Julia ganhou uma imensa legião de fãs ainda no escalão júnior e maravilhou o mundo com o programa livre patinado ao som da banda sonora "A Lista de Schindler". Na temporada 2013/2014, Julia tornou-se campeã olímpica por equipas em Sochi, campeã da Europa e vice-campeã do mundo. Na sua curta carreira, Julia tocou o coração de muita gente e dificilmente será esquecida.
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segunda-feira, 28 de agosto de 2017
Notícias - Julia Lipnitskaya diz adeus
Parece que a jovem patinadora russa Julia Lipnitskaya decidiu dizer adeus à patinagem de competição. No dia 28 de Agosto de 2017 surgiu uma catadupa de artigos na imprensa russa dando conta que Julia teve de se submeter a um período de tratamento devido a anorexia e que agora já está melhor de saúde. No entanto, ela não planeia regressar à patinagem de competição.
Julia ganhou uma imensa legião de fãs ainda no escalão júnior e maravilhou o mundo com o programa livre patinado ao som da banda sonora "A Lista de Schindler". Na temporada 2013/2014, Julia tornou-se campeã olímpica por equipas em Sochi, campeã da Europa e vice-campeã do mundo. Na sua curta carreira, Julia tocou o coração de muita gente e dificilmente será esquecida.
Julia ganhou uma imensa legião de fãs ainda no escalão júnior e maravilhou o mundo com o programa livre patinado ao som da banda sonora "A Lista de Schindler". Na temporada 2013/2014, Julia tornou-se campeã olímpica por equipas em Sochi, campeã da Europa e vice-campeã do mundo. Na sua curta carreira, Julia tocou o coração de muita gente e dificilmente será esquecida.
quinta-feira, 24 de agosto de 2017
Tradução de entrevista da treinadora Elena Buyanova
Elena
Vodorezova Buyanova é uma lenda viva da patinagem artística russa. Nos seus
tempos de atleta, Elena patinou na categoria de individuais femininos em
representação da União Soviética. Talento precoce, Elena participou nos Jogos
Olímpicos de Inverno em 1976, com apenas 12 anos de idade. Uma doença brutal
obrigou-a a terminar a carreira competitiva. No entanto, ela nunca se afastou
completamente da patinagem artística e construiu uma carreira de respeito como
treinadora. O seu maior feito terá sido o de levar Adelina Sotnikova ao título
olímpico em 2014. A relação com Adelina azedou depois disso e nesta entrevista
ela fala bastante sobre a sua antiga pupila que agora está integrada na
Academia de Evgeny Plushenko. Actualmente, Elena Buyanova é a treinadora
responsável por Elena Radionova e Maria Sotskova.
O link
original pode ser consultado aqui: http://www.sport-express.ru/se-velena/reviews/elena-buyanova-nam-s-sotnikovoy-nuzhno-bylo-perestat-sebya-obmanyvat-1297646/
Aviso: as marcações em itálico são notas feitas por mim para ajudar a contextualizar algumas coisas.
Tradução de entrevista
A entrevistadora não perdeu tempo e
começou logo por tocar na ferida: a quebra de confiança entre Adelina Sotnikova
e Elena Buyanova.
Pergunta:
Quando um atleta toma a decisão de mudar de treinador, há sempre um momento
anterior em que a relação que existia esfria, um afastamento. A mudança da tua
pupila para o Evgeny Plushenko foi algo inesperado para ti ou no fundo já
sabias que isso acabaria por acontecer?
Elena
Buyanova – Tudo acontece por uma razão. Eu penso que o primeiro momento em que
fui atingida, como treinadora, foi a lesão da Adelina em 2015. Anteriormente,
ela nunca tinha sido afectada por lesões graves. Nunca. A Sotnikova foi sempre
não apenas muito disciplinada e trabalhadora como também estava em boa forma –
não tinha um único ponto fraco no seu corpo. Os problemas começaram depois de
uma pausa nos treinos. A Adelina começou a ser convidada para vários eventos;
eu não me importei mas sempre disse: tu é que tens de decidir o que é que
queres. Ela sempre respondeu que queria patinar. Enquanto treinadora, eu vi
claramente o que queria fazer, e como, com a Adelina no futuro. Mas um ano mais
tarde eu percebi que existiam certas coisas que não me estavam exactamente a
aborrecer mas…
Pergunta:
Querias mais clareza?
Elena
Buyanova – Isso em primeiro lugar. Tu sabes que tipo de regime é que um atleta
tem de cumprir para permanecer competitivo. Nós, por outro lado, tínhamos uma
espécie de caos. Nós decidimos em conjunto que precisávamos de competir pelo
menos nas competições de categoria B e nós criámos grandes programas. Claro que
foi difícil para a Adelina. Ela ganhou peso. Não muito mas o suficiente para
lhe causar dores nas costas quando ela treinava. Mesmo assim, ela trabalhou
arduamente e queria competir. O assunto “Ice Age” não estava fora de questão.
Eu sei que a Sotnikova estava sempre a ser convidada para participar e
ofereceram-lhe muito dinheiro. Mais do que isso, nós discutimos esse assunto e
eu pensei que a decisão estava tomada. Lembraste de quando eu e tu falámos
sobre quão difícil é para um atleta campeão olímpico arranjar uma nova
motivação para continuar? Na altura eu estava sempre a pensar nisso. Eu estava
tão feliz quando nós apresentámos os planos para a nova temporada depois da
semana de testes em Setembro: não fui eu mas sim a Adelina que deu voz à sua
vontade de patinar e de competir. Então nós apresentámos os planos e
literalmente poucos dias depois, quando regressámos a Moscovo vindas de Sochi,
a Adelina disse que ia participar no “Ice Age”. Para mim isso foi… o ponto
final, acho eu. Tu sabes que há um limite na confiança porque… bem, tem os seus
limites.
“Ice Age” é um programa super popular
na Rússia e é transmitido no canal estatal. Nesse programa, patinadores famosos
formam parceria com personalidades artísticas de primeira linha e têm de
patinar diversos temas em conjunto. As audiências são enormes e depois também
existem digressões pelo país, normalmente sempre com lotação esgotada.
Vídeo de uma das actuações de Adelina Sotnikova no programa "Ice Age" com um famoso actor russo.
Adelina Sotnikova |
Pergunta: Tu
já pensaste que também podes ter culpa? Talvez não tenhas estado junto da tua
pupila no momento em que ela precisou de ti, não disseste as palavras certas, se
calhar não foste suficientemente dura?
