Skate Canada 2016
Em Mississauga (Canadá)
Entre os dias 28 e 29 de Outubro
Análise
A competição de senhoras ficou
marcada pela presença de várias patinadoras consagradas e foi de muito bom
nível.
A russa Evgenia Medvedeva, campeã
mundial 2016, demonstrou que se mantém em alta. Evgenia teve uma estreia
retumbante no escalão sénior durante a temporada passada e ganhou os principais
títulos em disputa de forma categórica. Houve quem levantasse dúvidas sobre a
capacidade de Evgenia em lidar com o todo o sucesso que ela teve, achando que ela
seria incapaz de repetir o mesmo calibre de programas. Evgenia provou que tem
continuado a trabalhar com afinco e apresentou-se no Skate Canada numa forma
física acima da média para a fase da época em que nos encontramos. Esta
temporada, ela já participou no Open do Japão mas esta foi a grande estreia em
termos de competições mais relevantes.
Evgenia começou a sua participação em
grande com um recorde pessoal no programa curto onde obteve a nota de 76.24pts.
E o programa que ela patinou valeu bem todos os pontinhos que recebeu. O
esquema foi desenhado de modo a que todos os saltos fossem realizados na
segunda metade do programa de modo a beneficiar de pontuação bónus no valor
base. E foi precisamente isso que ela fez. A combinação de triplo flip-triplo toe
recebeu 11.96pts, o triplo loop ficou com 6.61pts e o duplo axel pontuou
4.56pts. Os peões foram todos classificados com o nível máximo que é o 4 e
totalizaram 12.69pts. A sequência de passos também foi de nível 4 e ficou com
5.40pts. Nos segmentos dos componentes que fazem parte da segunda nota, Evgenia
ficou com médias de 8.68 na perícia, 8.43 nas transições, 8.96 na performance,
8.71 na composição e 9.00 na interpretação da música. Na minha opinião, a
coreografia deste programa é lindíssima e Evgenia interpretou-a lindamente.
Quase de certeza que este programa entrará na lista dos melhores momentos da
temporada.
O programa livre de Evgenia recebeu
144.41pts. O esquema foi iniciado com uma combinação de triplo flip-triplo toe
loop (11.20pts), a que se seguiu um triplo lutz (6.60pts). O lutz levou uma
advertência devido ao facto da definição de entrada não ter sido clara. O
terceiro elemento foi o peão flying camel (4.50pts) e depois foi a vez da
sequência de passos (5.40pts). Quando a sequência de passos terminou, já tinha
sido ultrapassada a marca de tempo para a segunda metade do programa. Evgenia
fez um triplo loop (6.81pts), um triplo flip (7.33pts), uma combinação de duplo
axel-duplo toe loop-duplo toe loop (7.06pts), uma combinação de triplo salchow-triplo
toe loop (9.97pts) e um duplo axel (2.03pts). Nestes últimos elementos de
saltos ela oscilou um pouco na recepção. O duplo axel foi mesmo o único
elemento do esquema a ser penalizado em sede de grau de execução até porque
faltou cerca de ¼ de volta para ser efectivamente completado. O décimo elemento
foi a sequência coreográfica que lhe permitiu amealhar mais 3.40pts para a nota
técnica. O peão de combinação (4.43pts) e o peão layback (4.13pts) encerraram o
programa. As suas médias nos segmentos dos componentes que fazem parte da
segunda nota foram as seguintes: 8.86 na perícia, 8.71 nas transições, 9.04 na
performance, 9.04 na composição e 9.07 na interpretação da música.
Os dois programas de Evgenia foram
coreografados por Ilya Averbukh (campeão mundial de dança em 2002 e
vice-campeão olímpico no mesmo ano). Ilya foi também o criador do programa
livre que Evgenia apresentou durante toda a temporada passada bem como do
famosíssimo programa livre que Julia Lipnitskaya patinou durante a temporada 2013/2014.
Ele é um excelente coreógrafo e sabe trabalhar com patinadoras mais jovens. Há
uma certa sensibilidade que ele consegue transmitir nos programas que cria para
estas jovens atletas. Só que desta vez Ilya conseguiu irritar muitos fãs dos
Estados Unidos. É que o programa livre de Evgenia tem como base uma homenagem
às vítimas do atentado ocorrido em 11/09/2001. Isso é um tópico sensível para
os estado-unidenses e as críticas não se fizeram esperar em vários fóruns.
Coisas desde “ela não tem idade para patinar isto” como “ela não é americana e
isto é uma afronta” fizeram parte de vários comentários. Claro que, na
sequência, Ilya foi acusado de insensibilidade quanto a esta matéria. Eu
pergunto o porquê desta indignação. Ainda na temporada passada o par italiano
Guignard & Fabbri patinou uma dança livre sobre o holocausto. E quanto à
idade? Por essa ordem de ideias ninguém podia inspirar-se num tema histórico
porque não viveu nessa época... Na minha opinião o programa é bom, está bem
construído e tem tudo para ser um sucesso.
