Olá a todos.
A primeira publicação da semana é sobre a mais recente entrevista de Maxim Trankov.
Maxim Trankov
Maxim e a sua parceira/esposa Tatiana Volosozhar abandonaram a patinagem de competição mas continuam super activos. Ambos são presença habitual no espectáculo "Romeu & Julieta" produzido pelo coreógrafo Ilya Averbukh. Maxim também tem assumido funções de comentador em algumas transmissões de patinagem artística e já participou em duas temporadas do fenómeno televisivo russo "Lednikoviy Period". Este ano Maxim assumiu a responsabilidade de orientar um dos melhores pares do mundo: Evgenia Tarasova & Vladimir Mozorov.
Evgenia Tarasova & Vladimir Morozov
Recentemente o conceituado patinador russo concedeu uma entrevista à jornalista Alexandra Romanova da publicação News.ru
Link para o original: https://news.ru/sport/maksim-tran-kov-byurokratiya-v-rossii-menya-korobit/
Por favor cliquem no link para ajudar a jornalista e para ver as fotos.
Aqui está a tradução da entrevista para português.
Jornalista - Como é que avalias o estado da preparação do par líder Evgenia Tarasova & Vladimir Morozov para os testes? Nota da tradução: estes testes são organizados pela federação russa para avaliar os patinadores que fazem parte da selecção nacional e normalmente realizam-se no início de Setembro.
Maxim - Nós estamos prontos para os testes. Os dois programas estão prontos; eles já patinaram o programa curto completo diversas vezes. Eles patinaram sem mim na Quarta-feira de manhã. Esta semana vão patiná-lo outra vez. O programa livre é mais comprido e complicado mas eles gostam dele. Penso que se eles patinarem o programa de forma limpa será a cereja no topo do bolo em qualquer competição.
Jornalista - Conta-me sobre os preparativos realizados na pré-época. Em que é que trabalharam? Quais foram os programas?
Maxim - Há sempre problemas. Os maiores são o financiamento e os especialistas. Falando do par, há muitos problemas psicológicos que nós estamos a aprender a ultrapassar. Não é a preparação ou a habilidade de patinar que os preocupa. Houve uma altura em que eles perderam a motivação mas agora eles patinam para o seu treinador porque eles escolheram-me e querem que eu os treine. Eles fazem o possível para não me desapontar e patinar para mim.
Na minha opinião é uma motivação para eles provar que a sua escolha foi acertada e que houve uma razão para trabalharem comigo durante esta temporada. Também existem problemas comigo como treinador. Eu não sou apenas inexperiente; eu não tenho qualquer passado como treinador. Por isso existem problemas.
Jornalista - Gostas de ser treinador? O que é que resulta para ti e em que é que precisas de trabalhar?
Maxim - Não posso dizer que ser treinador seja algo que eu goste ou que me interesse fazer. Eu detesto a parte técnica e de organização dos treinos. Mais importante ainda é que vivemos num país burocrático e fico a tremer no momento de assinar tantos papeis. Portanto eu não posso dizer que goste realmente do trabalho de treinador ou que estou interessado nele.
Jornalista - Mas deves gostar de alguma coisa…
Maxim - Eu gosto de criar algo novo. Aprender coisas novas, procurar em mim mesmo, nos atletas e nas mentes deles. Além disso a minha área educacional é psicologia. Para mim é interessante ver como as pessoas mudam a sua atitude perante o trabalho.
Jornalista - Numa das tuas entrevistas, tu disseste que o treinador é um herói ou um altruísta. Qual é que tu és?
Maxim - Eu não posso intitular-me como treinador - não estudei para isso nem para trabalhar como tal.
Jornalista - Explica-te, por favor.
Maxim - Pelos documentos eu sou um especialista mas não um treinador. Eu não posso candidatar-me a esse trabalho então não posso intitular-me de treinador.
Jornalista - Então quem é que está indicado como o treinador de Tarasova & Morozov?
Maxim - Nina Mozer. Eu não sou treinador. Eu sou um psicólogo. Um especialista. Eu tenho habilitações e uma especialidade mas, de acordo com as leis maravilhosas do nosso país, com todo o meu conhecimento, eu não posso trabalhar com a equipa. Mesmo com toda a minha experiência como atleta.
Jornalista - Nos testes toda a gente vai estar focada na luta entre a Zagitova e a Medvedeva. Qual será o resultado? O que é que achas?
Maxim - Um resultado elevado. Eu penso que a Zagitova será mais consistente, mais do que as suas antecessoras que passaram pelo mesmo. Ela é uma menina inteligente e talentosa. Ela é linda em pista e tem saltos fantásticos. Ela é uma campeã olímpica.
Alina Zagitova
Jornalista - E a Medvedeva?
Maxim - Eu espero algo de novo depois da mudança para o grupo de Brian Orser. Toda a gente está expectante e a questionar-se "o que é que ela vai mostrar?". Eu quero muito que ela patine como uma canadiana. Em primeiro lugar no que diz respeito ao deslizar. Se a Zhenya (diminutivo) conseguir saltar como Medvedeva e deslizar como uma canadiana, será explosivo. Eu quero que a Evgenia alcance um novo patamar. É um caso raro quando os melhores treinadores da actualidade em individuais - Tutberidze e Orser - tenham treinado ou treinem a mesma atleta. Eu penso que é uma oportunidade de ouro para a Zhenya. Além disso, ao trabalhar com Orser, ela poderá tornar-se numa especialista espectacular no futuro.