Elena
Buyanova – Eu pensei. Provavelmente devia tê-la pressionado mais e ter sido
mais dura. No entanto, eu permiti que a atleta fizesse o que fez e claro que é
culpa minha. Mas eu não podia ter feito diferente – eu vi como a Adelina estava
a amar tudo aquilo. Durante muitos anos ela não pôde viver uma vida normal ou
fazer o que queria. Ela é uma boa menina, muito amável e compassiva. Como um
dos nossos treinadores disse uma vez: podias aplicar a Sotnikova nas feridas e
elas curavam-se. Para que saibas o que é que acontece: estabeleces um
objectivo, alcanças o objectivo e depois soltas-te um pouco. Parece fácil:
basta dar um passo atrás e regressas à tua vida antiga. Só que isso não é
verdade.
Pergunta: No
início da nossa conversa tu disseste que sabias para onde orientar a Adelina.
Quais eram os teus planos?
Elena
Buyanova – A Adelina tem um potencial técnico muito elevado. Ela podia realizar
um toeloop quádruplo mas o seu corpo tinha de estar preparado.
Pergunta: Porquê
um toeloop quádruplo e não um triplo axel?
Elena
Buyanova – Nós tentámos o triplo axel antes dos Jogos Olímpicos. A rotação da
Adelina não era má mas o seu toeloop era melhor. Então eu pensei que talvez
fosse mais fácil acrescentar uma volta ao toeloop. Além disso, pode-se dizer
que a Adelina tinha esse objectivo. Em todos os momentos, eu sempre quis que
ela se destacasse na sua patinagem – então eu mandei-a dançar quando a perna
dela estava a sarar depois da lesão. A Adelina mexe-se bem e ela frequenta
aulas de dança jazz desde a infância, ela sabe isso tudo. Ela tem participado
nos nossos espectáculos desde criança – ela sempre esteve no palco. Todos os
coreógrafos com quem ela trabalhou ficaram surpreendidos como ela aprende as
coisas tão depressa – eles nunca tiveram de fazer explicações longas. Então eu
sempre soube que a Adelina não se ia perder. Eu só queria que ela tivesse
escolhido outro caminho e não o que ela está a fazer agora. Por outro lado, eu
estou feliz por ter sido capaz de desenvolver uma atleta que, para além dos
seus resultados grandiosos, é requisitada e pode se desenvolver
profissionalmente. O resto é com a Adelina e quanto mais ela quererá. Esse é o
seu caminho agora.
Pergunta –
Não há muito tempo, eu estive a falar com um dos membros da equipa que venceu o
ouro nos Jogos Olímpicos de Sochi que disse que participar em espectáculos tem
dois lados. Por um lado estás a patinar e ganhar nova experiência mas o
sentimento de ter dinheiro fácil muda-te. O atleta começa a perceber rapidamente
que os treinos são duros e entediantes e nunca se sabe qual será o resultado. O
espectáculo é fácil – patinas e és pago.
Elena
Buyanova – Há espectáculos em que tu estás a prolongar o processo de treino e a
desenvolver-te. Olha para os japoneses – eles patinam os seus programas com
todos os saltos. Por que é que eu enviei a Sotnikova para um espectáculo de
dança depois da lesão? Para que ela não ficasse parada mas trabalhasse a todo o
gás. Ela recuperou mais depressa e a Adelina mudou no gelo; ela tornou-se
diferente. Mesmo mais tarde eu disse-lhe muitas vezes: se tu participares num
espectáculo torna os programas mais difíceis, ultrapassa-te, caso contrário vai
ser muito complicado regressar. Há patinadoras boas na nossa equipa.
Nesta resposta Elena Buyanova
refere-se ao facto de Adelina ter participado na versão russa do programa
“Dança com as Estrelas” que tem um nível de exigência técnico muito elevado.
Adelina fez um enorme sucesso nesse programa e terminou na segunda posição.
Video de uma das prestações de Adelina no programa "Dança com as Estrelas"
Pergunta:
Quando é que tu achas que a Adelina atingiu o ponto de não retorno ao grande
nível?
Elena
Buyanova – Geralmente os atletas não entendem essas coisas. É sempre difícil
retirar-se e avançar para o desconhecido – é como cair de um penhasco. Tu nunca
vais conseguir fazer as coisas sozinho a menos que te empurrem. Eu vi muitos
atletas que estavam prontos para retirar-se mas que não tomavam o último passo
e regressavam. Não há muitos que se tenham mudado para uma nova vida assim de
repente. Tu tens razão: quando há muitos espectáculos tudo descarrila. Os
atletas param de ser exigentes. Eles deixam de entender que se entras na pista
como campeão olímpico tens de estar a esse nível.
Pergunta:
Estás a dizer que isso foi o que aconteceu com a Adelina?
Elena
Buyanova – Infelizmente…
Pergunta:
Quando o teu pupilo Maxim Kovtun se mudou para o grupo de Inna Goncharenko, tu
contaste como era doloroso ver o teu atleta todos os dias a ser treinado por
outra pessoa. Agora a situação é a inversa: tu concordaste em aceitar a Elena
Radionova compreendendo que a Inna Goncharenko também ia sentir o mesmo. Por
que é que fizeste isso?
Elena
Buyanova – Eu não aceitei a Radionova por vingança. Ela pediu-me para se juntar
à equipa e disse que estava pronta para trabalhar. Isto não foi sobre uma atleta
que veio de fora. A Lena cresceu na nossa escola e, em muitas coisas, perante
os meus olhos; eu sei que tipo de lutadora ela é e como ela pode patinar. Não
importa os termos em que coloques a questão – é a nossa escola e são as nossas
crianças.
Referência ao facto de tanto Elena
Buyanova como Inna Goncharenko fazerem parte do quadro principal de treinadores
do mesmo clube em Moscovo.
Pergunta: Quando o Kovtun te deixou, eu não me lembro
de teres falado na “nossa escola, as nossas crianças, não importa qual é o
treinador”.
Elena
Buyanova – Como líder do CSKA, eu podia ter impedido essa mudança de
treinadora. Sim, foi difícil para mim. Mas se o meu atleta fez a escolha por
que é que deveria impedi-lo?
Pergunta: Tu
aceitaste a Radionova imediatamente?
Elena
Buyanova – Não, eu pensei um pouco sobre isso. O que eu gostei foi que a Lena
não estava a tentar desculpabilizar-se do que se passou na temporada anterior.
O treinador não é um deus, nem sequer o mais genial. O atleta é igualmente
responsável.
Elena Radionova |
Pergunta: Tu
nunca tiveste dúvidas que a Maria Sotskova, que estava a trabalhar contigo há
cerca de um ano, ia reagir bem? Que, por assim dizer, ela podia ter levado isso
a peito e ter ido procurar uma equipa mais confortável?
