Skate America 2016
Em Chicago (Estados Unidos)
Análise
A categoria de dança esteve recheada
de motivos de interesse. Em primeiro lugar, os irmãos Maia e Alex Shibutani
foram desde logo apontados como os principais favoritos à vitória,
principalmente depois do excelente resultado que obtiveram nos mundiais 2016.
Aqui também se arrisca no jogo da reputação internacional e os irmãos Shibutani
estão a consolidar-se como a equipa n.º 1 nos Estados Unidos, ultrapassando
Chock & Bates. Havia ainda muita curiosidade em perceber a dinâmica dos
pares russos presentes nesta competição. Elena Ilinykh e Ruslan Zhiganshin
estão a trilhar um novo caminho depois da mudança de equipa de treinadores após
a temporada passada. Ekaterina Bobrova e Dmitri Soloviev estão de regresso à
competição internacional depois de terem passado uma fase turbulenta devido a
lesões e a um período de suspensão aplicado à patinadora que se veio a revelar
injustificado. No meio de isto tudo ainda tivemos a estreia de Elliana
Pogrebinsky e Alex Benoit no circuito sénior do grande prémio e a curiosidade
sobre a evolução dos italianos Guignard & Fabbri, dos israelitas Tobias
& Tkachenko e dos estado-unidenses Hubbell & Donohue.
Em termos de dança curta ocorreu uma
situação curiosa: nenhum par conseguiu realizar uma sequência de passos em que
os patinadores não se tocam que chegasse para cumprir os critérios exigidos
para o nível 4, que é o nível máximo. O par italiano Guignard & Fabbri foi
o que apresentou a sequência de passos em que os patinadores não se tocam com o
grau de dificuldade mais elevado e que chegou para o nível 3. Todos os outros
pares se ficaram pelo nível 2, incluindo os pares com mais prestígio e experiência
internacional. Alguns pares tentaram antes apostar na qualidade de execução em
vez da maior dificuldade dos passos. No entanto, não deixa de ser uma surpresa.
Maia e Alex Shibutani não deixaram os
seus créditos por mãos alheias e venceram a medalha de ouro destacadamente. A
sua vitória começou a ser cimentada com uma excelente nota de 73.04pts na dança
curta. Todos os elementos técnicos beneficiaram excelentes graus de execução
positivos, com uma maioria de +3. Os twizzles (8.31pts) e os passos obrigatórios
(6.20pts) alcançaram o nível 4. A figura de elevação foi de nível 3 e recebeu
5.63pts. A sequência de passos em que os patinadores não se tocam (8.27pts) e a
sequência parcial de passos (7.80pts) foram apenas de nível 2. As suas notas
nos segmentos foram excelentes e as suas médias fixaram-se em 9.14 na perícia,
9.00 nas transições, 9.36 na performance, 9.18 na composição e 9.36 na
interpretação da música/timing. Quase todos os juízes lhe atribuíram notas
acima de 9.00 em todos os segmentos. A coreografia da dança curta resultou
muito bem e é das melhores que eu já vi nesta temporada. A combinação de gestos
e movimentos de vários estilos de dança que à partida são muito diferentes
resultou harmoniosa e isso deixou uma excelente impressão.
Na dança livre, os irmãos Shibutani
obtiveram uma excelente nota de 112.71pts. Se na dança curta a coreografia deu
nas vistas, na livre achei que eles se limitaram a juntar coisas que já fizeram
em temporadas anteriores. Gostei muito mais da coreografia e da música da
temporada passada. Talvez não fosse má ideia deixar este par trabalhar
novamente com o coreógrafo Peter Tchernyshev. Dito isto a prestação deles não
deixou de ser boa à mesma. Os twizzles foram o grande elemento de destaque.
Tecnicamente, eles foram buscar muitos pontos graças aos graus de execução
positivos acumulados em todos os elementos. A sua nota técnica de partida foi
de 41.30pts e foi melhorada para 56.95pts! Eles conseguiram +2 e +3 em todos os
elementos e por parte de todos os juízes. As duas sequências de passos foram
classificadas com o nível 3 e totalizaram 18.60pts. O peão (7.31pts) e os
twizzles (8.40pts) foram ambos de nível 4. As figuras de elevação também
conseguiram todas o nível 4 e conseguiram um total de 18.04pts. Os elementos coreográficos
foram deixados para o fim e os eleitos foram uma elevação (2.10pts) e um
twizzle (2.50pts). As suas médias nos segmentos que fazem parte da segunda nota
foram de 9.29 na perícia, 9.11 nas transições, 9.43 na performance, 9.32 na
composição e 9.32 na interpretação da música/timing.
Madison Hubbell & Zachary Donohue
levaram a medalha de prata para casa por uma unha negra. Sinceramente
pareceu-me que eles beneficiaram de estar a patinar em casa pois alguns juízes
inflacionaram-lhe as notas em alguns segmentos dos componentes.
