Olá a todos e bem-vindos à segunda parte das dicas para entender os resultados.
Como alguns de vocês já sabem, o Código de Pontos que rege as competições oficiais de patinagem artística no gelo foi alvo de grandes alterações que estão em vigor desde de 1 de Julho de 2018.
Uma das consequências destas grandes alterações foi apagar todos os recordes de notas mais altas no programa curto, no programa livre e no total combinado. Todos os recordes registados até ao final da temporada 2017/2018 foram arquivados e está em vigor uma listagem completamente nova.
Mas vamos avançar para o foco principal desta publicação: os graus de execução.
(Aproveito para sugerir que leiam a primeira parte das dicas neste link: http://magiageladapatinagememportugues.blogspot.com/2018/08/dicas-para-entender-os-resultados-parte.html)
A escala dos graus de execução é aplicada por cada um dos juízes que fazem parte do painel. Juntamente com o valor base de cada elemento, os graus de execução são essenciais para o apuramento da nota técnica.
A ISU (International Skating Union) estabeleceu diversos critérios para cada grau de execução. Apesar disso os juízes têm alguma margem de liberdade para interpretar os critérios. Como referi na primeira parte das dicas para entender os resultados, a escala dos graus de execução foi ampliada. Esta decisão da ISU tem gerado alguma desconfiança em vários especialistas e treinadores muito reputados como é o caso de Alexei Mishin. Antes das alterações existiram várias queixas sobre discrepâncias na aplicação dos graus de execução por parte de muitos juízes. Com o alargamento da escala teme-se que os casos de discrepâncias aumentem.
No que diz respeito aos saltos na categoria de Senhoras e na de Homens, a ISU formulou seis critérios essenciais para aplicação de grau de execução positivo:
Critério 1 - o atleta tem de conseguir uma elevação muito boa durante o voo do salto e uma extensão muito boa; este critério também se aplica às combinações e sequências de saltos.
Critério 2 - a entrada e a saída do salto têm de ser boas.
Critério 3 - a execução tem de ser feita com desenvoltura; nas combinações e sequências de saltos é essencial que o atleta mantenha o ritmo durante a execução.
Critério 4 - realização de passos antes da entrada no salto; entradas inesperadas e/ou criatividade na preparação das entradas
Critério 5 - posição corporal muito boa desde a entrada até à recepção do salto.
Critério 6 - o salto bem enquadrado com a música.
Mas como é que os juízes devem aplicar os graus +1, +2, +3, +4 e +5?
O método de aplicação dos graus de execução positivos é o seguinte:
Se um dos seis critérios essenciais tiver sido preenchido, o juiz poderá aplicar o grau +1.
No caso do salto preencher dois dos seis critérios, o juiz poderá aplicar o grau +2.
Se o salto cumprir três dos seis critérios essenciais, o juiz poderá aplicar o grau +3.
No que diz respeito ao grau +4 é necessário que o salto cumpra quatro dos critérios, sendo que é obrigatório que os critérios 1, 2 e 3 da lista que enumerei acima estejam preenchidos.
Para que um juiz possa aplicar o grau +5 é preciso que estejam preenchidos todos os critérios. No entanto, um juiz também poderá aplicar o grau +5 caso estejam preenchidos cinco dos seis critérios existentes, sendo que é obrigatório que estejam cumpridas as exigências dos critérios 1, 2 e 3 da lista.
Exemplo para aplicação do grau +4: o atleta realiza um triplo flip; o atleta fez uma boa entrada, o voo durante o salto atingiu uma altura e extensão muito boas e a recepção também foi boa. O salto também foi bem enquadrado num dos assentos da música do programa e foi realizado aparentemente sem esforço. Isto significa que o foram cumpridos os critérios 1, 2, 3 e 6. Neste caso o juiz pode aplicar o grau de execução positivo +4.
Outro exemplo: o atleta realiza um triplo toe loop; o salto foi precedido de passos, a entrada e saída foram boas e a posição corporal do atleta durante o voo foi impecável. Além disso, o salto foi realizado mesmo num assento da música. Isto significa que foram preenchidos quatro dos seis critérios essenciais. Mas isso não significa que o juiz possa aplicar o grau +4 porque faltou preencher os requisitos exigidos pelos critérios 1 e 3.
Depois há o reverso da medalha, ou seja, os graus negativos para a execução: -1, -2, -3, -4 e -5.
Quanto aos graus de execução negativos nos saltos nas categorias de Senhoras e Homens, a ISU consagrou várias directrizes que os juízes têm de respeitar.
Vamos começar pelas directrizes que a ISU estabeleceu para a entrada dos saltos.
A ISU recomenda que os juízes apliquem -2 ou -3 quando o atleta demore muito tempo a preparar a entrada no salto e também nas situações em que a entrada tenha sido ruim.
