o mais importante. Mesmo apesar das dúvidas que eu tinha sobre a equipa e o parceiro.
Jornalista - O exemplo da Aljona Savchenko, que mudou de parceiro depois dos Jogos de Sochi e venceu os Jogos Olímpicos na Coreia com 34 anos, tem alguma coisa a ver com o que se está a passar agora contigo?
Ksenia - Nada a ver. Eu respeito muito a Aljona e felicito-a. Mas o seu exemplo não é o único - não apenas entre os atletas olímpicos e paralímpicos, mas também entre as pessoas comuns que recomeçam a vida do zero e atingem o sucesso. Se falarmos em motivação, a minha mãe motiva-me muito. E ela apoia-me nos momentos difíceis e estimula-me quando é preciso.
Jornalista - Estou a ouvir-te agora e a pensar em como estavas totalmente satisfeita com a tua vida após Sochi. O que é que te fez pensar que afinal a vida não estava a correr como tu desejavas?
Ksenia - Se calhar… Se calhar não, de certeza - a faísca foi-se. A faísca nos olhos da nossa equipa. De repente tudo se tornou mais confortável: ele comprou o carro com que tinha sonhado a vida toda, outros compraram um apartamento, uma casa de férias. Por muitos anos eu tive o sonho de comprar um apartamento e um carro para dar à minha mãe. E de repente tudo isso foi possível. Ou seja, nós todos caímos numa enorme zona de conforto, em que todos os nossos sonhos se podiam tornar realidade e onde não havia mais fome. Fome pelos resultados. Percebi que as coisas estavam a correr mal quando eu e o Fedor não fomos aos mundiais de Xangai em 2015. Antes disso, o final do programa livre nos campeonatos da Europa, em Estocolmo, não foi bem sucedido pois o Fedor caiu e perdemos para a Yuko Kavaguti e o Alexander Smirnov. Mas isso pode ser encarado como um acidente. Mas o facto de não termos ido aos mundiais e começado a trabalhar nos saltos quádruplos lançados foi, na minha opinião, um erro colossal.
Jornalista - Que eu saiba, a ideia de aprender esse elemento partiu de ti.
Ksenia - Eu não escondo que sempre quis aprender esse elemento. Eu aprendi, eu fiz isso. Simultaneamente entendi que era inútil integrar o quádruplo lançado num programa de competição.
Jornalista - O que é que aconteceu depois, na temporada seguinte? Vocês venceram a Final do Grande Prémio, em Barcelona, com um programa brilhante mas a retirada dos campeonatos nacionais e dos Europeus parece que foi feita para vos tirar do caminho para que Volosozhar & Trankov pudessem vencer ambas as competições sem empecilhos.
Ksenia - Posso apenas dizer que algumas coisas não me caíram bem. Logo após a Final do Grande Prémio, os treinadores disseram-nos que, como as coisas estavam a correr bem, fazia sentido abdicar dos Campeonatos Nacionais da Rússia para trabalhar no quádruplo lançado. Ou seja, ficou claro que estava a ocorrer algum jogo. Eu tentei ficar fora disso - já estava a ser suficientemente difícil dessa forma.
Jornalista - Tu e o Klimov sempre pareceram muito diferentes. Mas nessa temporada tornou-se óbvio que tinham problemas de comunicação.
Ksenia - Nós nunca a tivemos. Nós íamos aos treinos, fazíamos o nosso trabalho e sabíamos o que estávamos a fazer e porquê.
Jornalista - Vocês discutiam muito?
Ksenia - Acontecia. Eu sou muito temperamental, emocional e perfeccionista. Não importava o quanto nós trabalhávamos, eu sempre queria fazer mais e melhor. Eu estava sempre no limite e compreendi isso.
Jornalista - E a zona de conforto que mencionaste no início da nossa conversa?
Ksenia - Demorei algum tempo a perceber que tinha de sair rapidamente dessa zona de conforto. Eu tentei que o Fedor fizesse o mesmo mas falhei. Naquela altura eu estava constantemente a irritá-lo. Nesses casos, a pessoa simplesmente coloca uma armadura e pára de compreender o que tu estás a querer dizer. Além disso houve outras pessoas que atiraram achas para a fogueira.
Jornalista - Como é que encontraste o teu novo parceiro?
Ksenia - Na verdade foi muito simples. Eu continuei a recuperar da lesão, a patinar e, posso dizer, à espera. Eu não andei a ler os fóruns na internet, não pedi a ninguém para perguntar, não quis quebrar a parceria dos outros. Claro que eu li algumas notícias porque eu sabia que o período após os Jogos Olímpicos é sempre turbulento. Mas, no geral, as coisas aconteceram por acaso. De momento não acho apropriado falar sobre detalhes do nosso trabalho porque oficialmente o nosso par ainda não existe mas não há dúvida de que seremos capazes de patinar juntos - nem eu nem ele duvidamos disso. Provavelmente é como em qualquer relacionamento: uma pessoa simplesmente sente-se confortável com a outra ou não. Pelo olhar, pelo toque, pela maneira de falar, pelo cuidado. Eu percebi imediatamente que não tinha de procurar mais. É claro que será necessário ajustar algumas coisas, adquirir novos hábitos, mas é um prazer. Eu estou a começar a repensar e a reaprender algumas coisas. Eu gosto de sentir a química com o novo parceiro, com o meu cérebro a trabalhar novamente.
Jornalista - Não tens medo de não ter chama suficiente até ao fim? Que vais ficar cansada e aborrecida se os resultados não aparecerem tão depressa como tu queres?
Ksenia - Eu não tenho medo disso. Eu fiquei muito magoada. Eu amo patinar e sei o que quero. Mesmo agora, às 22h30, eu estava quase morta de cansaço e, apesar de tudo, eu gosto desta dor. Eu realmente voltei a gostar de patinagem artística. Estou por tudo. Absolutamente tudo.
O que é que acharam da entrevista? Se quiserem mandem-me os vossos comentários aqui no blogue ou no Facebook/Twitter.
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