Hubbell & Donohue obtiveram uma
pontuação de 68.78pts na dança curta, onde foram terceiros classificados. A
sequência de passos obrigatórios (6.11pts), os twizzles (7.71pts) e a figura de
elevação (5.70pts) alcançaram o nível 4. A sequência parcial de passos foi de
nível 3 e recebeu 8.51pts. A sequência de passos em que os patinadores não se
tocam ficou com o nível 2 e pontuou 7.49pts. As suas médias nos segmentos dos
componentes foram fixadas em 8.29 na perícia, 8.11 nas transições, 8.39 na
performance, 8.36 na composição e 8.43 na interpretação da música/timing. Não
concordo de todo com o juiz que lhes atribuiu 9.00 no segmento de perícia e
muito menos com o 9.25 na interpretação da música/timing. Aliás, a amálgama de
músicas usadas na dança curta prejudicou a percepção do timing. Acho que o juiz
que lhes atribuiu 7.75 na interpretação da música/timing esteve mais certeiro.
Na dança livre, Hubbell & Donohue
conseguiram uma nota de 106.99pts. Todos os elementos técnicos obtiveram grau
de execução positivo. As duas sequências de passos foram classificadas com o
nível 3 e receberam um total de 18.29pts. As figuras de elevação (total de
17.35pts), os twizzles (7.97pts) e o peão (6.89pts) preencheram os critérios
exigidos para o nível 4. O twizzle coreográfico (1.90pts) e a figura de
elevação coreográfica (2.10pts) foram os dois últimos elementos do esquema. Nos
segmentos dos componentes as suas médias foram de 8.64 na perícia, 8.50 nas
transições, 8.89 na performance, 8.82 na composição e 8.89 na interpretação da
música/timing. Cinco juízes marcaram notas na casa dos oito pontos enquanto
quatro juízes atribuíram-lhe notas de 9.00 ou mais em cada segmento. Lamento
mas do que conheço do código de pontos não me parece que o demonstrado por
Hubbell & Donohue neste programa merecesse uma nota de 9.25 na perícia.
Ekaterina Bobrova & Dmitry
Soloviev ficaram com a medalha de bronze com menos um ponto do que Hubbell
& Donohue. Acho que eles podem ficar contentes com este resultado e já é um
bom incentivo para competições futuras depois do tempo de paragem forçada que
os afectou.
A dança curta de Bobrova &
Soloviev ficou com uma nota de 68.92pts. Os twizzles (7.97pts) e a figura de
elevação (5.70pts) foram os únicos elementos que alcançaram o nível 4. A
sequência de passos obrigatórios (5.00pts), a sequência parcial de passos
(7.01pts) e a sequência de passos em que os patinadores não se tocam (7.64pts)
ficaram-se pelo nível 2. Todos os elementos técnicos beneficiaram de grau de
execução positivo. No que toca à segunda nota, as suas médias nos segmentos
foram de 8.86 na perícia, 8.64 nas transições, 9.00 na performance, 9.00 na
composição e 9.00 na interpretação da música/timing.
Na dança livre, Bobrova &
Soloviev obtiveram uma pontuação de 105.85pts. O elemento determinante neste
programa e que influenciou o resultado final foi a figura de elevação em curva
pois ultrapassou o tempo limite permitido pelas regras e por isso teve de ser
aplicada uma dedução automática de um ponto. Essa figura de elevação recebeu
grau de execução positivo mas na minha opinião o elemento devido ter sido
marcado com 0 ou -1. Apenas um juiz marcou -1. A maioria dos juízes marcou o
elemento com +2 no grau de execução. As três figuras de elevação cumpriram os
critérios exigidos para o nível 4 e receberam um total de 17.78pts. Os twizzles
(7.80pts) e o peão (6.71pts) também foram de nível 4. A sequência de passos em
círculo (9.14pts) foi de nível 3 mas a sequência de passos na diagonal
(7.49pts) foi de nível 2. Os elementos coreográficos foram um peão (2.00pts) e
uma figura de elevação (2.10pts) e foram realizados mesmo no final do esquema.
Nos segmentos dos componentes obtiveram médias de 9.04 na perícia, 8.71 nas
transições, 9.04 na performance, 8.96 na composição e 9.11 na interpretação da
música/timing.
Os italianos Charlene Guignard &
Marco Fabbri conseguiram um bom resultado e têm-se mostrado mais confiantes e
mais consistentes nas suas prestações internacionais. Tem sido um caminho
percorrido com paciência mas tem dado bons frutos.
Na dança curta, Guignard & Fabbri
foram quintos classificados com uma nota de 64.79pts. Como eu já referi no
início da análise, este foi o único par que conseguiu realizar uma sequência de
passos em que os patinadores não se tocam (5.00pts) que chegou ao nível 3. No
entanto a sua sequência parcial de passos (4.87pts) foi meramente de nível 1, o
que lhes prejudicou o valor base do elemento. Os passos obrigatórios chegaram
para o nível 3 e receberam 5.00pts. Os twizzles (7.80pts) e a figura de
elevação (5.44pts) alcançaram o nível 4. Nos segmentos dos componentes as notas
que lhe foram atribuídas permitiram-lhes ficar com médias de 8.07 na perícia,
7.93 nas transições, 8.25 na performance, 8.18 na composição e 8.25 na
interpretação da música/timing.
