Challenger Series 2017/2018
Troféu Ondrej Nepela 2017
Senhoras
Na categoria feminina, Evgenia
Medvedeva conquistou a medalha de ouro tal como era esperado. A medalha de
prata ficou com a japonesa Rika Hongo e a medalha de bronze foi para Elena
Radionova.
Evgenia Medvedeva garantiu a vitória
com um somatório de 226.72pts.
A bicampeã mundial arrasou no
programa curto onde obteve uma pontuação de 80.00pts. O programa é um primor
quer na construção técnica quer na parte artística. A coreografia da
responsabilidade de Ilya Averbukh assenta-lhe que nem uma luva. A leveza com
que ela patinou o programa e passou de uns elementos técnicos para outros é de
deixar qualquer um de queixo caído. Em termos técnicos destaque para o facto de
os saltos terem sido todos efectuados na segunda metade do esquema para
beneficiar de bónus no valor base. A execução geral foi admirável e ela recebeu
uma clara maioria de +2 e +3 no grau de execução. Na segunda nota, o juiz n.º 5
não hesitou em marcar a nota de 10.00 no segmento da performance. Em compensação,
o juiz n.º 6, com o devido respeito, devia estar a dormir pois não lhe marcou
um único segmento acima de 8.75.
No programa livre, Evgenia teve
momentos de grande brilhantismo como já nos habituou mas cometeu dois erros
técnicos. No triplo lutz ela não definiu a entrada no salto com a lâmina do pé
de apoio na posição correcta e além disso desequilibrou-se na recepção. Em
consequência, o triplo lutz foi punido com grau de execução negativo e perdeu
1.40pts do valor base. Na combinação de triplo salchow+triplo toeloop, a
recepção do salchow não foi a melhor mas Evgenia com a sua experiência
conseguiu salvar a situação. Mesmo assim dois juízes marcaram -1 e outros dois
juízes marcaram 0 no grau de execução. Tudo o resto foi absolutamente
impecável. Destaque para o facto de todas as combinações de salto terem sido
colocadas na segunda metade do esquema. Na nota dos componentes, ela recebeu um
10.00 no segmento de performance por parte de um juiz e outro 10.00 no segmento
de interpretação da música. Esta coreografia também é da autoria de Ilya
Averbukh.
E o que dizer sobre os fantásticos
vestidos de Evgenia? Absolutamente maravilhosos.
Rika Hongo deve ter ido satisfeita
para casa. A temporada passada não foi nada fácil para ela. Com tantas
patinadoras japonesas de qualidade a fazerem a transição de juniores para
seniores nesta época, Rika teve aqui a oportunidade de afirmar perante a
federação japonesa que ainda consegue ser competitiva. Este foi um excelente
resultado para ela. No entanto, Rika tem trabalho de casa para fazer. É que o
seu problema de falta de rotação em alguns saltos continua a persistir. No
programa curto, a combinação de triplo flip+triplo toeloop foi punida com grau
de execução negativo devido ao facto da terceira volta do toeloop não ter sido
efectivamente completa. Aconteceu exactamente o mesmo no programa livre quando
ela tentou realizar uma combinação idêntica. Em ambos os casos, Rika perdeu
0.70 do valor base de 8.30pts. Também no programa livre, a combinação de duplo
axel-triplo toeloop foi penalizada em sede de grau de execução pois faltou ¼ de
volta para completar a última rotação do toeloop. A falta de rotação na
tentativa de triplo loop foi ainda mais gritante e o painel técnico deu ordem
para o salto ser apenas cotado como duplo. Além disso, ela caiu nesse salto e
foi-lhe aplicada uma dedução automática de um ponto. O triplo lutz também foi
punido desta feita devido ao facto da definição de entrada do salto não ter
sido limpa. No que diz respeito à segunda nota, Rika obteve um total de
31.16pts no curto e um total de 64.24pts no livre.