Elena
Buyanova – Eu duvido que actualmente tenhamos atletas que possam ditar as
regras quanto aos treinadores. Pelo menos eu não consigo compreender uma
situação dessas. Obviamente que a Sotskova esteve um pouco desconfortável
especialmente porque, depois dos Europeus, houve conversas sobre ela ser
substituída pela Radionova. Isso foi falado a toda a hora. Mas eu penso que
isso tornou a Maria mais forte e eu não vejo nada de errado nisso. Além de que
o Javier Fernandez e o Yuzuru Hanyu treinam juntos – isso torna-os menos bons?
Olha a Eteri Tutberidze: ela tem a Zagitova que cresceu na sombra da Medvedeva,
que por sua vez estava a patinar na sombra da Lipnitskaya. Tu perguntaste-me
sobre a Sotskova – não é certo que ela esteja desconfortável com a Radionova. A
Elena não só entrou numa situação complicada mas numa das mais difíceis pois
sabe que ninguém lhe dará atenção exclusiva. Se eu tiver de comparar as duas
atletas, é mais difícil para a Lena porque ela praticamente perdeu um ano, ela
tem de recuperar e isso dá muito trabalho. Quando o atleta ainda é uma criança
e começa a vencer, é só trabalho, trabalho, trabalho. Por exemplo, o primeiro
toeloop, o primeiro axel, o primeiro lutz, depois as combinações – coisas que
são comuns a todos. No entanto, nós estamos num ponto em que nós podemos
decorar os programas. Como uma árvore de natal.
Pergunta:
Nos últimos dois anos, o mundo da patinagem artística só fala sobre a Rússia
ter a Evgenia Medvedeva e que ela é imbatível. Eu penso que muitos atletas se
sentem desencorajados pensando se é possível bater a Medvedeva. E os
treinadores? Tu às vezes pensas que é impossível bater a Medvedeva?
Elena
Buyanova – Tu sugeres que nos sentemos à espera que a Evgenia se retire? Bem,
mais alguém há-de aparecer. Se um atleta tem a reputação de ser imbatível, enquanto
treinadora eu sempre respeito isso. Mais do que ninguém, eu sei o quanto isso
requer muito trabalho. O meu objectivo é ter a certeza que os meus patinadores
competem com o líder e não que apenas partilhem o gelo na mesma competição. Eu
adorei a entrevista recente do Shoma Uno onde ele diz que gosta de ser o
perseguidor. É óptimo quando a pessoa não se sente apenas a chegar ao mesmo
nível, mas sim a perseguir. Claro que aqueles que se tornam líderes marcam a
fasquia. Mas isso não significa que não podes ultrapassá-los. O líder é aquele
que quer mais, trabalha mais e ultrapassa mais. Essas pessoas tornam-se as
primeiras. Quando os atletas se contentam com o que têm tornam-se
medíocres. Francamente, eu não entendo
por que é que se trabalha tanto para depois ser medíocre. Eu nem sequer estou a
falar de mim própria. Afinal treinar é a minha profissão e eu fiz essa escolha
já adulta. Mas eu sempre tento explicar a todos aqueles que eu treino: quando
tu és medíocre, tu não és ninguém. Talvez seja por isso que eu sou tão exigente
– eu andei nesse caminho muitas vezes e eu sei como pode ser assustador
retirar-se quando há um vazio por dentro e um sentimento de falhanço. Agora a
Medvedeva tem um objectivo – garantir que ninguém a apanha. Ela tem de
tornar-se melhor, ainda mais interessante. No entanto, eu sei que há pessoas
que pensam “Ainda melhor? Para quê?”.
Pergunta:
Quão sério é o desafio das canadianas Osmond e Dalleman?
Elena
Buyanova – Eu gosto das duas: fortes, saltadoras, muito femininas e isso é uma
grande vantagem. É um tipo de patinagem que eu sempre gostei: eu sempre gostei
que os saltos não sejam grandes mas enormes. Então as duas podem ser perigosas
nos Jogos Olímpicos. Nós não devemos subestima-las.
Pergunta:
Falando nos Jogos Olímpicos: tu não vês que não importa o quanto Sotskova e
Radionova trabalhem pois, no actual estado competitivo das senhoras, as duas
podem ficar de fora da equipa?
Elena
Buyanova – É algo para que todo o treinador tem de estar preparado. Eu só quero
que os meus patinadores não percam as oportunidades que tiverem. É para isso
que nós trabalhamos – não perder as oportunidades. Há um ano muitos duvidavam
que a Sotskova conseguia qualificar-se para a final do circuito do grande
prémio – eu vi a dúvida nos seus olhos. Mas quando nós apresentámos os planos,
a própria Maria disse “Eu vou conseguir”. Quando ela começou a trabalhar eu
fiquei maravilhada com a sua determinação. E imediatamente acreditei que a
miúda ia conseguir. E depois aconteceram os campeonatos nacionais da Rússia e a
Maria trabalhou como uma louca para se preparar.
Pergunta: E
depois ela já não tinha mais energia?
Elena
Buyanova – Eu diria que ela “expirou” ligeiramente depois de se ter qualificado
para a equipa. Mas houve momentos específicos. No Inverno, a Maria esteve
doente durante duas semanas e, claro está, o pensamento de que ela poderia ser
substituída estava a pressioná-la. Apesar da sua técnica base ser muito boa,
ela tem de trabalhar mais duro que outras patinadoras porque é muito alta.
Pergunta: Há
alguma possibilidade da Sotnikova querer voltar a patinar e perguntar-te se
pode regressar ao teu grupo?
Elena
Buyanova – O que é que queres dizer com “querer patinar”? É o que ela diz. Ela
está a preparar-se para os testes.
Pergunta:
Apesar do facto de ela, assim que se mudou para o Plushenko, ter imediatamente
rompido um ligamento?
Elena
Buyanova – A lesão não tem nada a ver com isso apesar de ter sido séria. Quando
o atleta revela à imprensa coisas sobre os novos programas e os planos mas não
declina todos os outros eventos, é óbvio que os planos para regressar não devem
ser levados a sério. Nada acontece assim no desporto.
Pergunta:
Ainda estás chateada com a Adelina por ela te ter avisado da mudança para o
Plushenko por sms?