Guignard & Fabbri surpreenderam
na dança livre ao ficarem à frente dos russos Ilinykh & Zhiganshin. A nota
dos italianos nesta fase da prova foi de 100.65pts. Os elementos técnicos
beneficiaram todos de grau de execução positivo. As duas sequências de passos
foram de nível 3 e o seu total de pontos nestes elementos foi de 17.34pts. Os
twizzles (7.71pts), o peão (6.80pts) e as figuras de elevação (total de
16.33pts) conseguiram alcançar o nível 4. Uma figura de elevação (1.90pts) e um
twizzle (1.40pts) foram os elementos escolhidos como coreográficos e foram
realizados no fim do esquema. As suas médias nos segmentos dos componentes
foram de 8.18 na perícia, 7.93 nas transições, 8.36 na performance, 8.21 na
composição e 8.29 na interpretação da música/timing.
Elena Ilinykh & Ruslan Zhiganshin
prometeram muito na sua primeira temporada juntos e pareciam que estavam cheios
de fogo para provar a sua qualidade. No entanto, as coisas parece que
estagnaram. Depois da mudança para o grupo liderado pelo treinador Igor
Shpilband esperava-se muito deste par. Talvez seja necessário ter paciência e
ver a sua evolução no decorrer da temporada mas pelo que foi visto nesta prova
eles ainda estão muitos furos abaixo de Bobrova & Soloviev e também de
Stepanova & Bukin (que esta época já venceram o Troféu Finlândia). Relembro
que a Rússia apenas tem dois lugares disponíveis na selecção nacional para os
próximos mundiais. Portanto, Ilinykh e Zhiganshin vão ter de lutar.
Na dança curta, Ilinykh &
Zhiganshin obtiveram uma pontuação de 66.60pts. A sequência parcial de passos
(7.33pts) e a sequência de passos em que os patinadores não se tocam (7.17pts)
foram apenas de nível 2. Os passos obrigatórios (5.86pts), os twizzles
(7.46pts) e a figura de elevação (5.70pts) alcançaram o nível 4. O painel de
juízes foi muito coerente na atribuição de notas a este par no que diz respeito
aos segmentos dos componentes. As suas médias foram as seguintes: 8.25 na
perícia, 7.96 nas transições, 8.43 na performance, 8.32 na composição e 8.39 na
interpretação da música/timing. Este par foi quarto classificado na dança
curta.
Na dança livre, a pontuação obtida
por Ilinykh & Zhiganshin foi de 98.56pts. Em termos de plano de inclusão de
elementos no programa, gostei de ver que eles encaixaram verdadeiramente os
elementos coreográficos na coreografia sem deixar os dois apenas para o fim
como fez a maioria dos outros pares. Em termos de sequências de passos, a
primeira foi de nível 3 e recebeu 9.14pts. A segunda sequência de passos foi de
nível 2 e ficou com 6.54pts. As figuras de elevação (15.98pts), os twizzles
(7.63pts) e o peão (6.03pts) alcançaram o nível 4. O twizzle coreográfico foi o
quinto elemento do esquema e recebeu 1.60pts. A figura de elevação coreográfica
foi o nono elemento e ficou com 1.80pts. Todos os elementos receberam grau de
execução positivo mas não em valores tão altos como os pares acima referidos.
Talvez quando o seu estado de forma esteja melhor a qualidade de programa e da
coreografia possam ser realçados. Em sede de segmentos dos componentes as suas
médias foram as seguintes: 8.36 na perícia, 8.00 nas transições, 8.39 na
performance, 8.39 na performance e 8.39 na interpretação da música/timing.
O meu destaque final vai para o par
coreano Min & Gamelin pois utilizaram música na sua dança livre que foi
cantada pela portuguesa Dulce Pontes.
Vídeos
Shibutani & Shibutani
Dança curta
Dança livre
Hubbell & Donohue
Dança curta
Dança livre
Bobrova & Soloviev
Dança curta
Dança livre
Guignard & Fabbri
Dança curta
Dança livre
Ilinykh & Zhiganshin
Dança curta
Dança livre
Tobias & Tkachenko
Dança curta
Dança livre
Pogrebinsky & Benoit
Dança curta
Dança livre
Muramoto & Reed
Dança curta
Dança livre
Shibutani & Shibutani
Dança curta
Dança livre
Hubbell & Donohue
Dança curta
Dança livre
Bobrova & Soloviev
Dança curta
Dança livre
Guignard & Fabbri
Dança curta
Dança livre
Ilinykh & Zhiganshin
Dança curta
Dança livre
Tobias & Tkachenko
Dança curta
Dança livre
Pogrebinsky & Benoit
Dança curta
Dança livre
Muramoto & Reed
Dança curta
Dança livre
Agafonova & Ucar
Dança curta
Dança livre
Min & Gamelin
Dança curta
Dança livre
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