Elena Radionova não foi além da
terceira posição. Confesso que esperava um bocadinho mais dela. No programa
curto, Elena ficou com uma nota de 64.42pts, tendo dois elementos de salto sido
punidos com grau de execução negativo. Foi o que ocorreu no duplo axel e na
combinação de triplo lutz+triplo toeloop. Na combinação, Elena não conseguiu
realmente completar a terceira rotação no toeloop. Ela não costumava cometer
este tipo de erros mas são coisas que acontecem. No duplo axel, a recepção foi
desequilibrada e ela teve mesmo de colocar as mãos no gelo para não cair. A
sequência de passos de nível 2 também a prejudicou pois quando o nível é mais
baixo a consequência é a de que o valor base também é mais baixo. Por isso, ela
deixou alguns pontos na mesa devido a essa circunstância. Curiosamente, no
programa livre, a sequência de passos também foi de nível 2. A equipa de
treinadores de Elena ficou com trabalho de casa para fazer nas próximas
semanas… No programa livre ocorreram erros graves. Na combinação de triplo
flip+duplo toeloop, a entrada no flip foi claramente mal feita e o elemento
teve de ser punido com grau de execução negativo. Elena acabou por ficar sem
dois elementos de salto, o que a prejudicou bastante na nota. O loop
simplesmente não saiu. Ela tinha previsto realizar um triplo loop como nono
elemento mas arrastou tanto a entrada que acabou por cair sem conseguir
realizar qualquer rotação. Claro que a queda levou à aplicação de uma dedução automática
de um ponto. Depois Elena precipitou-se ao tentar novamente o triplo loop pois
ficou com um elemento de salto a mais do que as regras permitem para o programa
livre. Desta feita esse triplo loop foi considerado inválido e ela não recebeu
qualquer ponto por esse elemento. Mesmo que tivesse contado, o triplo loop
seria punido com grau de execução negativo pois a última volta não foi de facto
completa.
Videos
Evgenia Medvedeva
Curto
Livre
Rika Hongo
Curto
Livre
Elena Radionova
Curto
Livre
Dabin Choi
Curto
Livre
Alena Leonova
Curto
Livre
Resultado final
Homens
Na categoria masculina, o russo
Mikhail Kolyada protagonizou uma remontada digna de registo. Kolyada foi décimo
classificado no programa curto mas venceu o programa livre e conseguiu a
medalha de ouro. Sergei Voronov, primeiro no curto, foi segundo no livre e
terminou com a medalha de prata. O australiano Brendan Kerry arrecadou o
bronze.
O programa curto de Mikhail Kolyada
correu-lhe mal. Ele cometeu erros em todos os elementos de salto, tendo
inclusivamente caído na tentativa de quádruplo lutz. Além disso, o russo falhou
a combinação e não foi além de um axel simples quando devia ter executado um
triplo. Como se não bastasse a dedução automática de um ponto pela queda,
Kolyada ainda foi alvo de outra dedução automática de um ponto por violação das
regras de tempo. Foi para esquecer. No programa livre, Kolyada protagonizou um
momento fantástico ao executar um quádruplo lutz impecável. Ele sofreu duas
quedas no esquema: uma no quádruplo salchow e outra no quádruplo toeloop. Tal
como no curto, Kolyada sofreu uma dedução automática por violação de regras de
tempo.
Sergei Voronov é um dos patinadores
mais acarinhados pelos fãs pois é conhecido pela sua simpatia. Só que a
simpatia não lhe vai chegar para convencer a federação russa de que deve
continuar a apostar nele. Tal como em outras ocasiões, Voronov proporcionou
alguns bons momentos mas nesta competição cometeu erros em todos os saltos
quádruplos que tentou executar, tanto no curto como no livre. Quem sabe se com
o decorrer da temporada, o seu estado de forma possa melhorar e permitir-lhe
ter mais sucesso nesses elementos tão importantes.
O australiano Brendan Kerry parece
dar-se bem com os ares europeus e conquistou a sua segunda medalha de bronze no
circuito Challenger Series desta temporada. É que ele também ficou no pódio no
Troféu Lombardia que decorreu em Itália. No entanto, a pontuação final de Kerry
no Ondrej Nepela foi 11.84pts mais baixa do que a obtida em Itália.
Nesta categoria, os atletas japoneses
Keiji Tanaka e Ryuju Hino não foram além do oitavo e décimo primeiro lugar
respectivamente.
Videos
Mikhail Kolyada
Curto
Livre
Sergey Voronov
Curto
Livre
Brendan Kerry
Curto
Livre
Grant Hochstein
Curto
Livre
Alexander Samarin
Curto
Livre
Resultado final
Dança
Na categoria de dança não houve
muitas surpresas pois os super favoritos Ekaterina Bobrova & Dmitri
Soloviev conquistaram a medalha de ouro como era esperado. Os irmãos Rachel e
Michael Parsons arrecadaram a medalha de prata e Betina Popova & Sergey
Mozgov seguraram a medalha de bronze.
