domingo, 3 de setembro de 2017

Tradução de entrevista de Evgeny Plushenko


Evgeny Plushenko é um nome incontornável da patinagem artística mundial. O russo é detentor de quatro medalhas de olímpicas (incluindo duas de ouro), vários títulos mundiais e europeus. Além disso, ele é um dos principais responsáveis pela evolução técnica na categoria de homens e influenciou vários jovens que hoje dão cartas como é o caso de Yuzuru Hanyu. Actualmente, Evgeny Plushenko abraçou um projecto ambicioso, tendo iniciado uma academia, para continuar a sua carreira como treinador.

Apesar das suas responsabilidades como treinador serem recentes, Plushenko surpreendeu toda a gente ao aceitar orientar Adelina Sotnikova (campeã olímpica em 2014).

Entretanto foi anunciado que Adelina não irá competir na temporada 2017/2018 devido a uma lesão que inicialmente ninguém pensava que fosse tão grande.

Recentemente, Plushenko concedeu uma entrevista ao jornalista russo Anatoly Samokhvalov. O original pode ser consultado neste link: https://rsport.ria.ru/interview/20170901/1125084175.HTML

Evgeny Plushenko nos Jogos Olímpicos de Sochi em 2014 onde ajudou a Rússia a conquistar a medalha de ouro por equipas.


 

Tradução de entrevista

Jornalista: Muitos não acreditam que a lesão seja a verdadeira razão pela qual a Adelina vai perder a temporada. Muitos tendem a acreditar que se trata de outra manobra publicitária.

Evgeny Plushenko – É impossível, nós não andámos à procura de publicidade, (…) nem vamos fazê-lo no futuro. Por agora, a Adelina não faz declarações sobre nada mas pensamos que futuramente poderemos mostrar o veredicto dos médicos sobre a lesão dela. Isso pode ser feito abertamente. A Adelina veio ter comigo e estava pronta para treinar a tempo inteiro. Ela tinha um pouco de peso a mais, começámos a perdê-lo e depois aconteceu a lesão. Nós fomos a um espectáculo no Japão e numa noite ela realizou saltos mas passou o resto dos dias sem saltos. Em Itália ela também patinou sem os saltos. Sabes, muitos também não acreditaram em mim sobre se eu voltaria ou não… Se houve ou não uma cirurgia… Há tantas pessoas más. As pessoas bem-sucedidas não são muito amadas. Há uns dias eu disse à Adelina “Nós temos de provar que estamos no desporto. Ficando saudáveis.” Talvez ela até venha a participar em algumas pequenas competições nesta época.

Jornalista: Esta temporada?

Evegny Plushenko – Depois dos Jogos Olímpicos. Bem, talvez não. Talvez na próxima temporada. E depois vamos prepararmo-nos para as competições principais. Ela disse que está preparada. E deixa-me dizer-te que psicologicamente ela está preparada, ela tem vontade de competir. O principal agora é curar a lesão. Eu disse-te, ela sofreu um diagnóstico errado – primeiro os médicos disseram que foi um esticão no ligamento mas na verdade foi quase uma ruptura. E um pequeno osso partido. Agora estou à espera das radiografias que enviarei para os meus médicos na Alemanha. Para pessoas que eu conheço. Depois disso eu enviarei a Adelina para lá para ser tratada.

Jornalista: Ainda é muito prematuro falar sobre o tempo que isso demorará?

Evgeny Plushenko – Muito prematuro.

Jornalista: Muitos dizem que o que está a acontecer com a Sotnikova é uma cópia do que aconteceu contigo. Primeiro houve uma promessa grandiosa e depois foi adiada. Claro que sem saber a tua situação ao pormenor, eu tendo a pensar que vale apenas continuar como atleta na equipa porque é bom para promover o teu espectáculo.

Evgeny Plushenko – Disparates. Eu não precisei de ficar no desporto por causa disso. Durante a minha carreira, eu fui desqualificado por um ano depois dos Jogos Olímpicos de 2010 porque as minhas relações com a federação eram “assim assim”. Eu voltei depois, retirei-me novamente e regressei outra vez. Se o que tu estás a dizer fosse só para promoção, eu não me tinha preocupado em regressar. Eu teria-me retirado e prometido “Eu volto, eu volto” sem fazê-lo de facto. Mas eu voltei e competi com uma lesão horrível depois da cirurgia. A Adelina, olhando para o meu exemplo, veio até mim e disse “Tu sabes como recuperar e regressar. Eu quero trabalhar contigo.” Eu disse “Ok, sem problemas, tudo bem.” Sim, não resultou este ano, tudo bem, ela é jovem! Ela pode patinar durante o tempo que ela quiser. Quanto a eu manter-me no desporto para promover os meus espectáculos… disparate! Eu passei 30 anos no desporto, só o meu nome é suficiente para a promoção.

