domingo, 20 de agosto de 2017

Tradução de entrevista do par Tarasova & Morozov


O jovem par russo composto por Evgenia Tarasova e Vladimir Morozov tem demonstrado uma evolução sólida no circuito internacional. Na temporada 2016/2017 sagraram-se campeões da Europa e venceram a final do grande prémio. Nos mundiais seguraram a medalha de bronze apesar de terem sofrido vários percalços nomeadamente um corte na perna de Evgenia que a impediu de estar ao seu melhor nível. Nas vésperas de iniciarem a época 2017/2018, Evgenia e Vladimir concederam uma entrevista à jornalista Ekaterina Chervniavskaya. O link original pode ser consultado aqui: http://www.sport-express.ru/figure-skating/reviews/evgeniya-tarasova-i-vladimir-morozov-uprekat-partnera-za-oshibki-neprofessionalno-1297107/




Tradução de entrevista

Pergunta: Tiveram a oportunidade de celebrar a vossa liderança na lista das pontuações da ISU?

Vladimir – Os fãs e os amigos enviaram-nos os “screenshots”; claro que foi agradável mas não é nada de mais.

Pergunta: Como é que está a decorrer a preparação dos dois novos programas?

Vladimir – Nós temos dois novos programas interessantes. Nós gostamos deles e a federação também. Nós temos esperança que eles resultem. O programa curto é clássico e digamos que o programa livre é feliz e alegre. Nós ainda não vamos revelar as músicas e vamos esperar pelos testes em Setembro.

Pergunta: O coreógrafo foi o Peter Tchernyshev?

Vladimir – Sim. Este ano ele coreografou ambos os programas. Na temporada passada, nós tentámos o programa curto com ele e resultou bem portanto nós decidimos trabalhar com ele nos dois programas deste ano.

Pergunta: Os fatos estão prontos?

Evgenia – Não, nós ainda estamos a pensar e a ver os desenhos. De momento, só temos uma vaga ideia de como eles vão ser.




Pergunta: Na temporada passada vocês tiveram de mudar os fatos do programa livre.

Evgenia – Sim, a primeira versão não foi bem sucedida e disseram-nos para mudar. Nós também não gostámos muito da segunda versão mas não havia tempo ou oportunidade para fazer novos fatos.

Pergunta: Tu tens fatos favoritos?

Evgenia – O do programa curto da época passada. Eu também amei o fato preto que usei no programa tango nos juniores e o fato cor de pêssego no programa livre de juniores. Esses programas foram coreografados por Maxim Trankov.

Vladimir – Os fatos do programa irlandês do ano passado eram fixes mas, no geral, todos os fatos foram bons.

Pergunta: Vocês planeiam acrescentar mais elementos complexos esta temporada?

Vladimir – Os saltos e os saltos lançados serão os mesmos; nós estamos a trabalhar nos elementos mais fáceis como os peões.

Pergunta: Por exemplo, não vão tentar um quádruplo lançado?

Evgenia – Um quádruplo twist – sim; um lançado – não.

Pergunta: O que é que tens a dizer àqueles que afirmam que o quádruplo twist é inútil: que um triplo twist bem realizado garante mais pontos?

Evgenia – Um elemento desses diz algo sobre o nível do par. É mais complicado e custa mais. O resto depende de como nós o vamos efectuar. Nós vamos tentar o nosso melhor para fazê-lo de forma limpa.

Vladimir – Muitas vezes tudo depende da execução então, em algumas ocasiões, nós não conseguimos pontos adicionais. Mas se apenas fizermos o quádruplo twist nos treinos, irá demorar mais tempo a integrá-lo no programa.

Pergunta: Foi doloroso ouvir que o vosso programa livre era muito pior que o dos vossos adversários?

Evgenia – É apenas uma critica que temos de levar em consideração e não repetir esses erros no futuro.

Foram colocadas várias questões sobre este programa


Pergunta: Vocês não sentiram isso quando o programa estava a ser coreografado?

Evgenia – Este programa tem cá uma história! Inicialmente, nós tínhamos uma peça musical mas depois a federação viu-o e decidiu que a música era errada. Em resultado, nós tivemos de mudá-la e tudo ficou muito caótico.

Pergunta: Em que momento é que a federação avalia os programas? E há tempo suficiente para fazer mudanças depois disso?

Evgenia – Os nossos programas foram avaliados em Julho no estágio em Sochi, quando os representantes da federação foram ver-nos. Foi-nos dito que não servia. No final nós mudámos a música.

Pergunta: Quanto tempo é que leva transformar o programa da ideia inicial para algo competitivo?

Vladimir – Cerca de um mês…

Evgenia – Desta vez o coreógrafo Peter Tchernyshev levou duas semanas. Depois nós vamos trabalhar nos programas até Setembro.

Pergunta: Digam-me como é trabalhar com o Robin Szolkowy. Em que língua é que vocês comunicam?

Evgenia – Inglês.

Pergunta: Sabes inglês suficiente?

Evgenia – Bem, o meu inglês é um pouco básico, o do Vladimir é melhor. Mas o Robin e eu entendemo-nos.

