GP Troféu Skate America 2016
Em Chicago (Estados Unidos)
Nos dias 21 e 22 de Outubro de 2016
Análise
Ashley Wagner, vice-campeã mundial
2016, era uma das principais favoritas à conquista de uma medalha neste
primeiro grande prémio da temporada 2016/2017. Wagner não deixou os seus
créditos em mãos alheias e arrecadou a medalha de ouro. O troféu Skate America
é encarado como sendo super importante para as patinadoras estado-unidenses
visto que a categoria de senhoras é a que mais atenções atrai nos Estados
Unidos. É uma prova que tem destaque na imprensa nacional e que pode chamar a
atenção do público e de patrocinadores. Também é uma prova em que se começam a
marcar posições para os campeonatos nacionais e por isso é importante conseguir
um bom resultado para ganhar algum favoritismo e confiança do ponto de vista
psicológico. No actual panorama da patinagem feminina dos Estados Unidos
fala-se da rivalidade entre Ashley Wagner e Gracie Gold. Neste grande prémio
Ashley Wagner já leva um bom avanço face à sua rival.
Ashley Wagner conquistou o público no
programa curto ao patinar ao som de um arranjo da popular música “Sweet Dreams
(Are made of these)” de Annie Lennox. A música e a coreografia assentam-lhe que
nem uma luva ao seu estilo. E se há coisa que Ashley sabe fazer é apresentar
bem uma coreografia. O programa recebeu uma excelente nota de 69.50pts. Os
peões conseguiram um total de 10.50pts e foram todos classificados com o nível
3. A sequência de passos obteve 4.51pts e também foi de nível 3. Em termos de
saltos, a combinação de triplo flip-triplo toe loop foi o elemento inicial do
programa e ficou com o valor base de 8.30pts. A maior parte dos juízes foi
condescendente com ela neste elemento pois o triplo toe loop foi claramente
incompleto, ou seja, faltou um pouco para que a terceira rotação fosse
efectivamente completa. No entanto, apenas dois juízes aplicaram -1 na escala
do grau de execução. O triplo loop (6.91pts) e o duplo axel (4.56pts) foram
realizados na segunda metade do esquema para beneficiar de pontuação bónus no
valor base. As suas médias nos segmentos dos componentes que compõem a segunda
nota foram muito boas: 8.68 na perícia, 8.32 nas transições, 8.82 na
performance, 8.71 na composição e 8.86 na interpretação da música.
Ashley Wagner foi segunda no programa
livre com uma pontuação de 126.94pts. Mais uma vez Ashley conseguiu cativar o público
com uma boa interpretação. No entanto, em termos técnicos ocorreram algumas
falhas em elementos de saltos. Na combinação de triplo flip-triplo toe loop
(7.90pts), a terceira rotação do toe loop não foi de facto completada e, ao
contrário do que aconteceu no curto, o elemento foi punido com grau de execução
negativo. No triplo flip isolado também faltou rotação pelo que os juízes
tiveram de aplicar grau de execução negativo. Esse elemento ficou com 3.97pts.
A combinação de triplo loop-toe loop simples (5.05pts) perdeu pontos devido a
uma recepção um pouco deficiente no primeiro salto e à segunda parte da
combinação não ter sido feita de acordo com o planeado e essa alteração ter
sido bem perceptível. Essa combinação foi punida com grau de execução negativo.
A combinação de triplo lutz-duplo toe loop (5.15pts) também foi penalizada pois
a definição de entrada do lutz foi claramente incorrecta. Os saltos que
receberam grau de execução positivo foram os dois duplo axel isolados (4.23pts
e 4.01pts respectivamente) e o triplo loop (6.81pts). Na sequência de passos de
nível 3 ela conseguiu amealhar 4.66pts. Sinceramente achei que em comparação
com a de Mao Asada, a da japonesa foi claramente melhor mas ficou exactamente
com os mesmos pontos… A sequência coreográfica rendeu-lhe3.60pts. Nos peões ela
conseguiu 11.50pts, sendo que os primeiro foi de nível 4 e os outros foram de
nível 3. No que diz respeito aos segmentos dos componentes, as suas médias
fixaram-se em 8.71 na perícia, 8.43 nas transições, 8.79 na performance, 8.82
na composição e 9.04 na interpretação da música. Apesar das falhas nos saltos,
Ashley tem uma capacidade enorme em disfarçar erros. Além disso, como ela tem
uma presença forte em pista e exibe auto confiança por todos os poros, é fácil
ter a tendência de nos concentrarmos no lado artístico e descurarmos os erros. Mesmo
assim penso que Ashley foi uma justa vencedora nesta prova.
Mariah Bell foi a grande surpresa
desta competição ao conseguir alcançar a medalha de prata. Ela foi sexta no
programa curto com 60.92pts mas não se deixou abater e venceu o programa livre
com uma nota de 130.67pts.