Jornalista: Então por que é que não te retiraste de uma vez por todas?

Evgeny Plushenko – Porque eu queria muito participar nos Jogos Olímpicos pela quinta vez. Eu estabeleci um objectivo – atingir um novo recorde, algo que nunca ninguém tivesse feito. Não resultou. Mas foi um sonho! Eu vivi-o, foi uma grande história. Uma super história, surreal. Mas quando eu comecei a treinar o triplo axel, os quádruplos, infelizmente as 15 cirurgias recordaram-me que elas aconteceram. 15! As minhas costas não me permitiram continuar e eu retirei-me. E eu fi-lo sem o drama que alguns fizeram. Sem nenhum espectáculo épico com lágrimas no palco. Alguns choram em público, eu apenas comecei uma nova vida. Abri a escola e trabalho com a minha grande equipa. Os meus espectáculos continuam – 23 datas do “Quebra-Nozes”, 6 datas do “Snow King”; brevemente nós teremos 10 espectáculos na Europa e 42 no Japão.

Jornalista: Nada mal.

Evgeny Plushenko – Está tudo bem.

Jornalista: Quando é que apareceu o momento “É isto. Acabou”?

Evgeny Plushenko – Eu tinha uma rotina de treinos, chegava ao balneário, sentava-me e não era capaz de prosseguir. As minhas costas doíam-me. Eu olhei-me ao espelho e perguntei-me “Para quê? Para que é que eu estou a mentir?” Eu podia continuar e dizer que me ia preparar para os Jogos Olímpicos mas naquele momento eu parei de acreditar nisso. “É isto. Os meus dias como atleta acabaram” e eu comecei a dar treinos.

Adelina Sotnikova


Jornalista: Tu precisavas da Sotnikova para patinadora de topo no teu grupo?

Evgeny Plushenko – Ela veio ter comigo. E não o contrário. Eu não a pedi nem implorei. Ela telefonou-me e disse “Zhenya, eu quero encontrar-me contigo”. Eu disse para ela aparecer na escola. Então ela disse essas palavras.

Jornalista: “Tu sabes como recuperar e regressar. Eu quero trabalhar contigo”?

Evgeny Plushenko – Sim. Mas eu tinha uma condição. Se tu estás preparada para trabalhar a tempo inteiro, então vamos fazer isto. E foi isto.

Jornalista: Tu ficaste surpreendido quando ela te abordou com estas palavras?

Evgeny Plushenko – Não. Ela participou nos meus espectáculos e eu vi o seu estado de espírito. Sabes, mesmo num espectáculo é óbvio quando tens um actor ou um atleta à tua frente. Nessa altura, eu falei com ela sobre os seus planos para o futuro e ela foi severa “Eu vou competir”. Eu disse-lhe “É muito duro. Muitíssimo duro”. Ela insistiu. Eu disse-lhe abertamente “Adelina, o mais importante é que a nossa decisão de ficar de fora nesta temporada não caia em saco roto. Nós temos de ir e competir na próxima época. Nós poderemos fazer pequenas competições. Eu comecei assim. Como em Riga. Depois as principais.” Eu sei como sair da situação em que a Adelina está agora. Mas há tanta conversa negativa à nossa volta.

Jornalista: Especialmente no nosso país.

Evgeny Plushenko – Especialmente. Todos esses “profissionais” que sabem mais do que nós. Na minha escola, eu deixo os pais assistirem aos treinos e deixa-me dizer que eles acham que sabem mais do que os treinadores. Na técnica, na coreografia – em tudo. Os pais sabem mais do que eu. Eles ficam ali e controlam os seus miúdos. Mas nós estamos a tentar mudar isso.

Jornalista: Muitos treinadores não permitem a presença dos pais nos treinos.

Evgeny Plushenko – Eu ainda não sinto que devo fazer isso. Eles que vejam. Por enquanto.

Jornalista: Eu percebi da tua explicação que enquanto trabalhavas com a Adelina num espectáculo, tu estavas a tentar perceber se ela precisa do desporto.

Evgeny Plushenko – Eu estava a tentar entender. O desporto profissional tem uma rotina muito exigente. Tu só treinas e mais nada. Quando a Adelina veio ter comigo, ela compreendeu a necessidade de se focar apenas no desporto.