Elena
Buyanova – E não o escondo. Mas isso não é o ponto. Eu conheço a Adelina muito
bem, se calhar ainda mais que a mãe dela. Em algumas coisas elas ainda é uma
criancinha. É algo que todos os grandes atletas têm em comum: eles acreditam
piamente que eles conseguiram tudo sozinhos. Eles não compreendem nem querem
entender que o resultado é obtido parcialmente graças ao treinador que os puxou
durante anos, que os levou aonde eles não conseguiam chegar sozinhos. Quando a
Adelina e eu entrámos naquele período de falta de comunicação, ela uma vez
disse-me “vais ter dificuldades comigo”. Eu respondi “E tu achas que alguma vez
foi fácil contigo”. Houve uma altura em que eu pensei que não havia nada de
novo para mim na patinagem artística. Que eu nunca ia ter atletas mais difíceis
para trabalhar do que aqueles que eu já tinha tido. Que os próximos seriam mais
fáceis. E depois aparece mais alguém e tu percebes como eles são todos
diferentes. Que tu não podes aceitar alguém e simplesmente “copiar/colar” o
trabalho anterior. Pelo menos eu não consigo fazer isso. Todos são diferentes;
uma experiência diferente. E isso faz-te evoluir. Quando ao regresso – nós já
passámos por isso e vimos o que aconteceu. Como eu disse, os limites da
confiança foram quebrados. Eu não amo a Adelina menos do que antes; ela ainda é
preciosa para mim como uma atleta com quem eu fiz uma longa e complicada viagem
mas já não há volta a dar. Nós raramente nos vimos durante o ano passado por
causa de todos esses espectáculos e treinar alguém entre espectáculos é algo
que eu nunca faria. Eu não consigo acreditar que a Adelina realmente queira
regressar. Eu não acho certo continuar a enganar-se a mim e a ela própria.
Pergunta: Se
calhar é muito mais fácil? A Sotnikova, sabendo como tu és exigente, como tu
metes a fasquia muito alto, teve medo de não conseguir estar à altura das
expectativas? Tens de concordar que seria difícil regressar à equipa onde outra
patinadora está a alcançar o topo de forma e onde não te sentirias igualmente
boa. Ela tem alguma auto-estima.
Elena
Buyanova – Eu penso que no fundo ela não conseguia partilhar-me com a Maria.
Ela estava à espera que eu recusasse os outros todos por ela.
Pergunta: E?
Elena
Buyanova – E que a convencesse a patinar.
quarta-feira, 23 de agosto de 2017
Notícias da Rússia - A caminho da semana de testes
A semana de testes na Rússia é um dos momentos mais
aguardados do início de temporada e este ano não é excepção.
Durante a semana de testes, os patinadores que fazem parte
do grupo de elite e os que são os principais candidatos a um lugar na selecção
nacional do país tem de apresentar-se perante os responsáveis da federação
russa e de um conceituado grupo de especialistas. Os testes de 2017 irão
realizar-se na cidade de Sochi. Aí, os patinadores terão a oportunidade de
mostrar os programas que pensam patinar para a temporada 2017/2018. Todos os
programas são sujeitos a avaliação. Consoante a avaliação, os patinadores e as
suas respectivas equipas técnicas terão um prazo para realizar melhorias nos
programas antes de poderem competir em competições internacionais. Na semana de
testes, os patinadores também terão a hipótese de apresentar algum elemento
novo em que tenham trabalhado durante a época baixa.
Entretanto já se sabe que o par Ksenia Stolbova & Fedor
Klimov não irão apresentar-se na semana de testes. Fedor foi submetido a uma
operação cirúrgica há cerca de um mês e ainda está em recuperação, sendo que há
certos elementos que ele ainda nem sequer pode arriscar, nomeadamente o twist e
as figuras de elevação. Como Ksenia e Fedor têm uma justificação médica para a
falta de comparência nestes testes, é possível que sejam avaliados em privado
assim que for possível. Consta que este par planeia iniciar o seu calendário
competitivo no Troféu Finlândia.
Fedor Klimov está a braços com mais uma lesão complicada |
Quem também ficará de fora da semana de testes é o famoso
par Tatiana Volosozhar & Maxim Trankov. Tatiana e Maxim têm estado a
patinar no espectáculo “Romeu e Julieta” produzido pela companhia de Ilya
Averbukh e duvido que tenham tido tempo de preparar novas coreografias. Além
disso, esta falta de comparência na semana de testes parece indicar uma coisa
que já muitos suspeitam: Tatiana e Maxim não voltarão ao circuito competitivo.
Tatiana Volosozhar & Maxim Trankov |
Adelina Sotnikova e Julia Lipnitskaya foram figuras maiores
no Jogos Olímpicos de Sochi e arrebataram corações. Quem estava à espera de
vê-las na semana de testes desengane-se. Julia e Adelina não irão marcar
presença. No caso de Julia, tudo aponta para o final de carreira na patinagem
de competição (pelo menos como individual). Adelina continua a trabalhar sob a
orientação de Evgeny Plushenko mas é possível que ainda não esteja pronta para
regressar.
Adelina Sotnikova |
Na categoria masculina destaca-se a ausência de Artur
Dmitriev Jr. pois a própria federação impediu a sua participação! Não sei qual
é a justificação para este impedimento mas espero que não seja uma punição
disciplinar.
Na categoria de dança aguarda-se com alguma ansiedade a
confirmação da presença de Elena Ilinykh e Anton Shibnev.
Elena Ilinykh & Anton Shibnev (Fonte: Instagram) |
domingo, 20 de agosto de 2017
Tradução de entrevista do par Tarasova & Morozov
O jovem par russo composto por Evgenia Tarasova e Vladimir
Morozov tem demonstrado uma evolução sólida no circuito internacional. Na
temporada 2016/2017 sagraram-se campeões da Europa e venceram a final do grande
prémio. Nos mundiais seguraram a medalha de bronze apesar de terem sofrido
vários percalços nomeadamente um corte na perna de Evgenia que a impediu de
estar ao seu melhor nível. Nas vésperas de iniciarem a época 2017/2018, Evgenia
e Vladimir concederam uma entrevista à jornalista Ekaterina Chervniavskaya. O
link original pode ser consultado aqui: http://www.sport-express.ru/figure-skating/reviews/evgeniya-tarasova-i-vladimir-morozov-uprekat-partnera-za-oshibki-neprofessionalno-1297107/
Tradução de entrevista
Pergunta: Tiveram a oportunidade de celebrar a vossa
liderança na lista das pontuações da ISU?
Vladimir – Os fãs e os amigos enviaram-nos os “screenshots”; claro que foi agradável
mas não é nada de mais.
Pergunta: Como é que está a decorrer a preparação dos dois
novos programas?
Vladimir – Nós temos dois novos programas interessantes. Nós
gostamos deles e a federação também. Nós temos esperança que eles resultem. O
programa curto é clássico e digamos que o programa livre é feliz e alegre. Nós
ainda não vamos revelar as músicas e vamos esperar pelos testes em Setembro.
Pergunta: O coreógrafo foi o Peter Tchernyshev?