O programa curto de Mariah Bell teve
dois elementos punidos com grau de execução negativo: a combinação de triplo
lutz-triplo toe loop (8.20pts) e o triplo flip (5.63pts). O principal problema
da combinação foi que no triplo toe loop a terceira rotação não foi de facto
completada pela patinadora. O duplo axel recebeu 3.92pts. Tanto o flip como o
axel foram efectuados na segunda metade do esquema. O peão layback (3.70pts)
foi de nível 4, o peão flying sit (3.03pts) foi de nível 3 e o peão de
combinação (2.93pts) foi de nível 3. A sequência de passos obteve 3.60pts e foi
classificada com o nível 2. Nos segmentos dos componentes, as médias alcançadas
por Mariah Bell foram de 7.25 na perícia, 7.32 nas transições, 7.64 na
performance, 7.50 na composição e 7.68 na interpretação da música.
No programa livre, Bell apenas teve
um elemento punido com grau de execução negativo: foi a combinação de triplo
flip-loop simples-duplo salchow (7.50pts). A definição de entrada no triplo
lutz isolado não foi limpa mas apenas dois juízes marcaram -1 pelo que o
elemento acabou por conseguir grau de execução positivo e pontuar 6.70pts. Os
outros saltos realizados foram a combinação de triplo lutz-triplo toe loop
(11.40pts), triplo loop (5.70pts), combinação de duplo axel-duplo toe loop
(5.10pts), duplo axel isolado (4.34pts) e triplo flip (6.93pts). A sequência de
passos cumpriu os critérios exigidos para o nível 3 e pontuou 4.09pts. Na
sequência coreográfica, ela obteve 3.20pts. Em termos de peões, os três
totalizaram 11.26pts, sendo que o primeiro foi de nível 4, o segundo foi de
nível 3 e o último foi de nível 2. As médias obtidas nos segmentos dos
componentes que compõem a segunda nota foram de 7.93 na perícia, 7.75 nas
transições, 8.32 na performance, 8.07 na composição e 8.21 na interpretação da
música.
A japonesa Mai Mihara pode ficar
contente com o seu resultado no Skate America. A jovem japonesa conquistou a
medalha de bronze logo na sua estreia no circuito do grande prémio sénior.
Mihara foi segunda classificada no
programa curto com uma nota de 65.75pts. Eu fiquei impressionada com a sua
prestação principalmente porque o salto isolado foi o último elemento do
programa. Começa a ser hábito para muitas patinadoras colocar o salto isolado
na segunda metade do esquema para obter um bónus no valor base mas deixá-lo
mesmo para último elemento é uma raridade. Parabéns a Mai Mihara por ter
arriscado. Ela começou por realizar uma combinação de triplo lutz-triplo toe
loop (11.40pts), a que se seguiram o peão flying sit (3.93pts) e o peão de
combinação (4.07pts) ambos de nível 4. Na segunda parte do esquema ela realizou
o duplo axel (4.42pts), o peão layback (3.27pts) de nível 4, a sequência de
passos (3.80pts) de nível 3 e o triplo flip (4.83pts). O triplo flip foi o
único elemento punido com grau de execução negativo. Nos segmentos dos
componentes houve um juiz que não se mostrou impressionado mas esteve isolado
no painel. As suas médias nos segmentos dos componentes foram boas: 7.71 na
perícia, 7.18 nas transições, 7.61 na performance, 7.54 na composição e 7.50 na
interpretação da música.
Mai Mihara foi terceira no programa
livre com uma nota de 123.53pts. Tecnicamente a japonesa foi superior a Ashley
Wagner mas a nota dos componentes fez toda a diferença. Houve apenas um
elemento punido com grau de execução negativo: a combinação de triplo
lutz-triplo toe loop (6.33pts) da segunda metade do esquema. É que a última
rotação do toe loop não foi efectivamente realizada. Curiosamente, Mihara jogou
com as regras e colocou duas combinações de triplo lutz-triplo toe loop. É uma
situação legal mas com esta combinação de saltos é a primeira vez que vejo. Foi
uma decisão interessante da equipa técnica dela pois é um elemento muito
valioso. A primeira combinação de triplo lutz-triplo toe loop no programa livre
correu bem e rendeu-lhe 11.60pts. Os restantes saltos apresentados no livre
foram o triplo flip (6.30pts), o duplo axel (3.87pts), combinação de duplo
axel-duplo toe loop (5.49pts), triplo loop (6.61pts) e duplo salchow (1.46pts).
Estava previsto que Mihara executasse um triplo salchow em vez de duplo mas eu
penso que lhe estavam a faltar um pouco as forças visto que esse foi o último
salto do esquema. Mihara ainda está a adaptar-se ao escalão sénior e nos juniores
os programas livres exigem menos elementos do que aqui. Os peões conquistaram
12.07pts e conseguiram todos o nível 4. A sequência de passos foi classificada
com o nível 3 e obteve 4.01pts. A sequência coreográfica pontuou 3.10pts. As
médias obtidas nos segmentos dos componentes foram de 7.96 na perícia, 7.57 nas
transições, 8.00 na performance, 7.86 na composição e 7.79 na interpretação da
música.