Pergunta: E russo?

Evgenia – Bem, o Szolkowy sabe dizer coisas como “olá” e “bom dia”. Afinal de contas ele estudou um pouco de russo.

Pergunta: E não foi por nada visto que patinava com a Aliona Savchenko.

Vladimir – Foi mais a Aliona que aprendeu alemão.

Pergunta: Sentem-se confortáveis sendo os líderes dos pares russos?

Vladimir – Nós sempre tivemos o objectivo de sermos os primeiros mesmo quando ninguém nos levava a sério. Ser líder é confortável. Além disso, nós nunca nos sentámos a pensar que “somos os n.ºs 2-3 e que ninguém espera muito de nós e que é melhor assim”. Nós sempre quisemos lutar e sempre quisemos mais.

Pergunta: Estão preparados para competir com Stolbova & Klimov? Eles estiveram na sombra durante a temporada passada. Há alguma tensão durante os treinos?

Evgenia – Nós não treinamos ao mesmo tempo. Eu penso que tudo se tornará mais claro durante as competições.

Pergunta: Qual é o espirito no vosso grupo?

Evgenia – Nós todos temos uma relação amigável; nós sempre nos encontramos depois e as competições são o único sítio onde somos rivais. Mas é sempre interessantes seguir os rivais nos treinos e fazer comparações. Faz-te ficar em forma.

Pergunta: Na disciplina de pares há sempre lugar a erros individuais. Qual é a sensação quando tu patinaste perfeitamente mas o teu parceiro falhou num elemento?

Evgenia – Quando patinas com um parceiro e um erro acontece, a culpa é de ambos mesmo que tenha ocorrido num salto a solo. Não sentimentos de mágoa. Mas tudo depende realmente da relação entre os parceiros. Nós nunca sentimos que recebemos notas mais baixas do que as que merecemos. E nós nunca nos culpamos um ao outro.

Vladimir – Acho isso pouco profissional.

Pergunta: Vocês têm oportunidade de falar um com o outro enquanto patinam para mudar algo no programa caso seja necessário?

Vladimir – Apenas algumas pequenas coisas. Talvez para mudar um passo e juntarmo-nos. Nós não podemos mudar algo global. O programa é coreografado para o máximo das nossas possibilidades actuais. Nós apenas podemos falar sobre mudanças nos vestiários cerca de 15 minutos antes de irmos para a pista.

Pergunta: Ficaram com a sensação que o nível nos últimos mundiais foi super alto?

Vladimir – É difícil partilhar as nossas impressões desses campeonatos; por causa da lesão, o programa curto e o livre não foram realizados no seu potencial pleno e nós estávamos na nossa melhor forma! Nós patinámos bem mas houve competições onde patinámos melhor… Durante a época nós percebemos que estávamos a crescer tecnicamente e que o nosso par estava a ser recebido de maneira diferente. Como líder. A lesão arruinou essa impressão da temporada mas apesar disso nós fizemos todos os elementos e não falhámos nenhum.

Pergunta: Qual foi a competição mais enervante da época passada?

Vladimir – Os mundiais. Quando chegas lá e nem fazes ideia se vais conseguir patinar. A Evgenia levou pontos e tomou analgésicos então inicialmente ela não sentiu nada. Mas, claro está, que o efeito dos analgésicos desaparece e nós não fazíamos ideia o que iria resultar da lesão.

Pergunta: Deixou-vos um sabor amargo?

Evgenia – Tudo acabou bem.

Vladimir – Sim e não. Eu penso que nós poderíamos ter conseguido notas mais altas em ambos os programas, patinado com mais liberdade. Mas também podíamos ter desistido da competição.

Pergunta: Vocês estão contentes com as provas do grande prémio da próxima época?

Vladimir – Sim mas foi duro antes de termos as inscrições. Os patinadores chineses foram os primeiros a escolher as suas provas, depois foram os alemães e nós ficámos com o que sobrou. Este ano a ordem das provas foi alterada – anteriormente eram as provas na América do Norte, as provas europeias e depois as provas asiáticas. Agora é uma prova na América do Norte e outra na Ásia. Acho que vai ser mais difícil para os atletas se conseguirem adaptar. Nós tivemos sorte com as inscrições.

Pergunta: Vai ser difícil patinar perante o público caseiro?

Vladimir – É possível. Mas vai depender da nossa preparação. Quando estás bem preparado e todos os elementos saem de forma automática, não interessa onde estás a patinar.

Pergunta: Falem um pouco sobre a participação no WTT.

Evgenia – Foi algo de novo.

Vladimir – Foi o nosso primeiro WTT e a nossa primeira vez no Japão. O país é fora do vulgar e não há realmente uma atmosfera muito competitiva quando as férias se aproximam e os patinadores convivem alegremente. Certamente que nenhum dos patinadores estrangeiros levou aquilo a sério.

Pergunta: O que é que foi mais memorável?

Evgenia e Vladimir – A “Kiss n’ Cry” (Nota: nome dado ao local onde os patinadores esperam pelas pontuações)

Pergunta: Vocês receberam um prémio especial por causa disso.