Vladimir – Sim. Este ano ele coreografou ambos os programas.
Na temporada passada, nós tentámos o programa curto com ele e resultou bem
portanto nós decidimos trabalhar com ele nos dois programas deste ano.
Pergunta: Os fatos estão prontos?
Evgenia – Não, nós ainda estamos a pensar e a ver os
desenhos. De momento, só temos uma vaga ideia de como eles vão ser.
Pergunta: Na temporada passada vocês tiveram de mudar os
fatos do programa livre.
Evgenia – Sim, a primeira versão não foi bem sucedida e
disseram-nos para mudar. Nós também não gostámos muito da segunda versão mas
não havia tempo ou oportunidade para fazer novos fatos.
Pergunta: Tu tens fatos favoritos?
Evgenia – O do programa curto da época passada. Eu também
amei o fato preto que usei no programa tango nos juniores e o fato cor de
pêssego no programa livre de juniores. Esses programas foram coreografados por
Maxim Trankov.
Vladimir – Os fatos do programa irlandês do ano passado eram
fixes mas, no geral, todos os fatos foram bons.
Pergunta: Vocês planeiam acrescentar mais elementos
complexos esta temporada?
Vladimir – Os saltos e os saltos lançados serão os mesmos;
nós estamos a trabalhar nos elementos mais fáceis como os peões.
Pergunta: Por exemplo, não vão tentar um quádruplo lançado?
Evgenia – Um quádruplo twist – sim; um lançado – não.
Pergunta: O que é que tens a dizer àqueles que afirmam que o
quádruplo twist é inútil: que um triplo twist bem realizado garante mais
pontos?
Evgenia – Um elemento desses diz algo sobre o nível do par.
É mais complicado e custa mais. O resto depende de como nós o vamos efectuar.
Nós vamos tentar o nosso melhor para fazê-lo de forma limpa.
Vladimir – Muitas vezes tudo depende da execução então, em
algumas ocasiões, nós não conseguimos pontos adicionais. Mas se apenas fizermos
o quádruplo twist nos treinos, irá demorar mais tempo a integrá-lo no programa.
Pergunta: Foi doloroso ouvir que o vosso programa livre era
muito pior que o dos vossos adversários?
Evgenia – É apenas uma critica que temos de levar em
consideração e não repetir esses erros no futuro.
Foram colocadas várias questões sobre este programa
Pergunta: Vocês não sentiram isso quando o programa estava a
ser coreografado?
Evgenia – Este programa tem cá uma história! Inicialmente,
nós tínhamos uma peça musical mas depois a federação viu-o e decidiu que a
música era errada. Em resultado, nós tivemos de mudá-la e tudo ficou muito
caótico.
Pergunta: Em que momento é que a federação avalia os
programas? E há tempo suficiente para fazer mudanças depois disso?
Evgenia – Os nossos programas foram avaliados em Julho no
estágio em Sochi, quando os representantes da federação foram ver-nos. Foi-nos
dito que não servia. No final nós mudámos a música.
Pergunta: Quanto tempo é que leva transformar o programa da
ideia inicial para algo competitivo?
Vladimir – Cerca de um mês…
Evgenia – Desta vez o coreógrafo Peter Tchernyshev levou
duas semanas. Depois nós vamos trabalhar nos programas até Setembro.
Pergunta: Digam-me como é trabalhar com o Robin Szolkowy. Em
que língua é que vocês comunicam?
Evgenia – Inglês.
Pergunta: Sabes inglês suficiente?
Evgenia – Bem, o meu inglês é um pouco básico, o do Vladimir
é melhor. Mas o Robin e eu entendemo-nos.
Pergunta: E russo?
Evgenia – Bem, o Szolkowy sabe dizer coisas como “olá” e
“bom dia”. Afinal de contas ele estudou um pouco de russo.
Pergunta: E não foi por nada visto que patinava com a Aliona
Savchenko.
Vladimir – Foi mais a Aliona que aprendeu alemão.
Pergunta: Sentem-se confortáveis sendo os líderes dos pares
russos?
Vladimir – Nós sempre tivemos o objectivo de sermos os
primeiros mesmo quando ninguém nos levava a sério. Ser líder é confortável.
Além disso, nós nunca nos sentámos a pensar que “somos os n.ºs 2-3 e
que ninguém espera muito de nós e que é melhor assim”. Nós sempre quisemos
lutar e sempre quisemos mais.
Pergunta: Estão preparados para competir com Stolbova &
Klimov? Eles estiveram na sombra durante a temporada passada. Há alguma tensão
durante os treinos?
Evgenia – Nós não treinamos ao mesmo tempo. Eu penso que
tudo se tornará mais claro durante as competições.
Pergunta: Qual é o espirito no vosso grupo?
Evgenia – Nós todos temos uma relação amigável; nós sempre
nos encontramos depois e as competições são o único sítio onde somos rivais.
Mas é sempre interessantes seguir os rivais nos treinos e fazer comparações.
Faz-te ficar em forma.
Pergunta: Na disciplina de pares há sempre lugar a erros
individuais. Qual é a sensação quando tu patinaste perfeitamente mas o teu
parceiro falhou num elemento?
Evgenia – Quando patinas com um parceiro e um erro acontece,
a culpa é de ambos mesmo que tenha ocorrido num salto a solo. Não sentimentos
de mágoa. Mas tudo depende realmente da relação entre os parceiros. Nós nunca
sentimos que recebemos notas mais baixas do que as que merecemos. E nós nunca
nos culpamos um ao outro.
Vladimir – Acho isso pouco profissional.
Pergunta: Vocês têm oportunidade de falar um com o outro
enquanto patinam para mudar algo no programa caso seja necessário?
Vladimir – Apenas algumas pequenas coisas. Talvez para mudar
um passo e juntarmo-nos. Nós não podemos mudar algo global. O programa é
coreografado para o máximo das nossas possibilidades actuais. Nós apenas
podemos falar sobre mudanças nos vestiários cerca de 15 minutos antes de irmos
para a pista.
Pergunta: Ficaram com a sensação que o nível nos últimos
mundiais foi super alto?
Vladimir – É difícil partilhar as nossas impressões desses
campeonatos; por causa da lesão, o programa curto e o livre não foram
realizados no seu potencial pleno e nós estávamos na nossa melhor forma! Nós
patinámos bem mas houve competições onde patinámos melhor… Durante a época nós
percebemos que estávamos a crescer tecnicamente e que o nosso par estava a ser
recebido de maneira diferente. Como líder. A lesão arruinou essa impressão da
temporada mas apesar disso nós fizemos todos os elementos e não falhámos
nenhum.
Pergunta: Qual foi a competição mais enervante da época
passada?