A canadiana Kaetlyn Osmond passou um
mau bocado devido a uma lesão que lhe provocou uma paragem prolongada. Depois
de um excelente resultado no Troféu Finlândia em que ficou à frente de Mao
Asada e de Anna Pogorilaya, Kaetlyn ficou com a medalha de prata no Skate
Canada. É caso para dizer que está a ter uma excelente fase inicial de
temporada.
Kaetlyn brilhou no programa curto e
recebeu uma nota de 74.33pts. Todos os elementos técnicos beneficiaram de grau
de execução positivo. Ela entrou a matar com uma combinação de triplo
flip-triplo toe loop (11.20pts), a que se seguiu um triplo lutz (7.30pts). O
terceiro elemento foi um peão flying camel (4.06pts). O duplo axel foi colocado
na segunda metade do programa e pontuou 4.70pts. Seguiram-se o peão layback
(3.77pts), a sequência de passos (5.40pts) e o peão de combinação (4.50pts).
Todos os peões e a sequência de passos foram classificados com o nível 4. Na
segunda nota, as médias obtidas por esta patinadora nos segmentos dos
componentes foram de 8.18 na perícia, 8.07 nas transições, 8.68 na performance,
8.29 na composição e 8.54 na interpretação da música. A coreografia do programa
curto é muito gira e Kaetlyn consegue interpretá-la com muito estilo. A jovem
canadiana tem uma presença forte em pista e é muito carismática. Penso que este
programa serve quase como um cartão de apresentação da sua carreira pois
demonstra bem todas as qualidades de Kaetlyn.
O programa livre não teve o mesmo
impacto que o curto. Kaetlyn cometeu alguns erros e ficou com uma pontuação de
132.12pts. O erro mais grave ocorreu no triplo loop pois a terceira rotação foi
incompleta e a patinadora caiu na recepção. Todos os juízes marcaram -3 no grau
de execução desse elemento. O triplo loop terminou com 1.86pts. Na prática, ela
ficou meramente com 0.86pts pois foi-lhe ainda aplicada uma dedução automática
de um ponto devido à queda. O triplo lutz perdeu 0.20pt em sede de grau de
execução e ficou com 5.80pts. A definição de entrada desse salto não foi feita
com precisão e clareza pelo que isso prejudicou a avaliação do salto. A
combinação de duplo axel-duplo toe loop (4.31pts) também foi punida com grau de
execução negativo. Os restantes elementos conseguiram grau de execução
positivo. A combinação de triplo flip-triplo toe loop foi o elemento mais
valioso ao receber 11.20pts. O triplo flip isolado ficou com 6.93pts. A
combinação de triplo salchow-duplo toe loop-duplo loop recebeu 9.15pts e o
duplo axel isolado pontuou 4.49pts. Os peões alcançaram todos o nível 4 e
totalizaram 12.63pts. A sequência de passos atingiu o nível 4 e obteve 5.50pts.
Na sequência coreográfica foram-lhe atribuídos 3.50pts. As suas médias nos
segmentos dos componentes foram fixadas em 8.39 na perícia, 8.32 nas
transições, 8.46 na performance, 8.54 na composição e 8.64 na interpretação da
música.
A medalha de prata conquistada por
Kaetlyn Osmond gerou alguma polémica em alguns fóruns pois vários fãs acharam
que a japonesa Satoko Miyahara foi prejudicada pelo ajuizamento.
Realmente houve uma coisa
surpreendente no ajuizamento do programa livre de Satoko Miyahara. É que a
sequência de passos foi completamente invalidada. Por esse motivo, ela não pôde
receber qualquer ponto nesse elemento. E por que é que essa sequência de passos
foi invalidada? Boa pergunta… A única explicação que eu considero possível é
que o painel técnico deve ter entendido que Satoko não cumpriu o critério de
ter estendido a sequência de passos por toda a pista. No entanto isso podia ter
sido avaliado em sede de grau de execução. Quando vi o programa pela primeira
vez não me apercebi de qualquer problema grave com esse elemento que
justificasse essa circunstância. Isso implicou que ela perdesse cerca de
5.00/5.50 pontos. Mas essa não foi a única coisa que afectou o seu resultado.
Foram três os elementos de salto punidos com grau de execução negativo no
programa livre. O triplo flip isolado (4.80pts) perdeu pontos devido ao facto
da definição de entrada não ter sido clara. A combinação de triplo lutz-duplo
toe loop-duplo loop (6.68pts) foi penalizada com grau de execução negativo pois
a última rotação do lutz e a segunda rotação do loop não foram efectivamente
completadas. O triplo salchow (2.81pts) perdeu 0.60 do valor base porque a
terceira rotação não foi realmente efectuada. No que diz respeito à combinação
de duplo axel-triplo toe loop, esta foi apresentada na segunda metade do
esquema e ficou meramente com o valor base de 8.36pts. Os restantes saltos
beneficiaram de grau de execução positivo e foram um triplo loop (6.00pts), uma
combinação de triplo lutz-triplo toe loop (11.20pts) e um duplo axel (3.84pts).