Na dança curta assistimos a algumas
curiosidades. Rachel e Michael Parsons tiveram a nota técnica mais elevada
nesta fase da competição, com mais 1.48pts do que Bobrova & Soloviev. Os
irmãos Parsons conseguiram o nível 4 nos twizzles, na figura de elevação e na sequência
de passos circular em que os patinadores não se podem tocar. Os passos de rumba
e a sequência de passos parcial dos irmãos Parsons foram de nível 3. No que
toca a Bobrova & Soloviev, os passos de rumba e a figura de elevação foram
classificados com o nível 4 mas os twizzles, a sequência de passos diagonal em
que os patinadores não se tocam e a sequência parcial de passos foram de nível
3. Em termos de graus de execução, Bobrova & Soloviev estiveram em melhor
plano do que os Parsons e conseguiram diversos +2 e +3. Os twizzles é que não
permitiram que Bobrova & Soloviev obtivessem uma nota melhor pois, para
além de terem sido de nível 3, foram o elemento onde eles apenas receberam 0
por parte de dois juízes e +1 por parte dos restantes. É que se notou
claramente alguma falta de sincronização na segunda sequência dos twizzles. Na
nota dos componentes, Bobrova & Soloviev levaram vantagem sobre os Parsons
com 35.84pts contra 30.76pts. Mesmo assim, esperava-se que a diferença nos
componentes fosse ainda maior entre estes dois pares.
A prestação de Bobrova & Soloviev
na dança curta pode ser analisada de duas maneiras. A primeira é de que ainda
estamos numa fase inicial da época e que o seu estado de forma ainda não é o
ideal, pois deverão atingir o pico apenas em Fevereiro/Março. Normalmente, os
patinadores tendem a afinar os programas à medida que a temporada se desenrola.
Por outro lado, esta dança curta não gerou muito entusiasmo nesta prova e isso
pode ser um sinal que nas competições mais importantes este programa seja o seu
calcanhar de Aquiles. Eles optaram por dar enfase aos ritmos de samba em vez de
versões musicais falsificadas/pseudo latinas de rumba e isso, na minha opinião,
é um ponto a favor deles. A figura de elevação foi cinco estrelas como é
habitual neste par. No entanto, a pose final é terrível e deselegante para a
patinadora…
Ao contrário da dança curta, a dança
livre de Bobrova & Soloviev foi muito elogiada e bem recebida. Eu já tinha
ficado com uma boa impressão geral da coreografia quando vi os vídeos dos
testes organizados pela federação russa. Em contexto de competição, este
programa resultou ainda melhor do que eu estava à espera. A nota foi muito boa:
110.84pts. Desta vez eles não fraquejaram nos twizzles e conseguiram maioria de
+3 no grau de execução. Os twizzles, bem como todas as figuras de elevação e o
peão, foram classificados com o nível 4. As duas sequências de passos correram
bem e foram de nível 3. Quanto à segunda nota, eles ficaram com médias de 9.25
na perícia, 9.00 nas transições, 9.35 na performance, 9.35 na composição e 9.35
na interpretação da música.
Quem estava à espera que os irmãos
Parsons conseguissem dar luta na dança livre deve ter ficado desapontado. É que
este par ficou em terceiro lugar nesta fase da prova com uma nota de 95.66pts. Tendo
em conta que ainda na temporada passada eles estavam no escalão júnior, eu
penso que a prestação foi globalmente positiva e que a nota obtida na dança
livre foi justa. A qualidade está lá e vai ser interessante acompanhar a evolução
deste par ao longo dos anos. Nesta dança livre destaco a segunda figura de
elevação pois achei esse elemento um dos momentos altos do esquema. Em termos
técnicos, o elemento em que eles perderam mais pontos foi na sequência de
passos na diagonal pois esta apenas cumpriu os critérios estabelecidos para o
nível 2 e, por esse motivo, o valor base foi um pouco mais baixo. No que diz
respeito a graus de execução, este par conseguiu uma maioria de +1.
Independentemente da luta pelas
medalhas, o par russo Popova & Mozgov centralizou atenções essencialmente
devido à dança livre. A sua interpretação de “Carmen” deu nas vistas e
salientou que os dois elementos do par têm uma presença muito boa em pista e
que têm personalidade para dar e vender. Houve mesmo dois juízes que lhe
atribuíram 9.25 no segmento de composição e 9.00 na interpretação da
música/timing. A execução dos elementos no geral foi boa mas eles têm mesmo de
melhorar os níveis. É que eles ficaram a 1.22pts da medalha de prata quando
podiam ter perfeitamente ficado no segundo lugar no pódio. Na dança livre eles
perderam níveis nos twizzles e na dança curta perderam níveis na sequência
parcial de passos e na sequência de passos em que os patinadores não se podem
tocar. Níveis mais baixos implicam valores base mais baixos, mesmo que a
execução seja boa. No entanto, penso que o painel técnico foi um pouco
conservador demais ao apenas atribuir o nível 2 aos twizzles na dança livre. A
equipa de treinadores deste par com certeza que vai analisar bem os protocolos
para tentar prevenir que essa situação aconteça em competições futuras.