Vladimir – Os mundiais. Quando chegas lá e nem fazes ideia
se vais conseguir patinar. A Evgenia levou pontos e tomou analgésicos então
inicialmente ela não sentiu nada. Mas, claro está, que o efeito dos analgésicos
desaparece e nós não fazíamos ideia o que iria resultar da lesão.
Pergunta: Deixou-vos um sabor amargo?
Evgenia – Tudo acabou bem.
Vladimir – Sim e não. Eu penso que nós poderíamos ter
conseguido notas mais altas em ambos os programas, patinado com mais liberdade.
Mas também podíamos ter desistido da competição.
Pergunta: Vocês estão contentes com as provas do grande
prémio da próxima época?
Vladimir – Sim mas foi duro antes de termos as inscrições.
Os patinadores chineses foram os primeiros a escolher as suas provas, depois
foram os alemães e nós ficámos com o que sobrou. Este ano a ordem das provas
foi alterada – anteriormente eram as provas na América do Norte, as provas
europeias e depois as provas asiáticas. Agora é uma prova na América do Norte e
outra na Ásia. Acho que vai ser mais difícil para os atletas se conseguirem
adaptar. Nós tivemos sorte com as inscrições.
Pergunta: Vai ser difícil patinar perante o público caseiro?
Vladimir – É possível. Mas vai depender da nossa preparação.
Quando estás bem preparado e todos os elementos saem de forma automática, não
interessa onde estás a patinar.
Pergunta: Falem um pouco sobre a participação no WTT.
Evgenia – Foi algo de novo.
Vladimir – Foi o nosso primeiro WTT e a nossa primeira vez
no Japão. O país é fora do vulgar e não há realmente uma atmosfera muito
competitiva quando as férias se aproximam e os patinadores convivem
alegremente. Certamente que nenhum dos patinadores estrangeiros levou aquilo a
sério.
Pergunta: O que é que foi mais memorável?
Evgenia e Vladimir – A “Kiss n’ Cry” (Nota: nome dado ao local onde os patinadores esperam pelas pontuações)
Pergunta: Vocês receberam um prémio especial por causa
disso.
Vladimir – Sim! No final, durante o banquete onde as equipas
foram premiadas, nós recebemos o prémio para melhor espírito de equipa.
Pergunta: Vocês estavam à espera disso?
Evgenia – Foi-nos dito que todos os anos atribuem um prémio
à equipa com a melhor “Kiss n’ Cry”. Este ano, desde os primeiros dias que a
nossa equipa estava determinada em vencê-lo. Nós fizemos o nosso melhor para
ajudar.
Pergunta: Falem-nos do clima nas festas depois da
competição.
Evgenia – Primeiro há uma parte oficial com os juízes e os
atletas.
Vladimir – Os representantes da ISU discursam, depois é a
vez do país organizador e depois há comida, bebida e música.
Pergunta: Normalmente, quem é que se mistura com quem?
Evgenia – Normalmente é com os amigos e a equipa.
Habitualmente, nós ficamos com a nossa equipa e com os italianos e os franceses
que nós conhecemos dos estágios.
Vladimir – É isso mas por alguma razão misturamo-nos menos
com as equipas norte-americanas.
Pergunta: Como é que foram as vossas férias?
Evgenia – Nós tivemos duas semanas de férias. Nós passámos
12 dias no Bali com amigos do nosso grupo. Foi divertido.
Pergunta: Tiveram algum momento em que disseram: “Ok, já
chega, vamos voltar para o gelo”?
Evgenia – Quando nós regressámos fomos para um estágio em
Kislovdosk (?) onde não havia gelo
nenhum. Então chegou a sensação de “Eu quero estar no gelo e não apenas correr
no estádio”.
Pergunta: Houve coisas que tiveram de fazer durante as
férias para manterem a forma física?
Evgenia – Nem por isso… Só se fores idiota é que não
percebes que tens de te manter em forma.
Pergunta: Em que altura é que percebeste que patinar não era
só diversão mas que se podia tornar em algo maior?
Evgenia – Acho que foi quando me decidi mudar de Kazan para
Moscovo. Eu percebi que não podia voltar atrás e tinha de seguir em frente.
Vladimir – Quando terminei a escola e tive de decidir se ia
para a Universidade ou se continuava a patinar. Esse foi o ponto de viragem:
desporto ou profissão.
Pergunta: Ponderaste ir para a Universidade?
Vladimir – Nunca é tarde para estudar.
Pergunta: Isso é possível tendo em conta os vossos horários?
Evgenia – Estudar é exigente. Por outro lado, nós chegamos
dos treinos muito cansados e não queremos fazer nada. Só dormir…
Pergunta: Os vossos pais seguem a vossa patinagem?
Evgenia – Claro que sim. Eles apoiam-nos mas tentam não
incomodar. Eles leem coisas na internet durante as competições. Mas quando
estou ao telefone com a minha mãe, nós falamos de outras coisas.
Pergunta: O Vladimir disse numa entrevista que houve uma
altura na sua carreira que a sua antiga parceira e a mãe dela habitavam na casa
dele mas que ele sentiu que não ia dar certo. Afinal como é que vocês se
separaram? (Pergunta relativa à parceira
que Vladimir teve antes de se juntar a Evgenia)
Vladimir – Ó, deram-nos parceiros diferentes e a situação
resolveu-se a si própria. Mas o próprio treinador viu que nós não formávamos
uma boa parceria.
Pergunta: As separações com os vossos anteriores parceiros
foram amigáveis e não há ressentimentos?
Evgenia – Anteriormente eu só patinei com o Egor Chudin e
ele foi convidado para patinar em espectáculos e eu tive a possibilidade de me
juntar ao Vladimir. Então não houve drama.
Vladimir – Eu não tenho quaisquer ressentimentos.
Pergunta: Vladimir, tu quando começaste jogavas hóquei.
Alguma vez te arrependeste de teres optado por um desporto menos bem pago?
Vladimir – Quando se é criança a perspectiva é diferente. Eu
não patinava numa escola mas sim num programa de preparação. Então não havia
ambição para me tornar patinador profissional. Simplesmente tudo resultou muito
bem.
Pergunta: Não é nenhum segredo que vocês formam um casal
fora das pistas. Isso torna o trabalho mais fácil ou mais difícil?
Vladimir – Eu acho que é mais fácil porque eu posso dizer
coisas à Evgenia que não partilharia se ela fosse apenas minha parceira no gelo.
Nós podemos ser mais abertos. É como se estivesses com alguém muito próximo e,
quando dizes algo da boca para fora, é levado de forma completamente diferente.
Mas dizer algo da boca para fora é muito menos perigoso do que guardar as
coisas cá dentro. Quanto às dificuldades, elas sempre existirão.