Jornalista: Tu achas que ser tão requisitada para espectáculos e anúncios comerciais faz com que seja possível que ela volte à pista para ser uma atleta?

Evgeny Plushenko – Qualquer um pode regressar. O mais importante é que o atleta o queira por si próprio.

Jornalista: Ela terá de desistir de alguma coisa?

Evgeny Plushenko – De tudo.

Jornalista: De tudo o que ela tem agora?

Evgeny Plushenko – Claro. Ela não terá o direito de se desviar nem para a esquerda nem para a direita. Se tu és um atleta tens o treino matinal, descanso, treino do dia, descanso, treino nocturno, descanso. É isto. Isto é tudo o que tens.

Jornalista: Esta lesão está a convencê-la a desistir?

Evgeny Plushenko – Eu continuo a ver como ela está determinada.

Jornalista: Eu não consegui entrevistá-la. Quando ela declinou uma entrevista em Dezembro no ano passado, eu não sei porquê mas eu gritei nas costas dela “Vais regressar!” e ela respondeu “Com certeza”.

Evgeny Plushenko – E ela quis mesmo dizer isso. Ela tem um grande estado de espírito. Mas para voltar a ter o nível anterior, ela precisava de um ano de treinos. Um ano e ela voltará a ser competitiva com as miúdas que estão a patinar agora.

Jornalista: Para a Elena Buyanova, a anterior treinadora, a participação da Sotnikova no “Ice Age” foi uma surpresa.

Evgeny Plushenko – Eu penso que elas devem ter tido um mal-entendido porque, claro está, o treinador deve estar a par de tudo o que se passa com o atleta. Se elas tinham um plano então não deveria ter existido a participação no “Ice Age”. Os espectáculos deviam ter sido reduzidos ao mínimo e mesmo assim ela deveria ter patinado os programas curto e livre em vez de números de exibição. Então teria sido benéfico. O “Ice Age” não foi.

Jornalista: Se a Sotnikova for ter contigo e disser “Eu quero participar num programa de televisão”?

Evgeny Plushenko – Eu não irei continuar a treiná-la.

Jornalista: Esta Terça-feira tu estreaste-te como treinador numa competição. A Ksenia Pankova participou na competição júnior de Moscovo. Estás satisfeito?

Evgeny Plushenko – Com os elementos sim mas ela foi vagarosa em algumas ocasiões. Nós temos de dar-lhe mais velocidade. Anteriormente, ela costumava desmanchar muitos saltos; nós trabalhámos nisso e eu estou feliz. Ela efectua um duplo axel+meia volta+triplo flip e duplo axel+triplo toeloop no programa livre. Agora nós estamos a trabalhar no quádruplo salchow e espero que, no próximo ano, ela o faça nas competições. Nesta temporada, nós temos de mostrar que não somos piores do que os outros. Eu estou muito satisfeito com a equipa de treinadores e o David Avdysh trabalhou nos programas.

Jornalista: Tu também treinas o Vladimir Samoilov de 18 anos. Por que é que precisas de um patinador adulto?

Evgeny Plushenko – Olha, nós trabalhamos com que vem ter connosco. O Vladimir tem feito o quádruplo flip e ele tem o quádruplo salchow. Ele integra esses saltos no seu programa livre. Por que razão é que eu não haveria de trabalhar com ele? Sim, ele não é consistente mas ele trabalha comigo apenas há um mês e, no decorrer desse mês, ele aprendeu o quádruplo flip. Eu penso que é um resultado decente.

Jornalista: Alguns demoram tempo a habituarem-se a ser treinadores. Como é que te sentes?

Evgeny Plushenko – Eu apenas comecei e estou a gostar. Deve resultar para mim – é o meu caminho, nada mudou.

Jornalista: De que é que terás de abdicar?

Evgeny Plushenko – De nada.

Jornalista: Como assim? A Adelina terá de abdicar de tudo e tu de nada?

Evgeny Plushenko – Eu passo muito tempo com os meus espectáculos enquanto os treinadores permanecem aqui. Nós temos uma grande equipa e eu estou-lhes grato. Quando eu estou na Rússia, sou eu que dou os treinos, quando não estou, eu vejo os treinos através das câmaras que transmitem para o meu telefone. Depois falo com os atletas no Skype. Aliás, eu levei a Ksenia Pankova para um espectáculo no Cazaquistão e ela patinou e treinou lá. Eu não planeio mudar nada este ano e participarei em todos os espectáculos agendados.

Jornalista: É possível influenciar a preparação de um patinador à distância?

Evgeny Plushenko – Bem, parece funcionar por agora; veremos o que é que o futuro nos reserva.

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