Videos
Ekaterina Bobrova & Dmitry Soloviev
Curto
Livre
Rachel Parsons Michael Parsons
Curto
Livre
Betina Popova & Sergey Mozgov
Curto
Livre
Yura Min & Alexander Gamelin
Curto
Livre
Angelique Abachkina & Louis Thauron
Curto
Livre
Allison Reed & Saulius Ambrulevicius
Curto
Livre
Shari Koch & Christian Nuchtern
Curto
Livre
Resultado final
Pares
Na categoria de pares, Zabijako &
Enbert seguraram a medalha de ouro com apenas 1.46pts de vantagem sobre os seus
compatriotas Astakhova & Rogonov. Esta luta intensa entre estes dois pares
russos não foi apenas importante para esta competição em concreto. É que estes
dois pares estão em disputa directa entre si para garantir um lugar na selecção
russa para as competições mais importantes. Para já, Zabijako & Enbert
ganharam o primeiro round neste confronto. Claro está que o resultado nos
campeonatos nacionais da Rússia será determinante mas o maior sucesso em
competições internacionais durante a temporada pode servir de factor de
desempate. Aguardam-se os próximos capítulos.
A Rússia acabou por garantir todas as
medalhas nesta disciplina pois Efimova & Korovin, estreantes no escalão
sénior, arrecadaram a medalha de bronze.
Na batalha pela liderança no programa
curto, Astakhova & Rogonov ficaram à frente com uma pontuação de 67.18pts. Com
um programa dramático onde não faltou um trecho da obra “Carmina Burana”,
Astakhova & Rogonov mostraram que estão em boa forma nesta fase da época e
que as qualidades interpretativas se mantêm. O programa está bem construído do
ponto de vista técnico e artístico. Gostei bastante da forma como os elementos
estão bem distribuídos consoante as variações da música pois isso nem sempre é
fácil de conseguir. Os seus elementos técnicos conseguiram atingir o nível 4 e
os saltos lado-a-lado e lançado correram bem. A figura de elevação e a espiral
da morte interior para a frente foram os grandes destaques. Já Zabijako &
Enbert têm um estilo de apresentação diferente do revelado por Astakhova &
Rogonov. Um dos pontos forte de Zabijako & Enbert são as linhas limpas e
isso resulta sempre lindamente nesta disciplina. É um pormenor que torna
qualquer par mais refinado. Zabijako & Enbert ficaram com uma nota de
64.52pts no curto. O seu triplo toeloop lado-a-lado foi penalizado com grau de
execução negativo devido ao facto de Enbert não ter realizado uma recepção
muito segura. Além disso, o triplo twist foi apenas de nível 2 e isso fez com
que esse elemento partisse de um valor base mais baixo. Isso reflectiu-se numa
nota técnica mais baixa do que eles estariam à espera. Do ponto de vista
artístico, Zabijako & Enbert demonstraram uma presença mais suave em pista,
tendo a coreografia realçado o seu estilo clássico.
No programa livre, Zabijako &
Enbert impuseram-se a Astakhova & Rogonov com uma nota de 128.06pts contra
123.94pts. Ambos os pares cometeram erros em todos os saltos lado-a-lado, sendo que esses elementos tiveram de ser penalizados em sede de grau
de execução. Zabijako & Enbert perderam 1.96pts devido a graus de execução
negativos mas Astakhova & Rogonov ficaram sem 3.34pts. Em termos de valor
técnico de partida, depois de atribuídos os níveis, a diferença nem era muita
entre os dois pares (61.00 contra 60.50). A qualidade de execução dos elementos
é que no geral foi favorável a Zabijako & Enbert e lhes permitiu fazer a
remontada que os levou ao topo do pódio nesta competição. O peão em paralelo
realizado por Astakhova & Rogonov também foi penalizado com grau de
execução negativo. Artisticamente, eu prefiro o programa de Astakhova &
Rogonov e penso que eles deviam ter ficado à frente dos seus compatriotas nos
segmentos de performance, composição e interpretação da música. O programa de
Astakhova & Rogonov não é muito habitual nesta disciplina e esse toque de
originalidade devia ser valorizado. Além disso, ambos têm mais presença em
pista e são mais expressivos do que Zabijako & Enbert. Claro que o programa
dos vencedores também é bom mas, na minha perspectiva, faltou um bocadinho de
projecção. É certo que ainda estamos numa fase inicial da temporada e que
Zabijako & Enbert têm tempo para ir aprimorando essa vertente do seu
programa livre. A verdade é que em duas competições internacionais nesta
temporada, Zabijako & Enbert já contam com duas medalhas de ouro.
Videos
Natalia Zabijako & Alexander Enbert
Curto
Livre
Kristina Astakhova & Alexey Rogonov
Curto
Livre
Alisa Efimova & Alexander Korovin
Curto
Livre
Jessica Pfund & Joshua Santillan
Curto
Livre
Natasha Purich & Davin Portz
Curto
Livre
Erika Smith & AJ Reiss
Curto
Livre
Resultado final