Pergunta: Existe algum sentimento de especial
responsabilidade nos elementos perigosos em que estás numa posição de controlo?
Vladimir – Claro que sim. Para o parceiro masculino é muitas
vezes mais difícil do que para a patinadora. Quando ela está no salto lançado,
tu estressaste sobre se ela fará a recepção. Não é só atirá-la e relaxar. A
responsabilidade e o medo são repartidos de igual modo.
quarta-feira, 16 de agosto de 2017
Tradução de entrevista de Elena Radionova
Elena Radionova conquistou os
corações de muitos fãs de patinagem artística quando ainda estava no escalão
júnior. Depois de uma excelente transição para os seniores, onde venceu várias
medalhas, Elena ficou de fora da selecção nacional russa para os europeus e
mundiais da temporada passada. Elena está determinada em volta aos maiores
palcos internacionais em grande nível e quer segurar um lugar na equipa russa
para os próximos Jogos Olímpicos de Inverno. Entretanto, Elena concedeu uma
entrevista à conceituada jornalista Elena Vaytsekhovskaya. Podem ler a tradução
em baixo e consultar o link original aqui: http://www.sport-express.ru/se-velena/reviews/elena-radionova-menya-osuzhdayut-za-smenu-trenera-ya-gotova-k-etomu-1294133/
Tradução de
entrevista
Pergunta:
Como é que é ter subido tão alto em 2015 para depois seres descartada um ano
depois?
Elena –
Quase todos os patinadores passam por fases más. Então eu não fui descartada.
Acho que foi uma hipótese para pensar e reconsiderar algumas coisas. Para
perceber o que eu fiz de errado.
Pergunta: Tu
habituaste toda a gente a seres capaz de competir; tu estavas sempre por cima
das situações mesmo se tivesses patinado no limite. O que é que mudou? Quando é
que apareceu a sensação de que as coisas estavam a correr mal?
Elena – Acho
que desde o início da temporada. Eu tive lesões, depois fiquei doente e cheguei
aos testes* sem estar preparada. Eu tentei ficar em forma durante a época mas
não consegui. Eu compreendi que não tive a preparação que necessitava e estava
a faltar o contacto habitual com a treinadora. Cada uma destas coisas em
separado não foi nada de mais mas tudo junto levou a isso.
*referência à semana de testes na Rússia em
que os patinadores apresentam os seus programas e elementos novos aos
responsáveis da federação.
Pergunta: O
Sergei Voronov e posteriormente o Maxim Kovtun juntaram-se ao grupo e a tua
treinadora teve de dividir a atenção dela – quanto é que isso influenciou?
Elena – Eu
tive excelentes treinos com o Maxim e o Sergei. Eu estive sempre focada em mim
mesma então os rapazes apenas me motivavam.
Pergunta: Os
parceiros de treino têm outro lado; durante muitos anos tu foste a única
patinadora da tua treinadora e de repente passaste a ser apenas mais uma
atleta, provavelmente nem sequer a principal atleta. Penso que isso não foi
agradável de perceber?
Elena – Nessa
altura eu recebi muita ajuda da Tatiana Tarasova. Então eu não me senti
excluída.
Pergunta: Ela
aconselhou-te a mudar de treinadora?
Elena – Não.
A ideia foi minha.
Pergunta:
Durante os campeonatos nacionais russos em Dezembro, passou-te pela cabeça que
não conseguirias chegar à selecção?
Elena – Eu
nem sequer estava a pensar na classificação; Eu apenas pensei em patinar ambos
os meus programas de forma limpa. Mentalmente eu estava preparada. No geral eu
apenas cometi um erro – um toque no gelo na recepção no triplo loop. Não foi
uma falha terrível mas fiquei em quinto lugar. Talvez outra pessoa ficasse
muito chateada. Eu convenci-me que eu apenas tinha de continuar. Sim, eu perdi.
Acontece. É desporto.
Pergunta:
Foi difícil não desistir sabendo que irias aos europeus nem aos mundiais?
Elena –
Claro. Todos queremos vencer e cada derrota é dura. Eu obriguei-me a pensar nos
Jogos Universitários; que eu tinha de patinar bem aí para ter uma hipótese de
participar no WTT (World Team Trophy).
Eu ganhei essa hipótese. Então eu não posso dizer que perdi os campeonatos
nacionais e que a época acabou. Foi o oposto – aquela derrota fez-me ficar mais
concentrada. Essa foram as coisas positivas dessa situação. No tempo que eu
tive, eu pude analisar o que aconteceu e o que eu precisava fazer para melhorar
e trabalhar nos erros que eu cometi.
Pergunta:
Esses erros foram culpa tua? Ou foram as circunstâncias?
Elena –
Claro que foram culpa minha.
Pergunta: O
quê?
Elena – Não
estou disposta a falar sobre isso agora. É suficiente que saiba as razões e que
trabalhe nelas.
Pergunta: A
(Shae-Lynn) Bourne coreografou o teu
programa curto da temporada passada e depois toda a gente começou a dizer que
ela 100% a tua coreógrafa. Esta é a razão pela qual foste trabalhar com ela
outra vez?
Elena – Eu
amei o programa e como foi recebido então eu decidi que na temporada seguinte
eu iria trabalhar com a Shae-Lynn em pelo menos mais um programa.
Pergunta: Não
estavas a planear manter esse programa curto por mais uma temporada?
Elena – Não
é que eu estivesse a planear isso mas realmente gostaria de mantê-lo. Quando eu
comecei a trabalhar com a Buyanova, de repente, ela disse que adoraria manter o
programa por mais uma época, então nós chegámos a um acordo. Daí surgiu a ideia
que a Shae-Lynn também coreografasse o programa livre. Eu adoro o estilo dela e
nós temos um bom entendimento quando trabalhamos no gelo.
Pergunta: O
que é que gostas mais quando trabalhas com a (Shae-Lynn) Bourne?
Elena – A
Shae-Lynn tem o seu próprio estilo de patinagem que é muito da América do
Norte. É diferente do nosso. Existem muitos pequenos detalhes que tu tens de
efectuar com as pernas e os canadianos certificam-se sempre que cada movimento
seja integrado na música.
Pergunta: É
difícil?
Elena –
Podes ter a certeza. O programa começa a brilhar quando acertas mesmo nos
acentos da música. Para isso é preciso ouvir a música, sentir o tempo e tudo
entra em piloto automático. Outra coisa que eu adoro no trabalho da Shae-Lynn é
que todos os programas dela são muito diferentes. Ela consegue sempre trazer
alguma coisa nova. Se seguires o trabalho de alguns coreógrafos, tu podes
encontrar os mesmos passos e figuras que são repetidos noutros programas. A
Shae-Lynn tem trazido coisas novas. Coisas diferentes dos outros.