Jornalista - Porquê?
Maxim - Porque ela conhece a escola russa.
Evgenia Medvedeva
Jornalista - Tu experimentaste o papel de comentador na TV.
Maxim - Eu trabalhei com os melhores especialistas russos e estive em contacto com os estrangeiros. Cada um tem o seu estilo. Não há uma regra absoluta para a forma como o comentador trabalha. Há quem critique e procure os erros e há quem explique o aspecto técnico da patinagem. Também há os que elogiam todos os patinadores. Claro que eu tentei fazer algo único e que outros não tinham feito anteriormente. Eu acompanhei os comentadores russos e estrangeiros e encontrei um nicho.
Jornalista - E qual é esse nicho?
Maxim - Informação privilegiada. Eu não falava apenas sobre os elementos que foram feitos em pista como também apresentava o patinador.
Jornalista - Por exemplo?
Maxim - Havia um patinador que representava a Alemanha mas nasceu na Bélgica; o seu irmão gémeo é bailarino; os seus pais são muito fixes porque um dos filhos compete nos Jogos Olímpicos e o outro está no palco. Eles têm um cão e avó lutou pelo lado da Alemanha nazi. Coisas assim. Informações que têm pouco a ver com o desporto. Nota da tradução: Maxim está a referir-se a Ruben Blommaert
Jornalista - Por que é que escolheste essa forma?
Maxim - Porque quando alguém liga a televisão e vê patinagem artística, algo terá de captar a sua atenção. Eu preciso que eles fiquem naquele canal. Eu não acho que eles estejam interessados pelo triplo axel ou numa conversa entre os comentadores com "na tua opinião este peão vai ficar com que nível?", "Ó, eu penso que é de nível 4 apesar dele não ter mantido a última posição". Claro que a pessoa vai perguntar: "Qual Axel?, Qual posição?". Por outro lado também se pode dizer só as coisas boas de um patinador. Esse era o meu objectivo, o meu estilo. Quando eu me preparava para entrevistar um atleta, eu falava com o treinador e pesquisava informação na internet. No geral, eu conseguia dizer algo sobre qualquer patinador, mesmo que fosse oriundo do 3.º mundo e que não estivesse no topo.
Comentário à entrevista
Esta entrevista foi interessante a vários níveis.
Em primeiro lugar é curioso que Maxim tenha admitido publicamente que não pode ser listado como treinador oficial do par Evgenia Tarasova & Vladimir Morozov. Ele simplesmente confirmou aquilo que já se suspeitava: o grupo de Nina Mozer contornou as regras oficiais da federação russa para que Maxim Trankov pudesse assumir a orientação de Evgenia e Vladimir.
Nina Mozer tem estado afastada das suas funções devido a doença mas tem vários adjuntos e especialistas a trabalhar com ela, nomeadamente Robin Szolkowy e Vladislav Zhovnirski.
Teria sido mais lógico apresentar Vladislav Zhovnirski como treinador principal e adicionar Maxim Trankov como especialista técnico ao lado de Robin Szolkowy. A questão é que o nome de Maxim é bem mais sonante do que o de Vladislav. Muitos destes pares jogam com estes pormenores fora das pistas de gelo. Faz parte da política de bastidores. Maxim continua a ser muito respeitado como patinador apesar de já não competir e tem voz na comunicação social. Além disso é respeitado pela maioria dos juízes internacionais e especialistas que visitam os estágios para trocar impressões com treinadores e coreógrafos para perceber os programas dos atletas.
Esta entrevista também é interessante porque ele admitiu mais uma contradição: ser treinador não faz parte das suas ambições profissionais e, mesmo assim, aceitou o desafio.
Eu lembro-me de uma entrevista que ele concedeu há uns anos em que disse que nunca iria participar em programas de televisão como o "Lednikoviy Period" porque isso significava formar parceria com outra pessoa e ele só se imaginava a patinar com a Tatiana.
No entanto, ele acabou por participar numa das temporadas como parceiro/professor/coreógrafo da cantora Julianna Karaulova. Maxim participou ainda na temporada mais recente do programa na qualidade de treinador de várias crianças.
Vídeo com uma das apresentações de Maxim Trankov com a cantora Julianna Karaulova
Quanto aos comentários na televisão, lembro-me que aqui há uns tempos ele meteu-se em apuros devido ao facto de não ter problemas em expressar as suas opiniões. Eu lembro-me que Meagan Duhamel ficou furiosa com alguns comentários de Maxim durante uma transmissão (diga-se de passagem que Maxim tinha toda a razão). Maxim fala sem filtros e eu gosto dos seus comentários apesar dele falar muito durante as provas :P
Por hoje é tudo mas em breve vou publicar mais coisas no blogue.
Fiquem atentos e boa patinagem :)
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