O peão layback foi um dos momentos altos do programa e recebeu sete marcações
de +3 na escala do grau de execução. Os peões foram todos classificados com o
nível 4 e totalizaram 12.33pts. A sequência coreográfica rendeu-lhe 3.40pts. As
suas médias nos segmentos dos componentes foram consistentes e fixaram-se em
8.46 na perícia, 8.21 nas transições, 8.39 na performance, 8.46 na composição e
8.61 na interpretação da música. Destaque para o juiz n.º 8 que marcou a nota
de 9.25 na interpretação da música e não me pareceu nada exagerado tendo em
conta a magnifica prestação artística no trabalho do tema.
No programa curto, a Satoko ficou em
quinto lugar com uma pontuação de 65.24pts. A sua nota não foi melhor devido ao
facto de dois elementos de salto terem sido punidos com grau de execução
negativo. Foi o que ocorreu na combinação de triplo lutz-triplo toe loop
(9.30pts) e no triplo flip (2.22pts). Na combinação, a terceira rotação do toe
loop não foi efectivamente completada. A definição de entrada no triplo flip
foi feita com a lâmina posicionada de forma claramente errada para além de ter
faltado cerca de ¼ de volta para que a terceira rotação fosse completa. O único
salto que não teve problemas foi o duplo axel inicial que pontuou 4.01pts. O
peão layback voltou a estar em destaque e fez o pleno em sede de grau de
execução com o +3 a ser marcado por todos os juízes. Os peões totalizaram
12.26pts e atingiram todos o nível 4. A sequência de passos foi classificada
com o nível 3 e recebeu 4.30pts. Nos segmentos dos componentes que fazem parte
da nota de apresentação, as médias apuradas foram de 8.32 na perícia, 8.07 nas
transições, 8.29 na performance, 8.32 na composição e 8.43 na interpretação da
música.
Elizaveta Tuktamysheva, campeã
mundial em 2015, teve de contentar-se com o quarto lugar. Elizaveta apareceu
nesta competição com uma abordagem conservadora e nem sequer esboçou a
tentativa de arriscar o triplo axel, como fez em provas passadas. Depois de dar
uma espreitadela pelos fóruns em língua inglesa, verifiquei que a maior parte
dos fãs que se manifestaram não se mostraram convencidos com a escolha de
programas feita por este atleta. Na minha opinião faltou um pouco de chama do
ponto de vista artístico e em termos técnicos era necessário ir buscar mais
pontos nos graus de execução.
Elizaveta foi terceira classificada
no programa curto com uma nota de 66.79pts. Ela começou o programa com uma
combinação de triplo toe loop-triplo toe loop (10.00pts). O triplo lutz
(6.90pts) e o duplo axel (4.56pts) foram realizados na segunda metade do
esquema para beneficiarem de bónus no valor base. A sequência de passos foi
classificada com o nível 3 e pontuou 4.01pts. Os peões atingiram todos o nível
4 e garantiram-lhe 10.62pts. As médias nos segmentos dos componentes que
compõem a segunda nota fixaram-se em 7.82 na perícia, 7.36 nas transições, 7.79
na performance, 7.57 na composição e 7.82 na interpretação da música. Apesar
das médias parecerem razoáveis, Elizaveta não convenceu todos os juízes. Dois
juízes marcaram-lhe apenas 6.75 no segmento da composição e 6.50 nas
transições. Estes são sinais de alerta para melhorar.
No programa livre, Elizaveta desceu
para o quinto lugar com uma nota de 121.20pts. Era suposto que esta patinadora
tivesse iniciado o esquema com uma combinação de triplo toe loop-triplo toe
loop mas apenas realizou um triplo toe loop (4.00pts) que acabou punido com
grau de execução negativo. O décimo elemento deveria ter sido um duplo axel mas
ela apenas realizou um axel simples que terminou meramente com o valor base de
1.21pts. Os outros saltos efectuados foram uma combinação de triplo lutz-duplo
toe loop-duplo loop (10.00pts), combinação de triplo flip-duplo toe loop
(6.80pts), triplo loop (6.00pts), triplo lutz (7.70pts) e sequência de triplo
salchow-duplo axel (7.88pts). O peão flying sit e o peão de combinação
cumpriram os critérios para a classificação de nível 4 mas o peão layback foi
de nível 3. A pontuação total dos peões foi de 10.05pts. A sequência de passos
foi de nível 3 e obteve 3.94pts. A sequência coreográfica permitiu-lhe amealhar
mais 2.60pts. Nos segmentos dos componentes as médias apuradas foram de 7.89 na
perícia, 7.32 nas transições, 7.54 na performance, 7.68 na composição e 7.71 na
interpretação da música. No segmento de transições ela teve notas entre 6.00 e
8.00, sendo que não me parece que o que ela apresentou aqui tivesse chegado
para a marca de 8.00. No segmento de composição ela teve notas balizadas entre
6.75 e 8.50. Estas discrepâncias são significativas e Elizaveta tem mesmo de
fazer algo em relação à construção dos seus programas pois a sua prestação
neste grande prémio apenas dá a sensação de que ela regrediu.
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