Pergunta: A
Tarasova disse uma vez que não faz mal manter o mesmo plano de elementos nos
programas; quase todos os patinadores fazem isso.
Elena – Isso
não é interessante. Olha para a Ashley Wagner – os programas dela são tão
diferentes e, além disso, eu penso que a patinagem artística tem sobretudo a
ver com o deslizar e expressar emoções. Claro que os saltos são importantes mas
o público vem primeiramente ver-nos a patinar.
Pergunta: Tu
mudaste de treinadora e de sistema. O que é que sentes sobre isso?
Elena –
Francamente às vezes é difícil. O horário não é assim tão diferente mas há muito
mais trabalho no deslizar e nos programas. Eu aprendo a patinar focada em cada
movimento. Já não há apenas a passagem de um salto para o outro.
Pergunta:
Era o que acontecia anteriormente?
Elena – Era
como se eu estivesse mais focada apenas nos saltos. Agora as entradas exigem
mais tempo e esforço do que o salto. É muito trabalho em cada movimento, em
cada passo.
Pergunta:
Provavelmente seria mais fácil se ainda não tivesses títulos.
Elena – O
que é que queres dizer com isso?
Pergunta:
Que alguém com experiência e com títulos tem mais dificuldade em admitir que
não sabe alguma coisa ou demonstrar que não consegue fazer alguma coisa…
Elena – Pelo
contrário. Eu vim aqui para aprender então eu escuto cada palavra. Há muitos
especialistas que trabalham comigo e eu aprendo com cada um deles. É óptimo!
Pergunta: Os
teus parentes tentaram fazer-te mudar de ideias quanto à mudança de treinadora?
Elena – Não.
Pergunta:
Seguramente que discutiste o assunto com alguém.
Elena – Os
meus pais sabiam que eu tinha essa ideia em mente. Eu e a minha mãe somos muito
próximas; ela sempre teve uma grande presença na minha vida e ela sabia dos
meus problemas e hesitações. Então, quando eu disse em casa que tinha tomado
uma decisão, os meus parentes aceitaram-na. Isto ainda é um assunto difícil. Eu
sou grata à Nina Germanovna por tudo o que ela fez por mim mas às vezes
chega-se a um ponto sem retorno. Já não há o entendimento que costumava
existir, algo já não funciona, o trabalho já não é satisfatório, já não há
alegria e tudo o que parecia tão certo na tua vida se desvanece. Eu percebi o
quanto eu devo à minha treinadora, o tempo que ela investiu em mim com o seu
conhecimento, o seu amor e a sua alma. Mas o sentimento de ponto sem retorno
prevaleceu.
Pergunta:
Ficaste preocupada com o que iria ser dito sobre a mudança?
Elena – Na
patinagem artística percebes muito cedo que existem pessoas que simplesmente
gostam de ti e outras pessoas a quem tu irritas. Claro que eu sabia que as
pessoas me iam julgar e estava preparada. Afinal de contas todos temos direito
a ter uma opinião.
Pergunta: Tu
já te tinhas ajustado com treinares apenas junto de patinadores homens. Quão
confortável é que estás com a garota? A Maria Sotskova treina contigo na mesma
pista.
Elena – Nós
raramente passamos tempo juntas no gelo. Até agora tem corrido tudo bem.
Pergunta: A
Maria irrita-te?
Elena – Não
de todo. Eu simplesmente não tenho tempo para olhar à volta. Tenho tanta
informação para digerir. Como se eu agora precisasse de lutar pela atenção da
treinadora… Eu tenho um plano sobre o que necessito fazer e isso é o mais
importante.
Pergunta:
Estás a planear tornar os programas mais complexos?
Elena –
Vamos apenas dizer que tenho coisas a discutir com a treinadora. Para já
estamos a tratar de pequenas correcções. O grau de dificuldade actual é
suficiente para mim.
Pergunta: As
palavras “temporada olímpica” têm um significado especial para ti?
Elena –
Francamente não. Eu não quero pensar sobre isso com muita antecedência. Eu
tenho de trabalhar. Depois logo se vê.
Pergunta: Se
tivesses a possibilidade de escolher as tuas provas do circuito do Grande
Prémio, quais é que escolherias?
Elena –
Russia e China – precisamente os que eu recebi. Eu patinei o grande prémio da
China nas duas últimas temporadas e sou amada lá; É o país onde eu venci a
minha primeira medalha num mundial e adoro patinar lá. E casa é casa. Eu adoro
patinar para o público russo. O timing também é excelente: a Taça Rostelecom (Rússia) é a primeira e a Taça da China é
a terceira, e, se tudo correr bem, eu terei tempo suficiente para me preparar
para as próximas competições.
Pergunta:
Quando olhei para as inscrições e vi que na primeira prova ias competir com a
campeã mundial Evgenia Medvedeva, eu recordei-me de 2015 quando competiste com
a Tuktamysheva. Tu não cometeste erros na final do Grande Prémio e nos Europeus
mas nessas duas vezes ficaste atrás dela, nos Europeus por uma margem de apenas
0.86. Como é que te sentiste nessa altura?
Elena –
Claro que eu fiquei muito chateada. Mas eu era uma criança que queria mesmo
ganhar só que perdi. Agora eu vejo as coisas de maneira diferente. Foi a minha
primeira temporada sénior, primeiros europeus e mundiais, e eu penso que estive
bem para uma estreante. Sim, podia ter vencido os Europeus e ficado com o
título mas do que é que vale estar a falar nisso agora? Se calhar as coisas
tinham de acontecer assim.
Pergunta:
Alguma vez te cansas da patinagem artística?
Elena – Não.
Eu amo patinar, é a minha vida e como é que te podes cansar da vida? Além disso
eu tenho outras coisas. Como por exemplo os estudos. Eu sou estudante externa.
Pergunta: É
muito exigente e requer auto-disciplina.
Elena – Não
tenho problemas com isso. Quando sei o que tenho de fazer, faço-o. Na escola
era a mesma coisa. Eu estudava entre os treinos, tinha professores privados à
noite e trabalhava nas matérias escolares e em inglês. Foi difícil mas fiz os
meus exames sem problemas. Eu sei que sou eu que preciso disto.
Pergunta:
Quando trabalhas com a Shae-Lynn, vocês falam em inglês?
Elena – Sim.
Inicialmente, eu estava tensa mas depois fiquei mais confortável e comecei a
falar. Eu percebi que tinha de praticar independentemente do que fizesse.
Depois as coisas vão provavelmente funcionar.
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