Para os saltos lutz e flip há recomendações específicas que os juízes devem respeitar quando se verifiquem problemas com a definição de entrada:
a) a definição incorrecta na entrada do lutz ou do flip deve ser punida com o grau -3 ou -4.
b) se o controlador técnico detectar que o atleta não definiu a aresta da lâmina do patim para a entrada do lutz ou do flip de forma clara deverá ser marcado o símbolo "!". Assim que esse símbolo é marcado, o painel de juízes deverá aplicar grau de execução entre -1 e -3.
c) se o controlador técnico não marcar o símbolo "!" por falta de clareza na posição da aresta na definição de entrada do lutz ou do flip mas os juízes tenham detectado essa situação, a ISU estebelece que pode ser aplicado o grau -1.
O momento do voo do atleta durante o salto é um dos aspectos avaliados pelo painel de juízes.
Para os casos em que o atleta execute um salto com pouca velocidade, altura, distância ou que tenha uma má posição durante o voo, a ISU recomenda que seja aplicado entre -1 e -3 no grau de execução.
Nota: a distância é medida desde o momento da entrada no salto até à sua recepção.
Exemplo de má posição durante o voo: eixo de rotação inclinado;
No que diz respeito à rotação de cada salto há regras muito importantes na aplicação do grau de execução. Se faltar 1/4 de volta na última rotação do salto, a ISU recomenda que seja aplicado grau de execução -2 ou -3.
Nas situações em que falte mais de 1/4 de volta para a última rotação poder ser considerada completa, o salto será rebaixado de categoria na determinação do valor base e os juízes deverão aplicar grau de execução -3 ou -4.
Se faltar menos de 1/4 de volta, os juízes podem aplicar entre -1 e -2 no grau de execução.
Nas combinações e sequências de saltos podem ocorrer problemas na realização dos elementos. Por isso a ISU recomenda que caso se perca fluidez entre a execução dos saltos, os juízes apliquem -2 ou -3. O mesmo acontece para as situações em que haja mudanças de direcção entre os saltos e que o atleta perca o ritmo na realização dos mesmos.
Exemplo: o atleta quer realizar uma combinação de triplo flip+triplo toe loop. A recepção no triplo flip é lenta e isso faz com que a entrada no toe loop seja demorada. O atleta perdeu o ritmo entre os dois saltos e os juízes têm de levar isso em consideração.
Nos casos em que os atletas coloquem alguma volta ou voltas entre os saltos da combinação ou sequência, o regulamento dita que os juízes devem aplicar -2 ou -3 no grau de execução. Isto pode ocorrer devido a desequilíbrio na recepção do primeiro salto ou perda de velocidade para conseguir fazer o segundo salto logo de seguida. Alguns atletas usam o truque de colocar duas voltas entre o primeiro e o segundo salto da combinação para ganharem balanço. Atenção que isto não pode ser confundido com o Euler (antigo meio loop) que é um elemento reconhecido com características próprias.
E, claro está, que a ISU também estabeleceu diversas directrizes para a recepção dos saltos.
Quando o atleta faz uma recepção fraca no salto, os juízes deverão aplicar grau de execução entre -1 e -3. Exemplo 1: má posição do corpo porque o atleta ficou muito inclinado para a frente; Exemplo 2: o atleta faz a recepção com a aresta do patim do pé de apoio virada para o lado errado;
Se o atleta tocar com uma mão no gelo durante a recepção do salto, a ISU aconselha os juízes a aplicarem o grau -1 ou -2, consoante a intensidade. Se for um toque ligeiro com a mão pode ser aplicado só o -1. O mesmo conselho é dado para as situações em que os atletas tocam com o pé livre no gelo no momento da recepção.
Nas situações em que os atletas tocam com as duas mãos na pista no momento da recepção de um salto, então deverá ser aplicado -2 ou -3.
Para os casos em que os atletas façam a recepção de um salto claramente nos dois pés, a ISU recomenda que seja aplicado o grau -3 ou -4.
Se a recepção foi desequilibrada ao ponto de parecer que o atleta tem de dar um passo para trás para evitar a queda, os juízes deverão aplicar o grau -3 ou -4.
Se o atleta cair na recepção, os juízes têm de aplicar o grau -5.
No que diz respeito ao programa curto, se o atleta realizar um elemento que incumpra as regras de saltos, os juízes deverão aplicar o grau -5 mesmo que a execução tenha sido boa.
Exemplo: o atleta realiza uma combinação de triplo lutz+triplo toeloop e um triplo lutz isolado. O triplo lutz isolado tem de ser punido com -5 no grau de execução. As regras impõem que o salto isolado seja diferente dos saltos da combinação.
Quando aplicam os graus de execução os juízes devem conjugar todos estes critérios e recomendações.
Por agora é tudo mas assim que tiver tempo vou tentar publicar mais dicas aqui no blogue.
Até à próxima!
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