Vladimir – Sim! No final, durante o banquete onde as equipas foram premiadas, nós recebemos o prémio para melhor espírito de equipa.

Pergunta: Vocês estavam à espera disso?

Evgenia – Foi-nos dito que todos os anos atribuem um prémio à equipa com a melhor “Kiss n’ Cry”. Este ano, desde os primeiros dias que a nossa equipa estava determinada em vencê-lo. Nós fizemos o nosso melhor para ajudar.

Pergunta: Falem-nos do clima nas festas depois da competição.

Evgenia – Primeiro há uma parte oficial com os juízes e os atletas.

Vladimir – Os representantes da ISU discursam, depois é a vez do país organizador e depois há comida, bebida e música.

Pergunta: Normalmente, quem é que se mistura com quem?

Evgenia – Normalmente é com os amigos e a equipa. Habitualmente, nós ficamos com a nossa equipa e com os italianos e os franceses que nós conhecemos dos estágios.

Vladimir – É isso mas por alguma razão misturamo-nos menos com as equipas norte-americanas.

Pergunta: Como é que foram as vossas férias?

Evgenia – Nós tivemos duas semanas de férias. Nós passámos 12 dias no Bali com amigos do nosso grupo. Foi divertido.

Pergunta: Tiveram algum momento em que disseram: “Ok, já chega, vamos voltar para o gelo”?

Evgenia – Quando nós regressámos fomos para um estágio em Kislovdosk (?) onde não havia gelo nenhum. Então chegou a sensação de “Eu quero estar no gelo e não apenas correr no estádio”.

Pergunta: Houve coisas que tiveram de fazer durante as férias para manterem a forma física?

Evgenia – Nem por isso… Só se fores idiota é que não percebes que tens de te manter em forma.

Pergunta: Em que altura é que percebeste que patinar não era só diversão mas que se podia tornar em algo maior?

Evgenia – Acho que foi quando me decidi mudar de Kazan para Moscovo. Eu percebi que não podia voltar atrás e tinha de seguir em frente.

Vladimir – Quando terminei a escola e tive de decidir se ia para a Universidade ou se continuava a patinar. Esse foi o ponto de viragem: desporto ou profissão.

Pergunta: Ponderaste ir para a Universidade?

Vladimir – Nunca é tarde para estudar.

Pergunta: Isso é possível tendo em conta os vossos horários?

Evgenia – Estudar é exigente. Por outro lado, nós chegamos dos treinos muito cansados e não queremos fazer nada. Só dormir…

Pergunta: Os vossos pais seguem a vossa patinagem?

Evgenia – Claro que sim. Eles apoiam-nos mas tentam não incomodar. Eles leem coisas na internet durante as competições. Mas quando estou ao telefone com a minha mãe, nós falamos de outras coisas.

Pergunta: O Vladimir disse numa entrevista que houve uma altura na sua carreira que a sua antiga parceira e a mãe dela habitavam na casa dele mas que ele sentiu que não ia dar certo. Afinal como é que vocês se separaram? (Pergunta relativa à parceira que Vladimir teve antes de se juntar a Evgenia)

Vladimir – Ó, deram-nos parceiros diferentes e a situação resolveu-se a si própria. Mas o próprio treinador viu que nós não formávamos uma boa parceria.

Pergunta: As separações com os vossos anteriores parceiros foram amigáveis e não há ressentimentos?

Evgenia – Anteriormente eu só patinei com o Egor Chudin e ele foi convidado para patinar em espectáculos e eu tive a possibilidade de me juntar ao Vladimir. Então não houve drama.

Vladimir – Eu não tenho quaisquer ressentimentos.

Pergunta: Vladimir, tu quando começaste jogavas hóquei. Alguma vez te arrependeste de teres optado por um desporto menos bem pago?

Vladimir – Quando se é criança a perspectiva é diferente. Eu não patinava numa escola mas sim num programa de preparação. Então não havia ambição para me tornar patinador profissional. Simplesmente tudo resultou muito bem.

Pergunta: Não é nenhum segredo que vocês formam um casal fora das pistas. Isso torna o trabalho mais fácil ou mais difícil?

Vladimir – Eu acho que é mais fácil porque eu posso dizer coisas à Evgenia que não partilharia se ela fosse apenas minha parceira no gelo. Nós podemos ser mais abertos. É como se estivesses com alguém muito próximo e, quando dizes algo da boca para fora, é levado de forma completamente diferente. Mas dizer algo da boca para fora é muito menos perigoso do que guardar as coisas cá dentro. Quanto às dificuldades, elas sempre existirão.

Pergunta: Existe algum sentimento de especial responsabilidade nos elementos perigosos em que estás numa posição de controlo?

Vladimir – Claro que sim. Para o parceiro masculino é muitas vezes mais difícil do que para a patinadora. Quando ela está no salto lançado, tu estressaste sobre se ela fará a recepção. Não é só atirá-la e relaxar. A responsabilidade e o medo são repartidos de igual modo. 

Sem comentários:

Enviar um comentário