É sempre um gosto ver Mao Asada
patinar. A sua leveza, qualidade base de patinagem, capacidade de interpretação
da música são maravilhosas mas neste evento ela só conseguiu o sexto lugar,
tendo ficado com uma pontuação total que a deixou bem longe do pódio.
Mao Asada conseguiu uma pontuação de
64.47pts no programa curto. O primeiro elemento foi um duplo axel (4.23pts)
logo seguido da combinação de triplo flip-duplo loop (4.90pts). A combinação
foi penalizada em sede de grau de execução pois o a terceira rotação do flip
não foi completada. Faltou-lhe cerca de ¼ de volta. O terceiro elemento foi o
peão flying spin (3.77pts) que cumpriu os critérios necessários para o nível 4.
Depois foi a vez do triplo loop (5.81pts) já na segunda metade do programa.
Seguiram-se o peão layback (3.41pts) e o peão de combinação (4.50pts) ambos de
nível 4. O programa terminou com a sequência de passos de nível 3 que recebeu
4.37pts. Do que vi nesta prova pareceu-me que a sequência de passos foi mais do
que suficiente para o nível 4 e isso teria aumentado o valor base do elemento.
No entanto o controlador técnico achou que a dita sequência só chegou para o
nível 3. Nos segmentos dos componentes ela ficou com médias de 8.43 na perícia,
8.11 nas transições, 8.39 na performance, 8.43 na composição e 8.50 na
interpretação. Apesar das boas médias, houve um juiz que entendeu que o
programa só merecia 7.75 na composição e 7.75 na interpretação. 7.75 para o que
é uma das melhores coreografias vistas nesta temporada até agora e tendo em
conta o que ela apresentou nesta prova parece-me severo.
Mao Asada foi sexta classificada no
programa livre com uma nota de 112.31pts. Três dos elementos de salto foram
punidos com grau de execução negativo: o triplo lutz (3.60pts), o axel simples
(0.81pts) e o triplo salchow (1.31pts). No axel simples era suposto que ela
tivesse tentado uma combinação de duplo axel-duplo toe loop ou de duplo
axel-triplo toe loop. Pareceu-me que ela não conseguiu entrar bem no axel pois
tinha o eixo de rotação desalinhado e por isso não foi capaz de reunir o
impulso suficiente para a rotação no ar. Para evitar uma queda ela teve de
abortar o salto. Pareceu-me também que pode ter havido algum lapso de
concentração em consequência disso pois o erro no triplo salchow ocorreu logo
de seguida. Ela tinha planeado fazer um triplo flip como elemento seguinte ao
triplo salchow mas acabou apenas por efectuar um duplo flip que ficou com o
valor base de 2.09pts. Os saltos que beneficiaram de grau de execução positivo
foram o duplo axel (4.23pts), a combinação de triplo flip-duplo loop (7.90pts)
e triplo loop (6.21pts). Nos peões ela conseguiu amealhar 11.84pts, sendo que
todos alcançaram o nível 4. A sequência de passos obteve 4.66pts e foi de nível
3. Mais uma vez discordo da atribuição do nível. A mim pareceu-me que os
critérios para o nível 4 foram todos preenchidos. A sequência coreográfica
rendeu-lhe 3.70pts. Nos segmentos dos componentes as suas médias fixaram-se em
8.36 na perícia, 7.93 nas transições, 8.14 na performance, 8.43 na composição e
8.36 na interpretação da música.
Gracie Gold ficou desalentada com o
seu resultado nesta competição. Ela queria lutar por um lugar no pódio e acabou
por ficar sem medalha. O seu quinto lugar no Skate America compromete as suas
aspirações de se qualificar para a grande final que se vai realizar em
Dezembro. Além disso, este resultado foi também um rude golpe na sua reputação
pois as atenções da imprensa americana que esteve a cobrir o evento estavam
muito focadas nela. A queda no triplo flip no programa curto e mais duas quedas
no programa livre para além de outros pequenos erros acumulados não deixaram
boa impressão a muita gente. É claro que todos nós sabemos que ela tem muitas
capacidades e talento natural mas acho que é cedo demais para riscá-la da lista
de favoritas. Estamos numa fase em que as patinadoras ainda não estão no seu
pico de forma e até aos campeonatos nacionais ainda muita coisa pode acontecer.
O que mais me surpreendeu foi a atitude cabisbaixa que ela demonstrou no
decorrer da competição e a maneira como demonstrou isso quando falou com a
imprensa. Enfim… todos nós podemos ter dias maus. O que importa é reagir.
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